Deputados saem em defesa de centro de pesquisa mineiro
Comissão de Educação visita Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, sede do primeiro reator nuclear brasileiro.
05/03/2015 - 20:13Pouca gente sabe, mas Minas Gerais abriga uma unidade pioneira e ainda hoje referência em pesquisa e uso da tecnologia nuclear. Trata-se do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), órgão federal vinculado ao Ministério da Ciência e da Tecnologia, visitado nesta quinta-feira (5/3/15) pelos deputados da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O objetivo foi conhecer as instalações, divulgar o trabalho realizado pela instituição e apoiar a luta por novos investimentos, já que o CDTN sofre com a falta de pessoal e de recursos.
Os deputados Paulo Lamac (PT), presidente da comissão, e Celinho do Sinttrocel (PCdoB) foram recebidos pelo diretor do CDTN, Waldemar Augusto de Almeida Macedo. A unidade fica instalada em uma área de 240 mil m² dentro do campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O espaço reúne 50 laboratórios em 42 mil m² de área construída, que abriga o primeiro reator nuclear brasileiro, instalado ali desde a década de 1960 e, após algumas modernizações, ainda hoje em pleno funcionamento. O patrimônio total do CDTN é hoje avaliado em mais de US$ 1 bilhão.
Após uma breve palestra sobre a história e atividades do CDTN, os parlamentares conheceram o Reator Triga, equipamento pioneiro que ainda hoje representa o maior investimento em ciência e tecnologia já realizado no País. Foram gastos US$ 100 mil em sua construção em 1960, apenas oito anos após a criação do Instituto de Pesquisas Radioativas da Escola de Engenharia da UFMG, que deu origem ao CDTN. Utilizado somente para pesquisas, foi nas instalações desse reator que foram treinados os primeiros técnicos que trabalham na Usina Nuclear de Angra 1, no litoral do Rio de Janeiro.
Laboratórios - Os deputados também conheceram o Setor de Tecnologia Mineral, a Unidade de Pesquisa e Produção de Radiofármacos (UPPR) e o Laboratório de Irradiação Gama. O primeiro, que possui o Laboratório de Minérios e o Laboratório de Extração de Solventes, reproduz em escala menor o processo de beneficiamento de minerais comum no setor produtivo que representa a base da economia mineira. Com isso, é capaz de aperfeiçoar as técnicas empregadas atualmente ou desenvolver novas tecnologias, prestando inclusive serviços para grandes empresas que operam no Estado.
Já na Unidade de Radiofármacos, os deputados puderam conhecer um acelerador de partículas ciclotron, ponto de partida da linha de produção desse tipo de droga, usada em inúmeros exames da chamada medicina nuclear, com aplicações sobretudo no diagnóstico de doenças como o câncer. O CDTN é hoje o único fornecedor desse tipo de insumo para os principais laboratórios de diagnóstico mineiros.
E no Laboratório de Irradiação Gama, os parlamentares puderam conhecer as diversas aplicações desse tipo de tecnologia, entre elas o tratamento de alimentos e a desinfestação de frutos e grãos, o tratamento de sangue e hemoderivados e ainda a modificação ou indução de cores em gemas, muito rentável para as empresas que lidam com pedras preciosas, que estão entre os clientes do CDTN.
Dificuldades podem inviabilizar atividades
Apesar de ser um centro de excelência em tecnologia nuclear, o CDTN vive um período de indefinições, com redução do seu quadro de pessoal em 38% nos últimos 30 anos e o envelhecimento dos seus quadros – 56% dos seus 330 servidores, quase um terço deles doutores, já poderiam se aposentar. Essa situação pode significar em breve a inviabilização de suas atividades. É por esse motivo que o diretor da unidade defende que o CDTN se torne, com o apoio da Assembleia de Minas, o braço forte do Ministério da Ciência e Tecnologia em várias ações estratégicas em Minas, que podem envolver áreas como meio ambiente, metalurgia e nanotecnologia, por exemplo.
“Tudo começou com a visão de futuro de Juscelino Kubitschek quando era governador de Minas. Uma simples doação de terreno para uma iniciativa como essa pode significar a transferência de recursos e pessoal especializado que vão sustentar o desenvolvimento do nosso Estado por gerações. Defendo uma atuação mais contundente do CDTN em áreas de interesse local e regionais nas quais o centro tenha reconhecida competência, mas para isso precisamos de apoio político”, afirmou. Uma dessas aplicações é na área de hidrologia, tendo em vista a recente crise hídrica que assola o País, já que é possível aplicar metodologias e técnicas nucleares para quantificar os fenômenos do ciclo hidrológico.
O diretor pede a intervenção urgente dos deputados para que o CDTN receba novos profissionais por meio de concurso e ainda mais investimentos. Nesse quesito, o orçamento anual da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão que sucedeu a extinta Nuclebrás em 1988, é de R$ 151 milhões. O CDTN teme perder espaço para um novo centro de pesquisas da Marinha em São Paulo, visando à produção de combustível para Angra 1 e para o primeiro submarino nuclear brasileiro, unidade que já tem orçamento de R$ 175 milhões. Uma alternativa para reforçar o caixa do CDTN seria a permissão de utilização dos recursos que já são rotineiramente obtidos com a prestação de serviços para a iniciativa privada, prática comum nas universidades federais.
Fomento - O deputado Paulo Lamac prometeu que a Comissão de Educação vai se mobilizar para dar o apoio que o CDTN precisa. “É uma instituição histórica e pouco conhecida dos mineiros, que reúne conhecimento único. Mas sua interação com a indústria e com o Governo do Estado é muito pequena. Outros Estados têm conseguido um fomento maior de seus centros de pesquisa por parte do Governo Federal, e não podemos mais perder espaço. Temos que defender o CDTN e seus cientistas altamente especializados”, afirmou.
Já o deputado Celinho do Sinttrocel acenou com a possibilidade de agendar uma visita do ministro da Ciência e da Tecnologia, Aldo Rebelo, seu colega de partido, ao local, além de mobilizar a bancada mineira no Congresso para viabilizar novos recursos por meio de emendas parlamentares. “Estou impressionado com o que vi. É um centro de excelência em tecnologia nuclear, conhecimento de ponta que é muito valioso não somente para Minas como para todo o Brasil. Não podemos deixar a falta de investimentos acabe com tudo o que foi construído”, finalizou.