A pesquisa feita em Divinópolis foi apresentada em reunião da Comissão de Educação na Câmara Municipal de Divinópolis, nesta segunda (27)
Para o promotor Carlos José Fortes, o bullying passa pela agressão física e psicológica
O deputado Fabiano Tolentino e a deputada Maria Tereza Lara reforçaram o quanto o bullying pode marcar a trajetória das vítimas

Meninos entre 11 e 14 anos são maiores vítimas do bullying

Levantamento feito em Divinópolis aponta o bullying como 2ª maior causa de violência em instituições educativas.

27/05/2013 - 17:22

Adolescentes do sexo masculino, com idade entre 11 e 14 anos, são as principais vítimas de bullying nas escolas de Divinópolis e região. A constatação é de uma pesquisa feita pela Superintendência Regional de Ensino (SRE), apresentada em reunião da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada na maior cidade do Centro-Oeste do Estado nesta segunda-feira (27/5/13). De acordo com a analista educacional da SRE Ana Paula de Oliveira, foi aplicado um questionário em 134 escolas estaduais. O levantamento coloca o bullying como a segunda maior causa de violência dentro dos estabelecimentos educacionais.

Para Ariane Garrocho de Faria, professora da Fundação Educacional de Divinópolis (Funedi/Uemg), crianças que possuem doenças crônicas, principalmente asma e diabetes, são três vezes mais sujeitas a serem vítimas de bullying. De acordo com Ariane, essas enfermidades demandam uso de equipamentos especiais para tratamento e, muitas vezes, esses instrumentos são tomados da criança.

“Em estudos realizados na Europa, foi mostrado que crianças que sofrem bullying não fazem o tratamento de forma adequada. Seja porque os agressores impedem que a criança faça uso dos equipamentos, seja porque é iniciado um quadro de depressão que faz com que ela não queira se submeter ao tratamento”, destacou.

Autoridades apontam perfil dos agressores

Diversos especialistas apresentaram o perfil dos agressores, como essa situação afeta as vítimas e como é possível tomar providências para prevenção e punição. Para o promotor Carlos José Fortes, o bullying passa pela agressão física e psicológica e pelo isolamento do grupo. Assim, não há um crime com a denominação de bullying, mas alguns atos dentro desse conceito podem ser tipificados criminalmente. Ele ainda afirmou que aqueles que praticam essas agressões são covardes e possuem famílias desestruturadas. “Qual é a principal característica do agressor? Ele é um covarde. Ele também precisa de ajuda porque, geralmente, veio de uma família desestruturada”, afirmou.

O promotor aproveitou para apresentar as ações legais que podem ser tomadas por vítimas de agressões. Segundo ele, a família pode entrar com um processo civil por danos físicos e morais e, caso o agressor seja menor, o processo pode ser contra os seus responsáveis. Em caso de omissão da instituição escolar, é possível processar a própria escola. Quando o praticante de bullying é maior, ele pode responder criminalmente por agressão e injúria.

Já para a secretária municipal de Educação de Divinópolis, Eliana Cançado Ferreira, tanto o agressor quanto o agredido precisam de apoio. De acordo com ela, escolas sem um projeto pedagógico adequado, em que não há uma parceira com as famílias e onde os professores deixam os estudantes sozinhos e sem atividades por muito tempo são mais propensas a apresentar casos de bullying. Ela disse que existem dois tipos de agressão: uma mais direta, que se configura por violência física e é mais realizada por adolescentes do sexo masculino; e a indireta, que pode se apresentar como fofocas, injúrias e agressões, mais comum entre as meninas.

Por fim, ela esclareceu algumas atitudes que podem ser sintoma de que as crianças estão sofrendo bullying. “São vários os indicativos para se saber se um aluno sofre bullying: se a criança tem dor de barriga ou dor de cabeça na hora de ir para a escola, se fica isolada dentro de casa, se começa a ser violenta com crianças menores”, enumerou.

Ansiedade e depressão são relacionadas às agressões

A professora da Funedi/Uemg Patrícia Vieira e o professor da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Divinópolis (Faced) Renato Silva apresentaram as principais consequências psicológicas da prática do bullying. Para Patrícia, crianças e adolescentes vítimas de bullying sofrem de ansiedade, depressão e têm dificuldades de relacionamento. Com o passar do tempo, podem se transformar em adultos inseguros, que não aceitam o próprio corpo e são infelizes no ambiente profissional. “Além disso, quem sofre e quem pratica o bullying tem dificuldade de aprendizado”, reforçou.

O presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Divinópolis, vereador Eduardo Print Júnior (PDT), destacou que as testemunhas também sofrem com as agressões. Segundo ele, as pessoas que observam o bullying não denunciam por medo de também serem vítimas da violência. Ele destacou pesquisa realizada em 2010, que mostra que Belo Horizonte é uma das cidades com maior índice de violência nas escolas. “No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em crianças da 5ª e da 6ª séries, e que Belo Horizonte, Brasília e Curitiba são as cidades com maior número de casos desse tipo de agressão”, apresentou.

O deputado federal Domingos Sávio (PSDB-MG) relatou uma situação em que ele sofreu com agressões de um professor. Segundo o seu relato, o professor o chamou de “fracassado” e essa ofensa o fez repetir de ano. “Eu, com 12 anos de idade, estava sendo displicente na escola e logo no primeiro mês de aula da 5ª série, um professor, ao me entregar o resultado de uma prova de matemática, fez a seguinte observação para toda a turma: 'esse aqui é um fracassado'. A partir daí, não voltei mais a essa aula e perdi o ano. Um aluno que se sente humilhado pode ter a trajetória de vida destruída”, relatou.

A deputada Maria Tereza Lara (PT) e o deputado Fabiano Tolentino (PSD) reforçaram o quanto o bullying pode marcar a trajetória das vítimas e como uma fala pode ferir. “Temos que ter cuidado com a questão do bullying porque isso pode virar um estigma na vida de uma pessoa”, afirmou Tolentino. Já o presidente da Câmara de Divinópolis, Rodyson Oliveira (PSDB), reforçou a necessidade de construção de políticas públicas para que essas agressões não ocorram.

Mediação de conflitos - Após a exposição dos convidados, diversos presentes tiveram a oportunidade de emitir opinião sobre o tema. Entre as questões levantadas, está o papel do Estado na prevenção dessas agressões. A analista educacional Ana Paula de Oliveira destacou que estão em fase de implantação os comitês de mediação de conflitos e enfrentamento da violência nas escolas estaduais. Esses comitês seriam compostos por professores e alunos. Além disso, há um trabalho em rede com diversas instituições que permite um atendimento especializado para as vítimas do bullying.