O secretário defendeu a descentralização do sistema de licenciamento ambiental para dar mais celeridade ao processo
Sávio Souza Cruz (à esquerda) apresentou deficiências da pasta levantados pela Força Tarefa montada pelo Governo do Estado
Deputados destacaram a disponibilidade da comissão para trabalhar em parceria com a secretaria

Secretário aponta colapso no licenciamento ambiental

Processos paralisados e incapacidade de planejar a longo prazo desafiam Secretaria de Meio Ambiente.

10/04/2015 - 14:38 - Atualizado em 10/04/2015 - 16:22

Cerca de 2.700 pedidos de licenciamentos ambientais e mais de 14 mil outorgas paralisados na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Esses foram alguns dos números apresentados pelo secretário Sávio Souza Cruz na reunião da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada na manhã desta sexta-feira (10/4/15). O encontro, que tinha como objetivo discutir os planos e ações do governo na área ambiental, também serviu para ouvir representantes dos setores produtivos e da sociedade civil e, assim, conhecer melhor suas demandas.

Sobre o número de processos paralisados, Sávio Souza Cruz considerou que é preciso dar mais celeridade, descentralizando o sistema. De acordo com ele, vários licenciamentos podem ser feitos na esfera municipal, e Estados como o Rio Grande do Sul já fazem isso em todos os seus municípios, enquanto em Minas Gerais apenas sete cidades cumprem esse papel. “Então, o licenciamento de um posto de gasolina em uma cidade de 700 mil habitantes, como Uberlândia, precisa ser feito pelo Estado”, explicou. Para ele, é preciso descentralizar essas questões para que o Estado possa se concentrar nos cerca de 5% de empreendimentos que acabam causando mais de 80% dos danos ambientais, como as mineradoras.

Gestor defende que desenvolvimento sustentável seja prioridade

O secretário de Meio Ambiente também disse que tal medida vai desafogar a pasta, para que possa concentrar esforços na criação de um efetivo plano de desenvolvimento sustentável. “Os licenciamentos não podem ser o fim da secretaria, pois são apenas o meio para efetivar a proteção ambiental”, disse, explicando que todo o trabalho tem sido concentrado nesses licenciamentos.

Sávio Souza Cruz também apresentou dados, com a ajuda da secretária-adjunta Marília Carvalho de Melo, que mostram que a secretaria é uma das que mais arrecada no Estado, sendo que apenas metade da verba é utilizada em suas ações. “O sistema de meio ambiente, hoje, dedica mais de R$ 10 milhões do dinheiro que arrecada só para sustentar a Cidade Administrativa”, afirmou o secretário.

Outros dados foram apresentados, como a alta rotatividade dos servidores do sistema, que teria chegado a 20% nos últimos anos. Além disso, foi apontada a redução drástica dos terceirizados, que passaram de 1.084, em 2013, para pouco mais de 300, em 2014, sem serem devidamente repostos. Essa queda teria afetado diretamente a administração das unidades de conservação. Sávio Souza Cruz salientou que é preciso valorizar os servidores para garantir a boa prestação de serviços.

Outros problemas seriam a completa ausência de trabalhos na área de educação ambiental e um déficit de cerca de R$ 160 milhões entre a necessidade da secretaria, para 2015, e a verba aprovada na Lei Orçamentária Anual (LOA). Todos esses dados foram levantados pela força-tarefa montada pelo governador Fernando Pimentel para diagnosticar a situação do Estado e serão agora utilizados para embasar o planejamento das ações da secretaria.

Mais participação e melhoria no cadastro ambiental são reivindicadas

A dificuldade de se participar dos debates e das decisões governamentais na área ambiental foi uma das reclamações apresentadas pela representante da Associação Mineira do Meio Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas. Ela cobrou maior possibilidade de participação e reclamou do uso de verbas da secretaria para outras atividades do Estado. “Isso é desvio de verba, é sequestro”, disse.

O representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Eduardo Nascimento, reivindicou, por sua vez, maior celeridade na regularização fundiária das unidades de conservação. Ele exemplificou o problema citando a Reserva Biológica Serra Negra, em Itamarandiba (Vale do Jequitinhonha), demarcada na década de 1980. Segundo ele, cerca de 180 famílias que moravam no limite do parque ainda não receberam indenização.

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi a maior preocupação apresentada por Carlos Alberto, da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg). O cadastro é essencial para qualquer processo de licenciamento, mas, segundo ele, o sistema apresenta inúmeras dificuldades que impedem que os produtores concluam o trabalho. “Minas Gerais é o Estado mais atrasado nesse processo. Menos de 10% dos empreendimentos rurais foram cadastrados. A plataforma mineira não funciona e os canais de atendimento não oferecem soluções”, disse. Sobre isso, o secretário Sávio Souza Cruz afirmou que o cadastro vai passar a ser feito pelo Governo Federal e que o Ministério do Meio Ambiente se comprometeu a custear a migração da plataforma.

Para Wagner Soares Costa, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), é preciso dar mais transparência aos processos de licenciamento. Ele chamou de “penduricalhos” algumas exigências que não dizem respeito ao meio ambiente e são necessárias para o licenciamento, o que dificultaria o processo porque envolveria órgãos com menor capacidade de atendimento rápido das demandas, como a Fundação Nacional do Índio (Funai). “É preciso uniformizar procedimentos e garantir segurança jurídica para os investimentos”, disse.

Deputados governistas lembram parceria entre Executivo e Legislativo

Os deputados Rogério Correia e Paulo Lamac (ambos do PT) salientaram que os problemas recebidos da gestão anterior são grandes, mas que já observam mudanças satisfatórias na postura da secretaria e até da ALMG. “Hoje as comissões propõem discussões sérias e têm sido visitadas pelo Poder Executivo para buscar respostas satisfatórias”, disse o deputado Paulo Lamac. O deputado Wander Borges (PSB), por sua vez, disse que deve ser pensada uma suplementação de recursos para a Secretaria de Meio Ambiente.

O deputado Inácio Franco (PV) criticou a demora nos licenciamentos e citou que foi procurado por produtores rurais autuados pela polícia por falta de licenças que já teriam sido solicitadas, mas não houve resposta da secretaria. O deputado Dilzon Melo (PTB) salientou que os empreendimentos que são impedidos de funcionar por falta de licença ambiental poderiam ajudar a reduzir o déficit do Estado. O deputado Cássio Soares (PSD), presidente da comissão, afirmou que está aberto para trabalhar junto com a secretaria para solucionar os problemas apresentados.

Requerimentos – Na reunião, foram aprovados requerimentos para diversas audiências públicas que deverão discutir os problemas apresentados. Devem ser temas de reuniões a descentralização dos processos de licenciamento, a política de implantação do Cadastro Ambiental Rural, as propostas apresentadas pela força-tarefa que fez o diagnótico da situação do Estado, a regulamentação da Lei Florestal e o controle de incêndios. Outra reunião deve tratar de denúncias de sobre atividades minerárias irregulares na Serra da Neblina, próximo a Cataguases (Zona da Mata).

Consulte o resultado da reunião.