Luana Bonone disse que últimos reajustes das bolsas apenas serviram para recompor perdas inflacionárias
José Policarpo Gonçalves de Abreu defendeu maior participação do setor empresarial no fomento da pesquisa

Pesquisadores buscam valorização e garantias trabalhistas

Investimento do setor empresarial foi apontado como uma das alternativas para impulsionar pesquisas

21/11/2012 - 21:11

Em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta quarta-feira (21/11/12), representantes de associações de pós-graduandos reivindicaram o aumento do número de bolsas de estudo, maior reajuste e acesso a garantias trabalhistas. A reunião, requerida pelo deputado Paulo Lamac (PT), aconteceu na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Para a presidente da Associação Nacional dos Pós-graduandos (APG) Luana Bonone, seria necessário um reajuste de 40% nas bolsas de mestrado e doutorado para reaver, de fato, o seu valor real. As bolsas são de R$ 1.200,00 e R$1.800,00 respectivamente. Ela explicou que, na década de 90, o benefício permaneceu congelado e que os reajustes periódicos dados, durante o governo Lula, só conseguiram recompor a inflação. “O aumento de 10% já concedido neste ano e mais 10% a ser recebido em 2013 mantém a mesma lógica: apenas cobrir as perdas inflacionárias”, ressaltou.

A representante da APG enumerou ainda outras reivindicações dos bolsistas e convocou todos a aderirem à campanha “Regulamenta, Dilma”, que busca a destinação de 100% dos recursos federais provenientes dos royalties do petróleo à educação. Luana disse que a política de valorização dos pesquisadores passa também pelo acesso a benefícios dados aos trabalhadores formais como direitos à previdência social e à licença-maternidade: “Hoje o pós-graduando que precisa se afastar para tratamento de saúde se encontra desemparado, há prejuízo não só para a sua sobrevivência como também para o andamento do trabalho acadêmico”.

Concorda com a proposta de vinculação dos royalties do petróleo à educação o diretor do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), João Roberto Loureiro de Mattos. Ele afirmou que será necessário grande mobilização para que seja incluído no orçamento da União mais recursos para atender a demanda atual: “As reivindicações são legítimas. Estamos trabalhando junto ao Ministério da Educação para aumentar o número de bolsas, que, em 2011, somaram o montante de 180 mil. Mas as contingências são muitas. Para dar o reajuste de 20% até 2013 tivemos que cancelar a concessão de novas bolsas”.

Atividade paralela – Outro impasse é o impedimento imposto pela maioria dos programas de pesquisa brasileiros ao bolsista, que não pode exercer outra atividade enquanto durar o mestrado e o doutorado. Essa é a política geral do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), dentre outros, segundo o presidente da Associação de Pós-graduandos da UFMG, Rafael Polidoro Alves de Barbosa. Para ele, é preciso criar regras objetivas para avaliar em que caso a dedicação poderia ser flexibilizada: “A vivência da docência ou do mercado podem até mesmo agregar dados à pesquisa”.

A professora da Universidade Federal de Viçosa, Josefina Bressan, diz que a política da instituição é a de cancelar a bolsa daqueles que se ocupam com outra atividade enquanto bolsistas. Ela se pergunta como fazer diferente quando não há bolsas para todos e muitos se decidam exclusivamente mesmo sem receber qualquer ajuda. Já o professor da Universidade Federal de Ouro Preto, Evandro Marques de Menezes Machado, conta que o curso de Ciências Biológicas adotou postura contrária: os discentes da pós-graduação podem lecionar mesmo sendo bolsistas. Contudo, o docente enfatizou que a concessão se restringe a esse departamento e que a falta de bolsas e melhores condições de efetuar as pesquisas estão desmotivando os alunos: “Muitos dos que fizeram mestrado não voltaram para o doutorado. Isso é preocupante”.

Setor empresarial deve investir mais

Para o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), José Policarpo Gonçalves de Abreu, o poder público deve cumprir o seu papel de agente fomentador do conhecimento, mas que a demanda só será de fato atendida de forma satisfatória quando o setor empresarial passar a investir efetivamente.

Ele afirmou que precisamos nos juntar à iniciativa privada e encontrar alternativas ao financiamento público dos mestrandos e doutorandos. De acordo com ele, a Fapemig já está estabelecendo parcerias nesse sentido. Temos um programa promissor chamado “Mestres e Doutores nas empresas”, ofertamos bolsas a esses pesquisadores para que desenvolvam seus projetos nas empresas. Depois deste período, eles acabam sendo contratados pelas mesmas. Tem dado certo”, ressaltou.

"Hoje destinamos cerca de R$ 60 milhões ao pagamento das bolsas e estamos diversificando nossos programas, pois temos que ser sobretudo criativos”, disse Policarpo. Ele conta que a Fapemig quer ampliar o incentivo a mestrados profissionais e a estudos de caráter tecnológico, acredito que isso possa também atrair recursos de empreendedores”, concluiu.

Requerimento – o deputado Paulo Lamac e o presidente da comissão, deputado Bosco (PTdoB), se comprometeram a formalizar o apoio às associações de pós-graduandos por meio de requerimento a ser apresentado em reunião ordinária da comissão.

Consulte o resultado da reunião.