Desde 2009 foram registrados 30 homicídios e outras 23 tentativas, segundo informações do comandante da Polícia Militar de Manhuaçu, que atende à comarca
A audiência pública foi realizada na Câmara Municipal de Lajinha

Aumento da violência assusta população de Lajinha

Em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, moradores reclamam da atuação da Polícia Militar.

05/09/2013 - 18:16

O crescimento da violência, especialmente o número de homicídios, motivou a audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta quinta-feira (5/9/13) em Lajinha (Zona da Mata). De acordo com o tenente-coronel Wanderson Santiago Barbosa, comandante da Polícia Militar de Manhuaçu, que atende à comarca, desde 2009 foram registrados 30 homicídios e outras 23 tentativas. Somente este ano, foram confirmados seis homicídios, três deles por envolvimento com drogas. Durante a reunião, moradores denunciaram desmandos da Polícia Militar e reclamaram da falta de apuração dos casos.

O aumento dos crimes tem sido registrado a partir de 2011, mas o comandante acredita que há uma tendência de redução, em função do trabalho preventivo que a PM tem realizado na cidade. Dentre as ações, ele destacou as visitas preventivas que os policiais fazem às pessoas envolvidas em conflitos, para evitar o agravamento dos casos. Também citou o programa Guardiões da Defesa Social, um treinamento que está sendo realizado com policiais para acompanharem adolescentes em situação de risco, para evitar que eles entrem na criminalidade.

O delegado de Lajinha, Henrique Mateus Rabello, atentou que os homicídios não são os principais crimes ocorridos na cidade. Segundo ele, a corporação está apurando mais de 900 inquéritos, que envolvem outros casos como estupro, roubo e violência contra a mulher. Dos seis homicídios ocorridos este ano, segundo ele, três já foram solucionados, com a prisão de dois dos autores.

O policial reclamou da falta de estrutura da instituição, o que dificulta o trabalho. Existem apenas três investigadores, um deles deslocado para casos de trânsito e os outros dois responsáveis por todo o trabalho de investigação. Henrique Rabello disse que falta todo tipo de material para o desenvolvimento do trabalho policial em Lajinha. O vice-prefeito Antônio Sérgio da Silva afirmou que o aumento da criminalidade está ligado ao tráfico de drogas e, também, aos problemas de trânsito, principalmente no trevo que fica na entrada da cidade e que representa grande risco. Nos últimos 60 dias, segundo ele, quatro pessoas morreram no local.

Relatos colocam atuação militar em cheque

A vereadora  Neura da Silva Pereira (PT), que solicitou a reunião ao presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), autor do requerimento, disse que muitos assassinatos ocorrem à luz do dia, aumentando a insegurança da população. Ela também reclamou que muitos casos sequer chegam a ser apurados.
 
Um deles foi reclamado por Gilmar Dias de Freitas, que teve o irmão, José Messias, assassinado com cinco tiros em 29 de junho, no centro da cidade, próximo ao lava-jato e borracharia de sua propriedade. Gilmar disse que a PM sempre dava buscas na casa de José em busca de drogas, mas nunca encontrou. Embora a família tenha um suspeito, o caso continua sem solução. A esposa, Naiala Godinho, que na ocasião estava grávida de seis meses, afirma que ele nunca se envolveu com crime. Ela acabou sofrendo com a morte do marido e teve parto pré-maturo.

O tenente-coronel Santiago respondeu que José Messias foi uma das pessoas procuradas preventivamente para evitar o homicídio. “Infelizmente ele não nos ouviu e veio a óbito”, afirmou, sem dar mais detalhes.

O advogado Célio Silva Camargo denunciou o que considerou truculência de policiais, ao prendê-lo, junto com seu filho e também advogado Sidnei Ubner França Camargo, em 8 de outubro do ano passado, um dia após o resultado das eleições municipais. Ele disse que policiais tentaram prender integrantes de um trio elétrico, usado na festa da vitória do grupo que apoia o prefeito. Ao tentarem defender os clientes, os dois advogados foram presos, levados para o batalhão em Manhuaçu e mantidos durante toda a noite algemados.

Célio denunciou que o filho foi espancado e humilhado por policiais envolvidos na operação. Ele citou o nome de quatro sargentos: Ronan, Moura, Assis e Fonseca. “Nosso maior problema não são os crimes que ocorrem na cidade. A população de Lajinha está temendo é a inércia de muitos policiais que estão aqui”.

Sapos e jacarés - Outros moradores reclamaram da politização de policiais que defendem simpatizantes de uma facção partidária e perseguem os ligados à outra. A cidade é dividida entre os “Sapos”, simpatizantes do PMDB, e “Jacarés”, do PSDB. Foram citadas denúncias de que pequenos proprietários rurais são procurados para apresentarem suas armas e são presos em flagrante ao entregarem-nas de boa fé aos policiais. O deputado Durval Ângelo lembrou de um policial que usou o Facebook para zombar, de maneira desrespeitosa, da prefeitura.

O comandante informou que as apurações sobre o caso do trio elétrico foram concluídas e encaminhadas à Justiça Militar, que tem autonomia para tomar as providências cabíveis. Disse também que o policial que usou a rede social foi transferido da cidade e que as prisões por porte ilegal são corretas. O tenente-coronel sugeriu que os cidadãos procurem o comando regional em casos de desmandos dos policiais.

Durval Ângelo afirmou que já tinha discutido com o comando da PM sobre problemas com policiais da cidade, mas acreditava que já estavam sendo solucionados. Ele lembrou que policiais, civis ou militares, têm direito de participar da vida política e até de serem eleitos, mas precisam seguir as limitações impostas pela Constituição Federal e por leis específicas. “Quando são eleitos, eles precisam se afastar da atividade”, exemplificou.

O deputado se comprometeu a procurar a Ouvidoria e o Comando da PM para apurar as denúncias e pedir as providências. Também afirmou que fará um requerimento para encaminhar as notas taquigráficas da reunião para a corporação.