Atividade minerária preocupa São Joaquim de Bicas
Principal impacto foi soterramento das nascentes e a consequente falta de água para comunidades próximas.
29/10/2013 - 19:02Os impactos ambientais provocados pelos empreendimentos minerários na região do Médio Paraopeba levaram, nesta terça-feira (29/10/13), a Comissão Extraordinária das Águas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) a São Joaquim de Bicas (Região Metropolitana de Belo Horizonte), no bairro de Nossa Senhora da Paz, conhecido como Farofa. Comandada pela deputada Maria Tereza Lara (PT), a audiência pública foi precedida de visitas ao empreendimento da MMX, na Serra da Farofa, e à comunidade de Açoita-Cavalo, afetada pela atividade minerária.
No empreendimento da MMX, a equipe da ALMG não foi autorizada a entrar e fazer imagens. Por isso, Maria Tereza Lara optou por dirigir-se à comunidade para conhecer os problemas ocasionados e que provocaram desmatamento das nascentes e o consequente soterramento de lagoas e nascentes.
Lá, a produtora rural Ellen Resende explicou que as atividades da mineradora fizeram com que as casas de sua comunidade ficassem dez meses sem abastecimento de água proveniente das nascentes. Com isso, tiveram que contar com abastecimento de caminhões pipas e consumir água mineral de galões. Ela disse que a falta de água afetou a produção agrícola da sua família e de outras que dependem desse sustento.
Durante a visita, o ambientalista Frei Pedro José de Assis, do Centro de Ecologia Integral, explicou que o primeiro prejuízo constatado com a atividade minerária na região do Médio Paraopeba foi a falta de água para as comunidades do entorno. Falta esta que pode afetar municípios da RMBH, já que 53% da água do Médio Paraopeba abastece essa região. Para Nino Resende, da ONG Centro de Referência Ambiental e Cultural João Amazonas, a atividade já ocasionou desmatamento e soterramento de nascentes e lagoas, além da paralisação da produção agrícola do pequeno produtor.
Além de São Joaquim de Bicas, fazem parte da região do Médio Paraopeba municípios como Contagem, Betim, Ibirité, Brumadinho, Mário Campos, Juatuba, Sarzedo, Mateus Leme, Florestal e Esmeraldas, todos na RMBH.
População está insatisfeita com o desgaste ambiental
À tarde, durante a audiência pública no Centro Social Farofa, o frater da Comunidade Irmãos da Nossa Senhora, Henrique José Matos, afirmou que a população foi enganada pela empresa MMX, que se instalou sem promover o diálogo com a comunidade. “A MMX se impôs, como um trator que simplesmente destrói tudo o que vê pela frente”, disse ao lembrar que a destruição feita na natureza é irreversível. Afirmou ainda que em pouquíssimo tempo de atividade as nascentes da região acabaram. Em sua opinião, faltou o que está acontecendo agora, que é a conscientização da população, posicionando-se contrária ao que foi oferecido, sem questionar.
O presidente da Câmara Municipal, vereador Carlos Alberto Braga Fonseca, também demonstrou a insatisfação da população em relação às promessas não cumpridas e ao desgaste ambiental provocado.
Segundo o vice-presidente da Associação de Moradores de Ponta da Serra, Vilson Eduardo Esteves, o que se viu na cidade foram pessoas machucadas em sua alma, expulsas de suas terras e ameaçadas em nome do crescimento. E hoje, o que está acontecendo é o abaixamento dos lençóis freáticos e a degradação das águas. O frei Pedro José de Assis também demonstrou sua preocupação em relação à atividade agrícola das famílias, que seguem essa tradição há várias gerações.
Disse ainda que a audiência pública é um momento grandioso para se organizar e interferir de maneira democrática no processo. Ele ponderou que a população precisa pensar o que pretende para a cidade, a mineração ou o acesso à água.
O secretário adjunto de Meio Ambiente de São Joaquim de Bicas, Júlio Cesar de Melo, agradeceu o empenho da deputada em debater a situação e ponderou que a cidade precisa de caminhos para melhorar o que foi iniciado. O frater Henrique também agradeceu a sensibilidade da parlamentar em trazer o tema à discussão na cidade.
Maria Tereza Lara destacou a presença de representantes de outras cidades do entorno e a importância de unir para que o planeta seja verdadeiramente respeitado.