A construção da alça norte do anel rodoviário que liga a BR-135 à BR-251 é uma das soluções para reduzir o número de acidentes de trânsito registrados no entorno de Montes Claros (Norte de Minas). Essa foi a sugestão de deputados que participaram, na manhã desta sexta-feira (15/6/12), do quarto encontro regional do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Entre as 18 divisões rodoviárias do Estado, a região de Montes Claros, onde aconteceu a reunião, é a oitava em número de acidentes e a terceira em número de mortes no trânsito, atrás apenas de Belo Horizonte e Caratinga.

O deputado Paulo Guedes (PT) afirmou que conseguiu a promessa de agilização da obras, do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, e do diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG), José Elcio Santos Monteze. Ele contou que esteve com os dois durante a visita da presidente Dilma Rousseff a Belo Horizonte e que ambos se comprometeram a dar andamento à obra, que é reivindicada há cerca de 15 anos pelos moradores.

Tadeu Martins Leite (PMDB) e Luiz Henrique (PSDB) advertiram que os investimentos empresariais aguardados na cidade podem prejudicar ainda mais o trânsito. “Com certeza vai aumentar o tráfego de carretas. Não podemos mais ficar sem o anel”, reforçou Tadeu Martins Leite. Luiz Henrique defendeu a diversificação dos modais de transporte, com a utilização, por exemplo, de ferrovias e hidrovias, especialmente para o transporte de cargas. “O fluxo de veículos só vai aumentar, então o gestor público precisa pensar em alternativas”, disse.

Ações judiciais – O presidente da Comissão de Educação, deputado Bosco (PT do B), disse esperar que as sugestões apresentadas no ciclo de debates contribuam para reduzir o número de acidentes. “É preciso melhorar o curso triste desta história”, afirmou. O presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado João Leite (PSDB), que presidiu a reunião, lamentou o crescente aumento dos acidentes. Segundo ele, apenas este ano, o Hospital João XXIII, de Belo Horizonte, já atendeu 4.772 pessoas vítimas de acidentes, das quais 2,9 mil em ocorrências com motos.

O parlamentar sugeriu que o Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) acompanhe a atitude da Previdência Social e comece a impetrar ações judiciais contra os condutores responsáveis por acidentes com vítimas, que acabam se tornando dependentes das indenizações e aposentadorias por invalidez. “Não é mais possível que apenas o Hospital João XXIII destine seis dos 10 leitos de internação para vítimas de acidentes. Estamos vivendo uma epidemia e precisamos do engajamento de toda a sociedade para combatê-la”, afirmou.

Melhoria de estradas provocou aumento do fluxo de veículos e de acidentes

Montes Claros é cortada pelas rodovias federais 365, 135 e 251, onde ocorrem a maioria dos acidentes no município.  A inspetora Joana D'Arc Oliveira Alves, chefe da Delegacia de Montes Claros da Polícia Rodoviária Federal, lamentou o aumento de quase 20% no número de acidentes e de 70,6% no de mortes, entre 2009 e 2011. “Nosso problema maior é a gravidade dos acidentes, o alto índice de mortes ocorridas em cada ocorrência”, alerta a inspetora.

Em 2009, foram registrados 940 acidentes, com 68 mortes; em 2011, o número chegou a 1.122 e 116 mortes nas três rodovias federais. Ela explicou que, com a revitalização, em 2009, das rodovias 135 e 365, boa parte do fluxo de veículos que transitava pela BR-116 passou a optar pelas estradas melhoradas, o que contribuiu para multiplicar os acidentes.

As rodovias estaduais também sentiram os reflexos, pois recebem os veículos que chegam pelas federais. O major PM Nivaldo Ferreira Neto, comandante da 11ª Companhia Independente de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar de Minas Gerais, mostrou os números relativos aos mais de 3 mil quilômetros que cortam o Norte de Minas. Em 2011, foram 939 acidentes, que deixaram 65 mortos e 539 feridos. No primeiro quadrimestre deste ano, já ocorreram 320 acidentes, com 24 mortos e 196 feridos. Em relação ao mesmo período do ano passado, as ocorrências aumentaram. De janeiro a abril de 2011, foram 287 acidentes com o mesmo número de mortes e 155 feridos.

As duas corporações afirmaram que estão conseguindo estabilizar o número de acidentes, mas ainda não conseguiram retornar aos indices anteriores. Os dois representantes concordaram que, além do aumento da frota nas rodovias do Norte, o comportamento dos condutores continua sendo a principal causa dos acidentes, reforçando a necessidade de ampliar a educação no trânsito. A inspetora Joana D´arc disse que as colisões frontais correspondem a apenas 5% dos acidentes registrados, mas por quase metade das mortes. Segundo ela, essas batidas são provocadas geralmente por ultrapassagem indevida ou uso de álcool.

Outros encontros – O ciclo de debates é fruto da parceria da ALMG com mais de 50 instituições públicas e da sociedade civil envolvidas com a questão do trânsito e mobiliza cinco comissões permanentes em sua realização: de Segurança Pública; de Saúde; de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência; de Educação, Ciência e Tecnologia; e de Transporte, Comunicação e Obras Públicas.

O Ciclo de Debates Siga Vivo tem cinco objetivos principais: difundir a realidade da violência no trânsito; apresentar o impacto dos acidentes de trânsito nas vidas das famílias e nos sistemas públicos de saúde e previdência; debater as causas e possíveis soluções para o problema; articular agentes públicos para a adoção de medidas visando à redução das mortes e do número de vítimas; e sensibilizar a sociedade, por meio da educação e da mobilização, para um comportamento mais seguro no trânsito.

Além de Montes Claros, a programação prevê encontros em Uberlândia (Triângulo Mineiro), em 22/6; Juiz de Fora (Zona da Mata), em 25/6; Ibiá (Alto Paranaíba), em 26/6; Divinópolis (Centro-Oeste), em 28/6; e Belo Horizonte, na Assembleia, em 5/7. Até agora, já foram realizados três encontros regionais: em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte), Governador Valadares (Rio Doce) e Poços de Caldas (Sul de Minas).