A Comissão de Direitos Humanos foi a acampamento de professores estaduais
Os professores organizaram acampamento em frente ao Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador

Professores denunciam casos de violência dentro das escolas

Comissão de Direitos Humanos se reúne com educadores acampados como forma de protesto.

18/09/2013 - 20:11

Professores da rede estadual de ensino denunciaram violência sofrida nas escolas e descaso da Secretaria de Estado da Educação em solucionar os problemas da categoria em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada, na última sexta-feira (13/9/13), no acampamento organizado pelos professores em frente ao Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador.

Jussara Bueno Paschoalino, doutora em educação e autora da dissertação sobre o impacto da violência nos professores, afirmou que, além da agressão física, é preciso considerar também a agressão verbal. “Todos os xingamentos que vêm de fora são acumulados e geram um desgaste psicológico”, destacou. Ela ainda afirmou que os educadores têm medo de denunciar a situação. “Cada vez que o professor silencia, ele paralisa. E com isso, adoece pela culpa, pelo sentimento de inutilidade, porque não consegue fazer aquilo que escolheu fazer”.

A diretora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), Denise de Paula Romão, completou que o professor tem medo de denunciar as agressões sofridas. “O professor tem vergonha ou tem medo de denunciar, e o Estado controla isso”, criticou. Ela relatou situação vivida por um professor de escola estadual em Belo Horizonte, que foi pressionado a não dar publicidade a uma agressão sofrida na escola. “Na Escola Estadual Barão de Macaúbas, foi uma batalha para que conseguíssemos dar publicidade à questão. O professor foi acuado. O papel que o governo desempenhou foi dizer que a denúncia deixaria a escola mal. A preocupação em dar assistência ficou em segundo plano”, relatou.

Segundo Denise Romão, as agressões são fruto da falta de investimentos do Estado na educação. “Quando o governo sonega R$ 8 bilhões para educação, o resultado é esse: professores doentes, escolas sem infraestrutura, dentre outros problemas”, afirmou.

Deputados criticam Governo do Estado

O deputado Rogério Correia (PT), que solicitou a realização da audiência, criticou a relação entre a Secretaria de Estado de Educação e os professores. Ele ainda contou que recebeu denúncia de uma diretora que pediu para que os professores não se alimentassem na escola porque, caso o fizessem, ela sofreria retaliações. Ele ainda afirmou que o Governo do Estado se recusa a negociar com os educadores. “Os professores estão acampados há 14 dias e o governador não diz nada. Já tentamos de tudo para abrir uma negociação”, reforçou.

Já o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), relembrou audiência pública realizada em Januária (Norte de Minas) para apurar denúncias de assédio sexual envolvendo o superintendente regional de ensino. “Há 15 dias, fizemos uma reunião em Januária para discutir esse caso. Isso mostra a degradação moral da educação. São questões mínimas que garantem o processo educacional e que não são minimamente respeitadas”, destacou.

Violência é apontada como problema

Para o presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores em Educação, Roberto Franklin de Leão, a situação vai muito além da violência. Falta de infraestrutura, metodologia ultrapassada e desvalorização do professor também são problemas que devem ser atacados, na sua avaliação. “Não podemos pensar que, para ensinar, é preciso apenas o professor, o giz e a lousa. Só a formação do professor não funciona, também é preciso infraestrutura. Precisa-se atacar os problemas de maneira global, com valorização dos profissionais, plano de carreira, boas condições de trabalho e gestão democrática”, enumerou.

Segundo Jussara Paschoalino, autora de dissertação de mestrado sobre o impacto da violência nos professores, esses profissionais precisam também de formação cultural. Entretanto, com os baixos salários, isso fica ainda mais complicado. “Os conhecimentos estão cada vez mais permeando a sociedade. Por isso, o educador precisa de formação além da instrução formal. Com o salário do professor, como é possível?”, questionou.

Sugestões - O problema cultural também foi levantado durante a fase de debates. Drogas e falta de interesse dos pais também foram colocados como desafios a serem vencidos. Por fim, foram propostas duas medidas para combater a violência no ambiente escolar. A primeira é a criação de uma ouvidoria dentro da ALMG para que professores possam denunciar situações de violência vividas. A segunda prevê o desenvolvimento de um estatuto do aluno, que servira como um manual de conduta a ser seguido tanto pelas escolas quanto pelos estudantes.

Consulte o resultado da reunião.