Autoridades discutiram trânsito tumultuado em BH
Excesso de obras e metrô deficiente foram apontados como os maiores problemas do trânsito na Capital.
14/05/2013 - 13:32A falta de fluidez no trânsito de Belo Horizonte foi tema de audiência pública na Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na manhã desta terça-feira (14/5/13). O autor do requerimento, deputado João Leite (PSDB), citou uma série de gargalos nas vias da Capital, como o anel rodoviário, que não abraça toda a cidade e, por isso, para sair da região Norte para a Sul, ou da Leste para a Oeste, é preciso atravessar a cidade. “Então, se uma carreta para no anel, o trânsito da cidade inteira fica tumultuado. E isso acontece sempre porque quando estão muito pesados, os caminhões não conseguem subir o anel”, disse. A BR-381 também foi considerada outro gargalo, que, segundo o deputado, tende a piorar com a construção da rodoviária de Betim, que está sendo construída nas proximidades de onde a rodovia se encontra com a Via Expressa.
Em 2007, Belo Horizonte teve 56 mil acidentes de trânsito, enquanto em 2012 foram 72 mil. Sobre as manifestações de rua, foram 75 em em 2007 e 108 em 2012. Esses foram os dados apresentados pelo comandante do Batalhão da Polícia de Trânsito, Roberto Lemos. Segundo ele, são esses acontecimentos que consomem a maior parte do trabalho do Batalhão, que conta hoje com 445 homens. “Somos cobrados para colocar fiscalização nos cruzamentos da cidade, mas são cerca de mil deles espalhados pela Capital, precisaríamos de pelo menos 3 mil homens para conseguir fiscalizar esses espaços em todos os turnos”, disse.
O comandante Lemos também falou sobre a necessidade de se melhorar o transporte público e apresentou os dados que mostram a deficiência do metrô em Belo Horizonte. De acordo com ele, enquanto Londres conta com 415 quilômetros de metrô, Barcelona com 102 e São Paulo com 70, a Capital mineira tem apenas 28 quilômetros em sua linha. “E isso aproveitando os trilhos que já existiam e passam fora da cidade, sem atender as regiões de maior aglomeração”, afirmou. Sobre as linhas de ônibus, ele afirmou que são apenas 300 linhas para toda a cidade.
Para o diretor da Área de Saúde do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte, Welson Alexandre Santos, o problema não é a falta de ônibus e sim a lentidão deles. “Se aumentarmos o número de ônibus vamos apenas colocar mais veículos na rua e piorar o fluxo. Todos os ônibus continuarão atrasados porque não conseguirão andar”, disse. Segundo ele, o problema não é apenas no centro da cidade, mas também nas ruas dos bairros, onde as pessoas estacionam seus carros nas esquinas e os ônibus precisam fazer uma série de manobras para passar. “Tudo isso retarda a operação. Se a fiscalização não resolver isso, não teremos como melhorar o transporte público”, afirmou. Sobre os altos valores das passagens, ele disse que depende de subsídio governamental, que hoje não existe.
Ações no trânsito devem ser integradas em toda a Região Metropolitana
O diretor de planejamento da BHTrans, Célio Freitas Bouzada, também apresentou um dado que ajuda a justificar a piora do trânsito em Belo Horizonte nos últimos anos. De acordo com ele, a população da Capital cresceu entre 2001 e 2011 pouco mais de 6%, enquanto o número de veículos aumentou essa taxa por ano no mesmo período. Para Bouzada, o eixo central da solução está no transporte público, mas há outras medidas importantes. “É essencial um planejamento com integração metropolitana. Se Nova Lima não resolver os problemas do seu trânsito, BH terá que fazê-lo na Avenida Nossa Senhora do Carmo e isso é inviável”, disse.
Os projetos que pretendem fazer essa integração foram apresentados pelo gerente de planejamento da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Charlinston Marques Moreira. De acordo com ele, há um comitê sobre mobilidade com participação de representantes de todos os municípios da região metropolitana para discutir soluções conjuntas para os problemas. O principal projeto que atualmente está sendo estudado é a utilização das linhas férreas já existentes na região para o transporte de passageiros, que atenderiam regiões a um raio de 150 quilômetros a partir do centro da Capital.
Além de reforçar a necessidade de melhorar o transporte público e, ainda, realizar ações de educação no trânsito, o gerente de controle e monitoramento do DER, Ronaldo de Assis Carvalho, fez questão de rechaçar algumas das ideias que têm sido levantadas. As garagens subterrâneas, por exemplo, ele acredita que seriam medidas paliativas e não resolveriam os problemas. “Em algum momento, esses carros saem da garagem e chegam ao trânsito, esses estacionamentos não fariam mais do que maquiar as dificuldades. Se formos furar buracos no chão, que seja para colocar linhas de metrô”, afirmou.
Para o deputado Cabo Júlio (PMDB), porém, essas soluções paliativas são importantes para amenizar os problemas a curto e médio prazo. “Hoje é impossível estacionar no Centro de Belo Horizonte, uma vaga em estacionamento custa quase a mesma coisa que uma sala comercial. Quem precisa parar ali seria sim muito beneficiado por essas garagens subterrâneas”.
Excesso de obras viárias também influi no tráfego de veículos
O grande número de obras nas vias de Belo Horizonte foi tema de discordância entre os presentes. De acordo com o diretor de planejamento da BHTrans, Célio Freitas Bouzada, Belo Horizonte tem hoje o maior conjunto de obras viárias, proporcionalmente ao número de habitantes, no país. Mas ele destaca que esse cenário só está assim porque a cidade ficou duas décadas sem nenhuma intervenção nesse sentido. “Se o número de veículos aumenta e a infraestrutura não melhora não há como o trânsito não piorar”, disse Bouzada, que acredita que, apesar de causarem certos desconfortos, essas obras são essenciais.
O deputado Ivair Nogueira (PMDB), porém, chamou a atenção para algumas obras que são construídas e um ou dois anos depois são destruídas ou passam por reformulações. “Isso é falta de planejamento e não pode acontecer”, afirmou. Roberto Lemos, do batalhão da policia de trânsito, lembrou, ainda, que não se trabalha nessas obras à noite e durante os fins de semana, horários em que a interferência no trânsito seria menor.