Reduzir acidentes de trânsito é desafio da década
Palestrante do Siga Vivo no Trânsito ressalta alerta mundial da OMS para os próximos dez anos.
05/07/2012 - 14:32Em 2004, a lesão ocasionada por acidente de trânsito ocupava a 9ª colocação entre as causas de morte no mundo. Em 2030, se nada for feito, estará na 5ª posição. Esse alerta foi feito pelo presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro e vice-presidente da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados, deputado federal Hugo Leal, que proferiu a Palestra Magna do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo Fim da Violência no Trânsito. A abertura do encontro de Belo Horizonte foi realizada na manhã desta quinta-feira (5/7/12), no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, e foi comandada pelo presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado João Leite (PSDB).
Hugo Leal fez uma explanação sobre os desafios da próxima década (2011-2020), estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no sentido de reduzir em 50% os números relativos a acidentes de trânsito no mundo, que representam, anualmente, 1,3 milhão de mortes e 20 milhões de feridos, além de prejuízos financeiros na ordem de U$ 520 bilhões. No Brasil, morrem 40 mil pessoas por ano, 500 mil ficam feridas e o prejuízo financeiro é de R$ 30 bilhões. “Se não conseguirmos sensibilizar com o fator humano, se os rostos de quem morre não interessam, temos o fator econômico para considerar, a dificuldade financeira”, afirmou Hugo Leal.
Ele ressaltou, ainda, que cerca de 50% das mortes no trânsito no Brasil são de jovens entre 15 e 40 anos, sendo 73% do sexo masculino. “Quem morre no trânsito está em plena atividade. Vamos ter, em breve, um apagão de mão-de-obra no País, porque estamos perdendo jovens preparados para o mercado de trabalho”, alertou o deputado federal. “O transporte de carga, por exemplo, já sofre deficiência de pessoas para substituir. Isso é uma realidade que o Brasil precisa acordar. O trânsito deixou de ser questão de segurança pública, mas de saúde pública, de Previdência e do futuro do País”, opinou.
Apesar dos problemas brasileiros, Hugo Leal lembrou que a realidade no trânsito é semelhante à da Rússia, Índia ou China, por exemplo, e ressaltou dado que mostra que os países em desenvolvimento detém 30% da frota e contabilizam 70% das mortes de trânsito.
Deputado defende ações de prevenção
Para o deputado federal Hugo Leal, o Brasil não tem “organismo nacional com capacidade de coordenar nacionalmente planos, projetos e ações de prevenção e redução da violência no trânsito”. Ele citou problemas pontuais no País e ações que precisam ser adotadas como a melhoria e a adequação das vias de circulação. “Hoje, temos rodovias que são verdadeiras avenidas dentro do município. A estrada acaba e você passa dentro da cidade”, afirmou. Ele defendeu, também, o aumento no número de policiais rodoviários federais, além da adoção de programa de segurança para vulneráveis (pedestres, motociclistas e ciclistas), da capacitação de gestores e do aumento do serviço de perícia e análise de acidentes.
Em relação aos veículos, Hugo Leal destacou que é preciso padronizar normas de segurança veicular e investir em novas tecnologias. Criticou a cultura de motorização do Brasil e o crescimento industrial brasileiro fundamentado na indústria automobilística. “Estamos incentivando, concedendo isenção de impostos a veículos, sem ter contrapartida. Precisamos investir em transporte coletivo”, opinou.
Para o presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro, as campanhas educativas deveriam focar também nas motocicletas e não apenas nos automóveis. Ele também acredita que precisa provocar mudança no comportamento das pessoas. “Quero um bom cidadão e não apenas um bom motorista. Precisamos de mudança de comportamento e não mudança de legislação, que já é boa, por sinal”, destacou.
Hugo Leal ressaltou, ainda, a importância de investimentos na rede pública de saúde, principalmente porque, para ele, a saúde só recebe o ônus, que é o aumento de vítimas de acidentes, e não tem investimentos. Para ele, essa década de ação é importante para estabelecer políticas públicas e planos de longa duração com metas objetivas e acompanhamento permanente. “Que dia vamos enfrentar isto? Vamos esperar morrer 100 mil?”, questionou.
Parlamentar destaca os oito encontros regionais
O presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia, deputado João Leite, que comandou os trabalhos da manhã, agradeceu o esforço da ALMG de estar em todas as regiões de Minas Gerais no Ciclo de Debates Siga Vivo no Trânsito, com o objetivo de buscar soluções para os acidentes no Estado. “Em alguns locais, ficamos chocados com a banalização dos acidentes de trânsito e como a sociedade está ausente em participar e buscar soluções para resolver esse problema”, ponderou.
No discurso do presidente da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), lido pelo deputado João Leite, foi destacado que os oito encontros regionais trouxeram à luz valiosas informações sobre cada uma das regiões apresentadas, permitindo uma melhor compreensão das diferentes facetas desse assunto complexo. Para o presidente da Assembleia, há um consenso entre especialistas e autoridades de diferentes áreas que a reversão desse quadro depende fundamentalmente de uma ampla mudança de atitude, pois a maioria dos desastres é causada por imprudência ou negligência de motoristas, passageiros e pedestres.
Mesa – Além das autoridades citadas, participaram da mesa de abertura a chefe em exercício da Polícia Civil, Maria de Lourdes Camilli; a vice-presidente da Comissão de Segurança Pública da ALMG, deputada Maria Tereza Lara (PT); o representante do Tribunal de Contas do Estado, coronel Musso José Veloso; o superintendente regional da Polícia Rodoviária Federal em Minas Gerais, Davi Stanley Bonfim Dias; o subcomandante do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária, major PM Agnaldo Lima de Barros; e a defensora pública geral em exercício, Ana Cláudia da Silva Alexandre.