Segundo o prefeito de Curvelo, José Maria Penna Silva, o desafio é a manutenção das equipes multidisciplinares para atuarem nos Caps-AD
Avanço das drogas preocupa Curvelo

Custeio é problema para cidades no enfrentamento às drogas

Prefeito de Curvelo cobra apoio aos municípios para manutenção de centros de tratamento.

25/10/2012 - 13:10

O município de Curvelo (Região Central) foi o cenário do debate realizado nesta quinta-feira (25/10/12) pela Comissão Especial para o Enfrentamento do Crack da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A cidade já tem recursos garantidos para a construção de um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD), mas isso não tranquiliza totalmente o prefeito José Maria Penna Silva, que se disse preocupado com as perspectivas de manutenção dos futuros serviços de atendimento aos dependentes químicos.

Silva afirmou que o Governo do Estado já cedeu à prefeitura tanto o terreno quanto metade dos recursos necessários para construção do Caps-AD, que pode ficar pronto em menos de um ano. Ele alertou, no entanto, para a dificuldade enfrentada pelas prefeituras para custear as equipes multidisciplinares que atuam nos Caps-AD. “Os municípios precisam de apoio para garantir a continuidade desse trabalho”, cobrou. Em geral, a manutenção dos Caps-AD são responsabilidade das prefeituras. O deputado presidente da comissão, deputado Paulo Lamac (PT), afirmou que o Governo Federal repassa recursos para isso, mas concordou que não são suficientes.

O parlamentar explicou o trabalho realizado pela comissão e alertou para dimensão do problema hoje. “O Brasil superou os Estados Unidos e atualmente é o maior consumidor de crack do mundo”, afirmou. Segundo o parlamentar, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) indica que quase 1,5% da população nacional usa crack, que se espalha por todas as classes sociais. “Há pessoas trabalhando sob efeito do crack no corte de cana na Zona da Mata mineira” disse Lamac.

Durante a reunião, um pedido de ajuda veio da dona de casa e manicure Ivanete Gomes da Costa, que tem um filho de 22 anos internado. “Eu preciso de ajuda para estar bem, para cuidar dele. E eu não sei onde procurar”, disse Ivanete, que tem outro filho de 16 anos e gêmeas de 7 anos. Ela foi orientada pelo psicólogo Alécio de Souza, responsável pela Comunidade Terapêutica – Associação de Amparo Social e Cultural de Curvelo. Souza recomendou que Ivanete procurasse as reuniões da entidade, às segundas-feiras, nos fundos da Igreja Batista Bethel.

Ocorrências – O comandante da 14ª Região da PMMG, coronel PM Jordão Bueno Júnior, chamou atenção para o crescimento do uso de crack na região. “Há anos, falava-se do crack como um problema de São Paulo. Hoje, recebemos denúncias de municípios com 5 mil, 3 mil habitantes”, afirmou. Segundo ele, nos 11 municípios da 14ª Região da PM, registraram-se 287 ocorrências relativas às drogas entre janeiro e setembro de 2012. Dessas, 116 são relacionadas ao crack. E dessas 116 registradas na região, 79 ocorreram em Curvelo.

O melhor caminho para enfrentar o problema, para o deputado Paulo Lamac, é unir esforços dos mais diversos setores sociais: polícia, igrejas, profissionais de educação, de saúde, Governo do Estado, famílias. Nesse sentido, o trabalho da comissão é organizado em cinco eixos: prevenção, tratamento, reinserção social do dependente, repressão qualificada e financiamento dessas políticas.

Uma das principais falhas, na avaliação na avaliação de Lamac, é que não temos hoje um fluxo definido para acolher e tratar os dependentes químicos. É preciso evitar uma repressão simplista, de forma que ela não se concentre nos consumidores das drogas ou pequenos traficantes. “Esses sujeitos, muitas vezes são escravos do tráfico, e o tratamento é muito mais barato do que a cadeia, onde o índice de recuperação é muito pequeno”, defendeu o parlamentar. Apesar dos problemas, ele se mostrou otimista. “Minas está à frente nesse debate”, afirmou.

A diretora da Superintendência Regional de Ensino de Curvelo, Leila Helena de Freitas Menezes, afirmou que Curvelo tem, apenas na sede do município, 9 mil alunos nas escolas estaduais. Ela relacionou diversas ações de prevenção desenvolvidas na área da educação e que já envolvem a região, tais como o ensino em tempo integral (em que o aluno permanece na escola por mais de um turno) e a atuação do Fórum pela Paz nas Escolas (Forpaz), uma articulação entre instituições públicas e entidades da sociedade civil organizada para reduzir a violência. Ela cobrou maior compreensão e participação dos pais com relação a essas iniciativas, uma vez que algumas famílias não permitem que seus filhos permaneçam o dia inteiro nas escolas.

Consulte o resultado da reunião.