População de Vespasiano critica via de acesso à Cimentos Liz
Em audiência pública, moradores afirmam que projeto beneficia apenas a empresa e gera problemas ambientais.
06/08/2013 - 21:27 - Atualizado em 07/08/2013 - 12:55A população de Vespasiano (Região Metropolitana de Belo Horizonte), durante audiência pública conjunta realizada nesta terça-feira (6/8/13) pelas Comissões de Transporte, Comunicação e Obras Públicas e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), reivindicou um novo projeto para a construção da via de acesso à empresa Cimentos Liz. Segundo a vereadora Adriana Lara, se a construção for feita como atualmente está prevista, atenderá apenas à companhia. Para ela, a nova via deveria ser uma forma de melhorar a mobilidade de todos os moradores e trabalhadores da região.
O deputado Célio Moreira (PSDB), presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, destacou que a construção traz ainda impactos ambientais, mas ponderou a importância da empresa para a cidade. Por isso, segundo ele, o principal é saber como será feita a obra, quais impactos ambientais ela acarretará, quais serão as compensações propostas pela Cimentos Liz e quais serão os benefícios para a comunidade. “Sabemos da importância econômica e social da Cimentos Liz em Vespasiano. O que se busca é abrir nova discussão, ouvir as partes e coletar novas informações sobre a obra”, reforçou.
O projeto da obra foi apresentado por Francisco Alberto Moreira Cardoso, gerente de Projetos do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG). De acordo com Cardoso, ela se divide em dois trechos que totalizam 2,1 quilômetros. No primeiro deles, da Avenida Portugal (portaria da Cimentos Liz) até a Avenida Tiradentes, seria realizada a construção de nova via, que cruzaria o Ribeirão da Mata. No segundo trecho, da Avenida Tiradentes até a MG-010, seria realizado apenas o recapeamento da via já existente.
Mobilidade urbana e meio ambiente são foco de críticas
Para a vereadora Adriana Lara, o projeto deveria ser alterado para se adequar ao Plano de Mobilidade de Vespasiano. Ela sugeriu a mudança do local da nova via, que na sua opinião deveria ligar a MG-010 à MG-424. Ela denunciou ainda que o projeto atual invade a área de proteção no entorno do Ribeirão da Mata.
O problema ambiental foi também levantado pelo mobilizador do Projeto Manuelzão e conselheiro do Subcomitê da Bacia Ribeirão da Mata, José de Castro Procópio. Ele relembrou as constantes inundações que ocorrem em Vespasiano devido ao aterramento do Ribeirão da Mata. “Todo ano o risco de inundações aumenta, e isso está ligado à mentalidade de expulsão das águas com o asfaltamento. Nós temos uma bomba plantada no Ribeirão da Mata”, afirmou.
O prefeito de São José da Lapa, Francisco Fagundes de Freitas, pediu mais integração na região. Para ele, a rodovia deveria ligar a MG-010 até a MG-424, já que, dessa forma, permitiria a maior interligação de todas as cidades no entorno de Vespasiano. “Fazendo uma saída do lado contrário à Cimentos Liz, seria possível atender também ao projeto de desenvolvimento de São José da Lapa, já que permitiria o escoamento da produção do parque industrial em construção no município”, reforçou.
População reclama de ter sido excluída das discussões
Margarete Machado, moradora de Vespasiano e chefe de gabinete do presidente da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), questionou se a população foi ouvida durante as discussões sobre o projeto da nova via. Ela destacou que o debate deveria ter ocorrido em 2009, e não agora, com o convênio já assinado. Margarete ainda relembrou que a Assembleia enviou um pedido ao Governo do Estado para a realização de um estudo de viabilidade do projeto proposto pela vereadora Adriana Lara, mas nenhuma resposta foi obtida.
Por fim, Margarete destacou o alto nível de poluição emitida pela Cimentos Liz. Ela apresentou o histórico da luta da população contra a empresa. “Em 2009, realizamos audiência na Câmara Municipal de Vespasiano para pedir que a Cimentos Liz instalasse um filtro. Ela atendeu a demanda, mas em 2010 nada mudou. Em 2011, foi pedida a realização de audiência pública para analisar se as cimenteiras cumprem a legislação ambiental e se os limites de poluição emitidos são adequados para a saúde da população. A audiência foi cancelada. Em 2012, foi encaminhado pedido para instalação de uma estação de medição on-line, mas ainda não foi atendido”, relatou.
Após a fala de Margarete, o deputado Ivair Nogueira (PMDB) se comprometeu a apresentar requerimento para a realização de nova audiência pública na cidade para solicitar a implantação de uma estação de medição on-line do nível de poluição emitido pela Cimentos Liz.
Empresa diz que via vai beneficiar a cidade
O gerente de meio ambiente da Cimentos Liz, Rubner Rodrigues, concordou que acessibilidade é um problema sério em Vespasiano e que é necessário um ordenamento urbano para organizar o trânsito da cidade. “Esperamos que a nova estrada melhore o escoamento da produção em Vespasiano para que a população possa ir e vir com mais rapidez e comodidade nas alças da MG-010. Essa via não é exclusivamente da Cimentos Liz, todos os bairros do entorno se beneficiarão com as obras”, declarou.
O consultor ambiental do DER-MG Leomar Fagundes de Azevedo relembrou que o licenciamento ambiental da obra é de responsabilidade da Prefeitura de Vespasiano. Tal definição foi tomada durante a assinatura do convênio entre a autarquia e o Executivo municipal. Já o superintendente regional de Meio Ambiente, Diego Kolti, reforçou a defesa do projeto ao afirmar que a construção da via compôs o processo de licenciamento ambiental da Cimentos Liz como forma de melhorar o tráfego na região.