Capacitação de jovens pode diminuir violência na zona Leste
Moradores do Taquaril e região estão preocupados com assassinatos e consumo de drogas entre jovens.
11/08/2014 - 21:42 - Atualizado em 12/08/2014 - 11:24A formação profissional como instrumento de diminuição da violência na região Leste de Belo Horizonte foi a principal reivindicação feita, na noite desta segunda-feira (11/8/14), durante audiência pública promovida pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) no bairro Taquaril. Os moradores desse bairro e também do Alto Vera Cruz, São Geraldo, Pompeia e Granja de Freitas estão preocupados com a falta de ocupação e renda dos jovens, com o aumento do consumo de drogas e, principalmente, com o índice de 37 homicídios nos últimos quatro meses na região. Desses, 19 foram no Alto Vera Cruz.
Esses dados foram apresentados pelo presidente da Associação Comunitária do Alto Vera Cruz, Júlio César Pereira Souza. “Não podemos achar normal o que está acontecendo aqui”, afirmou. Ele criticou ainda a omissão do Estado e a falta de políticas públicas para a região.
O presidente do Conselho Tutelar Leste, Andrassy Daniel Amaral Silva, também cobrou mais ações do governo para a região e informou que a entidade gostaria de atuar na prevenção dos problemas, mas atualmente mal dá conta das demandas que chegam todos os dias. Ele disse que 40% dessas demandas estão relacionadas à violação de direitos na área de educação, como falta de vagas para crianças nas creches e evasão escolar.
“Uma mãe que não consegue deixar seu filho na creche não tem como melhorar a renda e ir trabalhar. Quanto menor a renda da família, mais as crianças e jovens são vítimas da violência, principalmente da exploração sexual”, opinou Andrassy Silva.
Para os diretores das escolas da região e representantes da comunidade local, o investimento em formação técnica e profissional dos jovens seria um caminho para reverter esse quadro. O diretor da Escola Municipal Dr. Júlio Soares, João Antônio de Oliveira, destacou que o ensino médio profissionalizante seria uma opção para a região, principalmente porque muitos problemas estão relacionados às drogas.
Na opinião da diretora da Escola Municipal Israel Pinheiro, Sônia Carolina Ferreira, a formação profissional pode ajudar a diminuir a violência, e por isso ela cobrou a instalação de polos de formação e qualificação profissional na região.
O diretor da Escola Municipal George Ricardo Salum, Kelton Cristiano Chagas Rocha, também ressaltou a necessidade de discutir melhores condições para os jovens e famílias da região Leste. “Temos percebido que estamos impotentes diante de todas as ações que são inócuas”, disse.
Também cobrou mais segurança o pastor José Tadeu de Oliveira, da Igreja Quadrangular. “Nunca vi tanta violência e sofrimento como nesses dias”, afirmou.
Violência compromete funcionamento de posto de saúde
Na opinião da residente da Comissão Local do Centro de Saúde do Alto Vera Cruz, Ivanil Mendes, não é apenas a droga que está causando a violência, mas a dificuldade das pessoas em viver em sociedade, a falta de tolerância. Ela também salientou que a violência está comprometendo serviços essenciais para a população. Um deles é o posto de saúde, que passou a fechar às 17h30 por falta de segurança.
Já a coordenadora do Centro de Referência em Assistência Social (Cras) Alto Vera Cruz, Izabella Menezes de Castro, afirmou que é preciso pensar outras estratégias para combater a violência na região.
A representante da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Tânia Mara Santos, destacou o projeto da PBH de consultoria ao pequeno empreendedor, que segundo ela foi exitoso no Aglomerado da Serra e poderia ser replicado na região.
Deputados reconhecem que é preciso avançar nas políticas públicas
Um dos autores do requerimento para o debate, o deputado Rogério Correia (PT) lembrou que o Brasil hoje tem uma política de emprego melhor do que há dez anos, mas que ainda é preciso avançar na qualificação da juventude, principalmente para aqueles que estudam em escolas públicas e nas periferias. Neste sentido, em sua opinião, o debate deve ser centrado na criação de políticas públicas para geração de emprego e renda.
O presidente da Comissão de Assuntos Municipais e também autor do requerimento para o debate, deputado Paulo Lamac (PT), também ponderou que as estratégias tradicionais não estão surtindo o efeito desejado, o que, na sua opinião, tem provocado esta "violência gratuita e fora do habitual na região Leste de Belo Horizonte". “Precisamos pensar em soluções de médio e longo prazo. Precisamos dar para a sociedade uma resposta a esta escalada de violência”, defendeu.