Financiamento é apontado como gargalo da saúde pública
Participantes de audiência pública em Juiz de Fora defendem mais recursos para atendimento pelo SUS.
16/04/2015 - 19:58O financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) foi apontado como o principal desafio para o funcionamento dos hospitais da Zona da Mata pelos participantes da reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada na tarde desta quinta-feira (16/4/15) em Juiz de Fora.
O deputado Arlen Santiago (PTB), presidente da comissão, ressaltou que cerca de 13 mil leitos de hospitais foram fechados nos últimos dez anos, de acordo com dados do Conselho Federal de Medicina. O parlamentar atribuiu as dificuldades aos poucos recursos repassados pelo Governo Federal. “Os governos municipais são obrigados a gastar 15% do seu orçamento com a saúde, acabam gastando 30% e isso ainda não é suficiente”, disse.
O parlamentar criticou a tabela do SUS, que, segundo ele, paga R$ 5 ao hospital por um raio-x de tórax, mas apenas o filme para o exame custaria R$ 12. Ainda de acordo com o deputado, o SUS paga apenas R$ 10 por uma consulta especializada. “Se a tabela do SUS não for corrigida, o que será dos hospitais?”, questionou. O parlamentar também salientou que é preciso facilitar o acesso a crédito para os hospitais.
O deputado Isauro Calais (PMN) disse que fez um breve levantamento em 37 hospitais da região de Juiz de Fora, incluindo os de municípios como Leopoldina, Bicas, Mar de Espanha e Lima Duarte. Segundo ele, a dívida somada dessas instituições chega a R$ 48 milhões. “Visitei muitos desses hospitais e a situação é de calamidade, de total abandono. O hospital de Rio Novo acabou fechando, e não podemos permitir isso”, disse.
Prefeituras sobrecarregadas com gastos com a saúde
O secretário municipal de saúde de Juiz de Fora, Adilson Stolet, ressaltou que os custos da saúde têm um impacto muito grande no orçamento da prefeitura. Ele pediu providências para que o hospital regional da cidade entre em funcionamento. Segundo ele, atualmente são mantidos 30 funcionários no hospital, apenas para cuidar dos equipamentos.
Administradores de hospitais relataram as dificuldades financeiras das suas unidades de saúde, enquanto prefeitos, vereadores e secretários de saúde falaram sobre como as contas municipais acabam sobrecarregadas quando as prefeituras assumem a responsabilidade pela manutenção dos hospitais locais.
O analista de saúde pública do Ministério Público, Rogério Pinheiro Nunes, disse que o órgão visitou 57 hospitais em 36 municípios de Minas Gerais e está em fase final de elaboração de um relatório sobre o trabalho. Ele destacou que é preciso melhorar o sistema de escalas de médicos e enfermeiros, que ele classificou como “frágil”, e disse que os hospitais das cidades menores talvez tenham uma vocação maior para o pronto-atendimento, e não para internações e cirurgias, por exemplo.
Atenção primária - O gerente regional de saúde de Juiz de Fora, Oleg Abramov, ressaltou que os investimentos federais na área de saúde nos últimos anos têm sido direcionados para a atenção básica, o que, ao longo dos próximos anos, deve reduzir a demanda dos hospitais. Ele considerou acertado esse direcionamento. O secretário executivo do Conselho Municipal de Saúde, Jorge Ramos, concordou com Abramov. “Se não tivermos uma atenção primária forte, vamos virar a indústria do hospital”, disse.
Deputado lembra avanços do governo anterior
Os avanços dos últimos anos na gestão estadual da saúde foram destacados pelo deputado Antônio Jorge (PPS), que citou que mais de 20 hospitais da região de Juiz de Fora receberam investimentos para realizar procedimentos de maior complexidade. “Criamos um cinturão no entorno da cidade”, disse. “É verdade que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas é preciso reconhecer o que já foi feito”, completou.
O deputado Lafayette de Andrada (PSDB) criticou a atual administração estadual. “Ainda não sabemos quais serão as prioridades para a saúde”, disse.
Já o deputado Missionário Márcio Santiago (PTB) falou sobre a ocupação dos leitos de hospitais por presos condenados. “São quase 3 mil sentenciados em Juiz de Fora, e são feitas quase 260 escoltas mensais para os hospitais, já que essa é a única forma de fazer atendimentos de urgência e emergência”, afirmou. Segundo ele, trata-se de um constrangimento para os presos, que precisam esperar a triagem para ser atendidos, e para a população, que deixa de ter leitos disponíveis nos hospitais.
O deputado Noraldino Júnior (PSC), por sua vez, disse ter recebido denúncias contra a empresa Unihealth, que presta serviços de logística hospitalar em Juiz de Fora, e garantiu que todas serão devidamente apuradas.