Participaram da audiência pública representantes de várias comunidades terapêuticas, principalmente vinculadas à Igreja Quadrangular

Comunidades terapêuticas reivindicam apoio do governo

Representantes de igrejas evangélicas reclamam de discriminação da Secretaria de Estado de Saúde.

05/05/2015 - 20:01 - Atualizado em 06/05/2015 - 11:37

Representantes de comunidades terapêuticas reclamaram nesta terça-feira (5/5/15), em audiência pública da Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que essas entidades estariam sendo discriminadas pelo Governo do Estado na definição de políticas relacionadas ao tratamento da dependência química.

A reunião foi realizada a requerimento do deputado Leandro Genaro (PSB) e contou com a participação de representantes de diversas comunidades terapêuticas vinculadas à Igreja do Evangelho Quadrangular, da qual o parlamentar é pastor.

O deputado Léo Portela (PR) foi severo nas críticas ao que ele considerou como perseguição às comunidades terapêuticas, que seria promovida por alguns membros da Secretaria de Estado de Saúde (SES). “O que estamos vendo hoje é a intolerância religiosa por parte de setores do Governo do Estado, com posicionamento sectário, levando adiante a defesa de bandeiras que vão radicalmente contra as comunidades terapêuticas, fazendo chacota da nossa fé”, reclamou.

Ele acrescentou que servidores da SES estariam querendo acabar com a participação das comunidades terapêuticas nos programas de governo. “Há uma diferença entre estado laico e estado laicista. Esse último é o que repele qualquer ligação com a religão. O Brasil não é assim. A Constituição Federal reconhece a existência de Deus”, criticou.

Ex-traficante dá testemunho de fé

O deputado Leandro Genaro disse que a religião é imprescindível na recuperação de dependentes químicos. “Não há qualquer procedimento, tratamento ou remédio que por si só traga a cura para o usuário”, afirmou. Ele acrescentou que a igreja à qual pertence, bem como as entidades coligadas que atuam na recuperação dos dependentes químicos, acreditam no tratamento integral, que cure o corpo, a mente e o espírito. “Não estou falando de religião, estou falando de fé. Para livrar as pessoas do mal das drogas de maneira definitiva, só por meio da fé”, defendeu.

Para corroborar essa ideia, o parlamentar citou o caso de Adão Carvalho Rocha, uma liderança na Igreja do Evangelho Quadrangular. Ele lembrou reportagem de 2007 do jornal Hoje em Dia informando que Adão Rocha era considerado à época o maior traficante de Belo Horizonte, atuando na Pedreira Prado Lopes. A matéria afirmava que Adão Rocha era dono da boate Bufalo Beer, na Savassi, que seria fachada para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. “Hoje, Adão é líder de célula na nossa igreja”, comemorou.

Presente à reunião, Adão Rocha relatou que nasceu na Pedreira Prado Lopes e nesse ambiente acabou se envolvendo com as drogas, primeiramente como usuário de maconha, depois de cocaína e crack, até se tornar traficante. Acabou preso por quatro anos e quando saiu, encontrou apoio na Igreja do Evangelho Quadrangular, por meio do pastor Clayton Martins Miranda. “Só eu sei o que Deus fez por mim e minha família”, disse ele, tratando o pastor como seu pai.

Por sua vez, o pastor Clayton Miranda, que atua na Pedreira Prado Lopes desde 2004, contou que naquela época havia uma verdadeira “guerra do tráfico”, que levou à morte de 70 pessoas. “A Pedreira não é mais manchete nas páginas policiais. A redução do tráfico de drogas e de mortes na área foi de 70% a 80%”, destacou. Na opinião dele, a atuação da igreja no local mostrou que não basta repreender com a força policial ou com métodos químicos. “O Estado precisa das casas de recuperação, e é necessário reconhecer o nosso trabalho, para que os esforços sejam somados”, defendeu.

Proposta indecorosa - Já o pastor Almir dos Santos, coordenador do Centro de Recuperação de Dependência Química (Credeq) e da Casa Azul, de Lagoa Santa (RMBH), contou que foi dependente químico e presidiário por nove anos. Hoje é casado, pai de três filhos e apoia viciados a se livrarem das drogas. Segundo ele, 1.250 pessoas foram encaminhadas para as duas comunidades terapêuticas.

Vários outros pastores evangélicos valorizaram a atuação das comunidades terapêuticas. Ronaldo Morais, da Igreja Quadrangular, defendeu a união das entidades. O vereador de Divinópolis (Centro-Oeste de Minas), pastor Marcos Vinicius, classificou como indecorosa a proposta de excluir essas comunidades do tratamento dos viciados.

Por fim, Regina Rosa Neves, da instituição “Coração de Minas”, afirmou que seu filho conseguiu a recuperação completa com a ajuda de comunidades terapêuticas religiosas, mas sugeriu que as Igrejas incluam as famílias em seus trabalhos. Ela afirmou que, se as famílias continuam desestruturadas, “o risco de incidência (do dependente) é muito maior”.

Deputados apoiam comunidades terapêuticas

O deputado Antônio Jorge (PPS) defendeu que o tratamento ao viciado tem que ser pluralista. “Em muitas áreas, a sociedade faz melhor que os governos. O papel das entidades religiosas no tratamento de dependentes é fundamental, e cabe aos governos apoiá-las”, disse. Para ele, um dos passos para a recuperação de qualquer vício é a espiritualidade.

O deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB) citou um caso de Jacuí (Sul de Minas), onde foi prefeito. Lá, havia sete irmãos vindos de Franca (SP) que lideravam o tráfico na região. Segundo o parlamentar, um deles foi preso; outros quatro, inseridos em projetos de esporte e lazer. “Dois não tinham jeito... Mas a igreja conseguiu: hoje eles são trabalhadores e pais de família. Com Deus na frente, muita gente tem condição de se recuperar”, afirmou.

Também o deputado Noraldino Júnior (PSC) enalteceu o trabalho das comunidades terapêuticas. “Enquanto o crack crescia Brasil afora, o tratamento dos usuários foi assumido pelas comunidades terapêuticas, sem nenhum apoio do governo. O que seria do Brasil sem elas?”, questionou.