Sonolência é causa de grande parte dos acidentes rodoviários
Especialistas mostraram a importância de um olhar mais atento para a questão, durante reunião da Comissão de Transporte.
18/06/2013 - 16:27A sonolência é responsável por até um quarto dos acidentes nas rodovias brasileiras, segundo os especialistas presentes à audiência pública da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta terça-feira (18/6/13). Durante a reunião, convocada pelo deputado Ivair Nogueira (PMDB), foram apresentadas as principais causas para os acidentes de trânsito decorrentes de distúrbios do sono e discutidas possíveis soluções para o problema.
Entre esses distúrbios estão o ronco, o bruxismo e a apneia, apontada como o mal que mais consequências traz para os motoristas. A apneia é caracterizada pela obstrução das vias respiratórias durante o sono, o que inibe a passagem de ar por pequenos períodos. Assim, o indivíduo não descansa, pois a cada ciclo de apneia o seu corpo é chamado a agir para que ele possa respirar. “Uma pessoa que sofre de apneia apresenta redução na sua capacidade de atenção e reflexos lentos, uma combinação perigosa ao volante”, explica o presidente da Associação Mineira de Odontologia do Sono (Amos), Marco Aurélio Bonfim.
Outros sintomas da doença, mais frequente em homens, idosos e pessoas obesas, são sonolência diurna, insônia, hipertensão arterial, alterações de humor e redução da memória recente. “Pesquisas apontam que 32% da população da cidade de São Paulo têm apneia. Outro dado importante revelado por pesquisas é que 34% das pessoas diagnosticadas com apneia tiveram participação em ao menos um acidente de trânsito nos últimos cinco anos”, conta a médica especialista em medicina do sono, Cristiane de Oliveira. De acordo com a odontóloga do trabalho Maria de Lourdes Guimarães, 38% dos motoristas das empresas de transporte paulistas sofrem do distúrbio.
Segundo o presidente da Associação de Clínicas de Trânsito de Minas Gerais, João Luís Pimentel, outros fatores também concorrem para a sonolência e a fadiga dos motoristas, como carga horária excessiva, trabalho por turno, alimentação inadequada e o consumo de substâncias como anfetaminas e café, que apenas protelam os efeitos do sono.
Tratamento – Campanhas de conscientização, orientações sobre hábitos de sono e órteses bucais são as principais formas de tratamento para os distúrbios do sono e, consequentemente, para a redução de acidentes relacionados à sonolência. Em casos mais graves de apneia, os especialistas recomendam também o uso de uma máquina conhecida como CPAP, que exerce uma pressão contínua nas vias áreas, reduzindo bruscamente o número de apneias durante uma noite de sono.
O diagnóstico desses distúrbios se dá pela análise clínica dos sintomas e pela polissonografia, um teste que monitora o sono do paciente por meio de eletrodos. “O problema é que a polissonografia não é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, só por decisão judicial conseguimos realizar o exame sem ônus para o paciente”, afirmou Cristiane de Oliveira.
A Resolução 267 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que exige a avaliação do sono para interessados em tirar ou renovar carteiras de motorista profissionais (categorias C, D e E), também é uma importante aliada na luta contra os acidentes causados por sono e fadiga. Essas pessoas respondem a um teste de sonolência baseado em uma escala internacional e passam por uma análise clínica. Caso apresentem propensão ao distúrbio, são encaminhados à polissonografia, que dá o laudo definitivo.
Sindicato é favorável à avaliação do sono
O consultor do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado de Minas Gerais, Luciano Medrado, mostrou-se favorável às avaliações regulares dos motoristas para a verificação de seu estado de sono. No entanto, Medrado ponderou sobre a capacidade dos Governos Federal e Estadual para fiscalizar a atuação dos motoristas. Além disso, o consultor negou que haja sobrecarga na carga de trabalho dos profissionais da área e reivindicou a inclusão dos exames referentes aos distúrbios do sono em programas de saúde pública, que desonerariam as empresas.
Maria de Lourdes Guimarães acrescentou que algumas empresas já promovem programas de combate ao cansaço dos motoristas, com avaliações médicas, testes de vigília e fadiga, simulados de condução, palestras e tratamento.
Os deputados Ivair Nogueira e Anselmo José Domingos (PTC) ouviram os especialistas e se mostraram satisfeitos com a discussão. “Precisamos discutir e refletir sobre o assunto para aprimorarmos a legislação de trânsito ou apresentar novas proposições”, disse Ivair Nogueira.
Anselmo José Domingos informou ainda que a comissão pode apresentar uma proposta de seminário sobre os acidentes de trânsito causados por distúrbios de sono. O parlamentar cobrou também uma mobilização da polícia referente ao déficit de sono nos mesmos moldes das blitzes voltadas aos motoristas que ingeriram bebidas alcoólicas.