Moradores de Santa Luzia e usuários de transporte coletivo da região queixaram-se de alterações introduzidas no transporte público local por causa do BRT Move
Parlamentares defenderam transporte público acessível e eficiente, além da importância de informar a população

Santa Luzia sofre com mudanças introduzidas pelo BRT Move

Moradores se queixam de atrasos nos ônibus, falta de informação, alto custo das passagens e falhas no cartão integração.

29/05/2014 - 00:46

A entrada em operação do BRT Move na Capital tem gerado uma série de transtornos para a população de Santa Luzia, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Durante audiência pública da Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada na noite desta quarta-feira (28/5/14), na comunidade Kolping, bairro São Benedito, no município da Grande BH, moradores e usuários de transporte coletivo da região queixaram-se das alterações introduzidas no transporte público local desde que a nova modalidade foi implantada.

Entre as queixas, apontaram falta de informações por parte do poder público e da empresa de ônibus Rodap, que explora o transporte no município, além de falta de diálogo com a comunidade. Eles protestaram também contra as mudanças, sem aviso prévio, nos pontos finais de ônibus, contra os atrasos, a superlotação, o alto custo das passagens e as falhas no cartão integração.

Uma das principais reclamações refere-se às mudanças nos pontos finais das linhas Cristina A/Belo Horizonte (4200), Cristina B/Belo Horizonte (4200) e Cristina C/Belo Horizonte (4210). Da mesma forma, queixam-se do mal serviço prestado pelos ônibus que circulam dentro do município.

Moradora da região, Evani Agostinho se disse insatisfeita com a nova modalidade de transporte, queixando-se de que desde a implantação do BRT Move não restam aos passageiros de Santa Luzia outra opção para se deslocar para o Centro de Belo Horizonte, o que considera injusto, entre outros aspectos, pelo alto custo da passagem. Ela explicou que pelo sistema de integração um mesmo cartão só pode ser usado por um único passageiro. Dessa forma, disse, acaba pagando muito caro para ela e seus dois filhos menores.

Além disso, queixou-se, também, do fato de o cartão funcionar no máximo durante uma hora e meia, o que torna inviável o sistema de integração, devido ao trânsito caótico e aos atrasos constantes dos coletivos. “É comum levarmos até duas horas no trajeto”, disse. As queixas de Evani foram endossadas por William Barbosa, da Associação do Bairro Imperial e por vários outros líderes comunitários.

Conduzida pelo presidente da Comissão de Assuntos Municipais, deputado Paulo Lamac (PT), a reunião foi convocada a requerimento do deputado Elismar Prado (PT), atendendo a pedido dos moradores. “O transporte público oferecido à população deve ser acessível, confortável e eficiente; trata-se de uma concessão pública e de um serviço essencial à população, que merece respeito e consideração”, disse Elismar, acrescentando que o transporte é o meio pelo qual os moradores têm acesso a outros direitos fundamentais, como escolas e postos de saúde.

Mobilidade urbana é desafio para poder público e sociedade

O deputado Paulo Lamac destacou a importância de que a população seja bem informada sobre as mudanças, argumentando que “às vezes o projeto é bom e acaba sendo prejudicado pela falta de informações”. Segundo ele, o problema da mobilidade urbana é um desafio que deve ser examinado com cuidado por todos os interessados – poder público e cidadãos em geral.

Na opinião do parlamentar, “o BRT é um modal importante, que pode ser muito interessante se equacionadas adequadamente todas as variáveis”. “Não se trata de ser contra nem a favor do Move, mas acho que é um modal que pode ser melhor ou pior, dependendo de como serão tratadas as variáveis”. “É um desafio para cada um de nós, assim como a expansão do metrô”, disse.

O presidente do Sindicato dos Policiais e líder comunitário Denilson Aparecido Martins disse que as lideranças e a comunidade se sentem desrespeitadas pela empresa que detém o monopólio do setor de transportes no município há 40 anos. Segundo ele, “falta interesse do órgão gestor em estabelecer um marco regulatório para o setor. O transporte público é concessão”, disse, reclamando da retirada de linhas sem qualquer explicação e das mudanças no trajeto. “Reduziram o itinerário, mas não houve redução de passagens”, protestou.

O presidente da OAB local, Francisco Massara Gabrich, disse que a deficiência de transporte público no município vem de longa data. Segundo ele, as inovações são bem vindas, mas, antes da implantação do Move, seria necessário corrigir os problemas de transporte que são recorrentes no município.
A vereadora Suzane Almada lamentou a falta de informações e de diálogo com a população e disse que a dificuldade de acesso não se limita a Belo Horizonte, mas ocorre, também, com os passageiros que desejam circular dentro do próprio município. Segundo ela, há previsão de instalação de dois terminais do Move no município – um no Centro e outro em São Benedito –, mas, temporariamente, estará em uso apenas um terminal provisório e não se sabe por quanto tempo.

Outros vereadores, como Davi Martins e Sandro Coelho, queixaram-se do alto valor do transporte intermunicipal, dos atrasos dos coletivos e também da falta de informação. “Esperamos que a obra do BRT não seja mais uma obra inacabada, provisória e eterna”, disse Coelho.

Cidade-dormitório - O vereador Adriano do São Cosme lembrou que Santa Luzia é uma cidade-dormitório e que sempre recebeu poucos investimentos por parte do poder público, enquanto o vereador Ailton Gomes queixou-se de que algumas linhas, como a 4380, não circulam no horário noturno, deixando em dificuldade os que necessitam de transporte nos horários mais tardios. Indignado, ele propôs abrir uma CPI para investigar o serviço prestado pela empresa Rodap Comércio Participação e Empreendimentos, que, segundo ele, cobra caro pelas passagens e modifica os horários dos coletivos sem consultar a população.

Diovane de Sá, da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, disse que para a instalação do Move a prefeitura foi consultada e indicou o local das estações no município, que seriam inicialmente duas. Entretanto, dificuldades relacionadas a desapropriações nos locais indicados levou à implantação de um terminal provisório no bairro de São Benedito. Segundo afirmou, a expectativa é que dentro de um ano essa estação temporária possa dar lugar a um terminal definitivo. Acrescentou ainda que os problemas que vêm ocorrendo, como atrasos e falta de informação, são típicos da fase de transição e serão corrigidos à medida que forem feitos ajustes com base, inclusive, no retorno dado pelos próprios usuários.

O representante do DER, Valmir Antônio Venâncio, chefe da 1a. Fiscalização da Coordenadoria Regional do órgão, argumentou que o número de fiscais é insuficiente para a demanda de queixas que recebem, em torno de 80 por dia, em média. Contudo, mesmo assim, disse, os fiscais se desdobram para atender a todos. Ele prometeu averiguar as denúncias de atrasos e descaso feitas durante a audiência e disse que tem um prazo de 90 dias para sanar as reclamações.

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