Forças de segurança querem integração durante a Copa
Corporações federais, estaduais e municipais apresentaram estratégias para o evento em audiência nesta terça-feira (17).
17/09/2013 - 13:37Representantes das Polícias Federal, Rodoviária e Militar, da Secretaria de Estado de Defesa Social e da Prefeitura de Belo Horizonte apontam a integração entre as forças de segurança como a principal estratégia para garantir a paz na Copa do Mundo de 2014. O tema foi debatido em reunião conjunta das Comissões de Segurança Pública e Extraordinária da Copa do Mundo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta terça-feira (17/9/13).
Assim como a necessidade de compartilhamento das experiências e a importância das tomadas de decisão conjuntas, foi consenso entre os convidados que os fatos ocorridos durante a Copa das Confederações, realizada este ano, serviram de laboratório para os órgãos de segurança. O gestor estratégico da Polícia Militar (PMMG) para a Copa do Mundo, capitão Antônio Leandro Bettoni da Silva, afirmou que as manifestações ocorridas durante o evento eram previstas, mas acabaram tomando proporções inesperadas.
Segundo ele, o efetivo inicialmente destacado para atuar na competição - de 3,5 mil homens - praticamente dobrou, sem contar o reforço da Força Nacional de Segurança. Ele defendeu que as decisões colegiadas são mais qualificadas e que os objetivos da corporação são trabalhar as prioridades do evento e manter os serviços essenciais à população. “Temos que fazer ajustes, mas há previsão de aquisição de novos equipamentos e viaturas, treinamento de cães e cavalos, capacitação de pessoal e definição de cinturão de controle nas divisas do Estado”, afirmou.
Integração – O subsecretário de Integração do Sistema de Defesa Social, Daniel Malard, reforçou que o trabalho integrado das corporações já vem acontecendo e que a implantação do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) foi fundamental no processo. De acordo com ele, o centro reuniu, na Copa das Confederações, órgãos federais, estaduais e municipais na prevenção, identificação e enfrentamento das ocorrências durante o evento.
O representante do Governo do Estado disse que a legislação prejudica a punição imediata dos vândalos e agressores que surgiram com as manifestações. “Temos a limitação da prisão preventiva. Com isso, aqueles que cometeram os crimes acabaram tendo que ser liberados e, provavelmente, retornaram para as ruas para cometer novos crimes”, lamentou. O subsecretário destacou, também, que, para a Copa do Mundo, serão instaladas novas câmeras de segurança e serão capacitados cerca de 2 mil agentes de segurança para o trato com multidões, choque e uso de bombas.
Tráfico humano também preocupa autoridades
O presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado João Leite (PSDB), definiu a identificação dos infratores, a ausência de espaço para as polícias no entorno do Mineirão e o tráfico de pessoas como suas maiores preocupações para a Copa do Mundo. Sobre este último item, o parlamentar afirmou que, na Alemanha, em 2006, foram 40 mil pessoas envolvidas com este tipo de crime, e, na África do Sul, o número chegou a 150 mil pessoas.
Em resposta às demandas apresentadas por João Leite, o delegado da Polícia Federal (PF) Alexandre Leão destacou que o órgão conta com um sistema nacional de combate ao tráfico internacional de pessoas e é ligado à Interpol, para troca de informações. Ele lamentou que o efetivo da PF é pequeno, mas que a integração com outras forças de segurança e o reforço de policiais estrangeiros possibilitarão maior atenção à entrada e saída de pessoas durante o evento. “O maior legado será o CICC, que fará com que a segurança nacional seja feita conjuntamente”, salientou.
Mobilidade – O inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Guido Marcelo Mayol, afirmou que o objetivo da corporação é garantir a fluidez e a mobilidade das pessoas na Copa. Ele entende que o evento demanda um planejamento prévio, complexo e difícil, que vem sendo feito deste 2009. “Temos o desafio de atender as necessidades da competição, sem nos descuidarmos das nossas atividades rotineiras. O trabalho deve ser feito ponto a ponto, com intensificação no ano que vem”, alegou. Sobre o risco de tráfico humano, o representante da PRF disse que as fronteiras secas deverão ser a porta de entrada para os criminosos, tendo em vista que o território brasileiro é extenso e o efetivo da corporação é reduzido.
O gerente de Comunicação Institucional da Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Patrimonial de Belo Horizonte, Itamar de Oliveira Pacheco Filho, destacou que a contribuição do município durante a Copa será no controle do trânsito e, com isso, na mobilidade urbana.
Procurador questiona realização da Copa do Mundo no Brasil
A falta de infraestrutura e a dívida social com a população foram apontadas pelo procurador de Justiça José Antônio Baeta de Melo Cançado como problemas para a realização do Mundial no Brasil. Segundo ele, quando a Lei Geral da Copa (Lei 20.711, de 2013) foi discutida, essa conclusão já havia essa constatação.
Ele criticou os gastos excessivos com a construção de estádios e com os eventos temporários, que não deixarão legado à sociedade. “O grande número de sedes torna o evento mais caro e dificulta o trabalho das forças de segurança. Não há como concentrar esforços, uma vez que teremos jogos em Porto Alegre e Manaus”, lamentou. O procurador disse, ainda, que a Polícia Federal não tem contingente para proteger as fronteiras nacionais e evitar, assim, que problemas como tráfico de pessoas sejam combatidos.
O presidente da Comissão Extraordinária da Copa do Mundo e autor do requerimento para a reunião, deputado Tenente Lúcio (PDT), e o deputado Mário Henrique Caixa (PCdoB) alertaram para a importância da definição de estratégias que evitem novos confrontos e até mortes, como ocorreu na Copa das Confederações, este ano. "Empresas foram saqueadas, patrimônio público e privado destruído, além de diversas vítimas. Temos que nos preparar bem para o momento em que os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil", disse o deputado Tenente Lúcio.