Executivo quer interromper fechamento de escolas rurais
Diretrizes do Governo do Estado para educação do campo preveem reformas nas escolas e capacitação de professores.
15/06/2015 - 21:06 - Atualizado em 16/06/2015 - 11:46A educação rural será mais valorizada no Estado, com investimentos na infraestrutura das escolas e na capacitação de gestores e professores. É o que garantiu a coordenadora de Educação do Campo da Secretaria de Estado de Educação, Sônia Maria Roseno, em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta segunda-feira (15/6/15).
O fechamento de escolas públicas nas zonas rurais tem causado preocupação entre deputados e representantes da sociedade civil. Segundo Roseno, dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam que mais de 32 mil unidades tiveram suas atividades encerradas no País durante a última década. No entanto, segundo a representante da Secretaria de Educação, o Governo de Minas trabalha com a perspectiva de inverter essa realidade, inclusive com a reabertura de escolas já fechadas.
“Estamos em um processo de reestruturação da educação no campo. É mais fácil levar crianças para as zonas urbanas, mas antes precisamos saber se interessa às comunidades o fechamento dessas escolas”, afirmou Sônia Maria Roseno. Ela fez questão de destacar o protagonismo da população rural nesse processo, por meio da articulação dos movimentos sociais e sindicais e do diálogo com a comunidade do campo.
Roseno indicou como metas da Secretaria de Educação, no que se refere à educação campesina, o diagnóstico da situação das escolas indígenas, reformas de infraestrutura que viabilizem a atividade didática nas escolas, parcerias com universidades para capacitação de professores e a publicação das diretrizes operacionais da educação no campo aprovadas no último mês de maio pela pasta.
Juliana de Souza Matias, diretora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), lembrou sua experiência como aluna de uma escola rural para criticar o que ela classifica como descaso com o campo. Segundo Matias, ela percorria a pé um trajeto de três quilômetros diariamente para estudar e, na instituição, ouvia de professores discursos que depreciavam a qualidade de vida no campo para incentivar os alunos a seguirem seus estudos e se mudarem para a cidade. “A luta pela educação no campo é também para que possamos continuar sendo agricultores”, disse.
Assim como Juliana Matias, o secretário-executivo da Associação Mineira das Escolas Famílias Agrícolas, Idalino Firmino dos Santos, fez coro à necessidade de protagonismo do sujeito do campo na elaboração dos planos de educação. Ele também destacou a efetividade das escolas das famílias agrícolas (EFAs) e pediu mais recursos para a manutenção dessas instituições.
Deputados defendem permanência das escolas rurais
Todos os deputados presentes à reunião ressaltaram a importância das escolas do campo para as comunidades e os desafios para a manutenção dessas instituições. Autor do requerimento que deu origem à audiência, o presidente da Comissão de Educação, deputado Paulo Lamac (PT), apontou como causa do fechamento das escolas a condução da educação no Estado levada a cabo pelo governo passado e as dificuldades econômicas enfrentadas pelos municípios. “A educação como mecanismo de fragilização da ligação com o campo é inaceitável”, afirmou o parlamentar.
O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) ponderou que, em um primeiro momento, o transporte de alunos da zona rural para estudar em escolas urbanas pareceu um grande avanço, mas que ficou claro que as crianças devem voltar às suas origens e ocupar escolas que estão ociosas no campo.
O mesmo pensamento tem o deputado Doutor Jean Freire (PT), que lamentou a situação dos meninos que precisam acordar de madrugada para estudar em municípios vizinhos. “Fico triste em ver ônibus com crianças da zona rural chegando nas cidades. As opções têm que ser dadas por igual para o estudo”, salientou.
O deputado federal Padre João (PT-MG), como coordenador da Frente Parlamentar pela Educação no Campo, foi mais um a classificar como inadmissível o fechamento das escolas rurais e propôs a criação de uma agenda comum entre a Câmara dos Deputados e as Assembleias Legislativas para a análise da educação no campo. Ele ainda defendeu a necessidade de repasses do Estado para as EFAs e o participação da comunidade na elaboração do projeto pedagógico.
Outro lado – Também admirador da educação no campo e oriundo de uma escola rural, o deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB) lamentou o fechamento de instituições de ensino, mas afirmou entender os motivos. Segundo o parlamentar, a concentração de recursos no Governo Federal e os erros na distribuição desses recursos deixam os municípios em uma situação muito complicada. “Vai continuar esse processo de esvaziamento do campo; não há uma política estruturada para manter as pessoas lá”, apontou.
Consulte o resultado da reunião.