Familiares do músico Vinicius Maia apontaram falhas na investigação
Família do sargento reformado Marcos dos Reis Henriques relata que ele desapareceu após negociação da venda de um carro
Deputados cobram investigação de desaparecimentos de pessoas em Minas

Demora e despreparo de policiais são criticados em audiência

Comissão vai requerer providências para agilizar solução para desaparecimentos de músico e sargento da PM.

29/05/2012 - 17:26

A demora no atendimento das ocorrências e a falta de treinamento especializado de policiais civis e militares foram os principais problemas apontados pelas famílias do músico Vinícius Maia de Carvalho, de 28 anos, conhecido como “Mainha”, e do sargento da reserva da Polícia Militar Marcos dos Reis Henriques, de 48 anos, em audiência pública, realizada nesta terça-feira (29/5/12), para discutir o desaparecimento de ambos. Os deputados da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que promoveu a reunião, vão cobrar ainda providências às autoridades de segurança do Estado para solução dos casos e ampliar as políticas publicas voltadas às buscas por pessoas desaparecidas.

Gustavo Maia, irmão de Vinícius Maia, lembrou as circunstâncias do caso e apontou o que considerou erros e falhas dos policiais e bombeiros envolvidos na ocorrência. De acordo com o relato, Mainha teria sofrido um surto desencadeado por uma quadro de depressão. Ele tomou o controle do veículo onde estava com o pai, Pedro Alves Carvalho, caminhou em direção à Ponte do Valão e se atirou no Rio Doce, no município de Rio Casca, Zona da Mata, no último dia 11 de janeiro. “Meu pai chegou a ver meu irmão saindo do rio e adentrando, em seguida, a mata. Apesar de ter feito contato com os bombeiros e a polícia imediatamente, só depois de 24 horas, os oficiais de Itabira iniciaram as buscas”, enfatizou.

Segundo Gustavo, a demora e o contingente de apenas quatro bombeiros podem ter prejudicado o sucesso da operação. Ele explicou ainda que os profissionais não contavam com um “mateiro”, que pudesse guiá-los pela região. Ainda segundo Gustavo, houve despreparo dos policiais que atenderam a notificação além do fato de que, até o momento, nenhum representante da Polícia Civil entrou em contato com a família. “Trataram o desaparecimento de Vinícius com certo descaso e preconceito, como se ele não merecesse os esforços da polícia. Não estamos aqui para desmoralizar ninguém, apenas queremos cobrar uma abordagem mais humanizada e fazer um alerta sobre os problemas que acreditamos ser estruturais nas instituições de segurança do Estado”, ressaltou. 

Para a irmã de Mainha, Daniela Maia, faz-se necessário alimentar o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas (CNPD) recorrentemente e integrá-lo a outros equipamentos públicos como hospitais e abrigos. Ela contou que, muitas vezes, passou por diversos andarilhos e que nunca havia se preocupado em saber o que teria acontecido com aquela pessoa. Daniela disse que o irmão está doente e precisa do auxílio da família e que muitos outros familiares devem estar na mesma situação, uma vez que, conforme informações levantadas por ela, cerca de sete pessoas desaparecem todos os dias em Minas Gerais.

O delegado responsável pelo caso, José Marcelo de Paula Loureira, afirmou que a Polícia Civil prossegue com os trabalhos de investigação. Ele reconhece a limitação da atuação, sobretudo em função do déficit de profissionais. “Eu tenho apenas cinco investigadores e nem mesmo há um escrivão em nossa unidade; temos que atender uma área muito maior que o município de Rio Casca”. Para o delegado, outra dificuldade do caso são as informações desencontradas. Ele explica que existem muitos andarilhos na região e que o Vinícius já foi confundido com alguns deles, “mas garanto que não vamos desistir ou abandonar o Vinícius”, concluiu.

Sargento pode ter sido vítima de crime

“Meu marido foi vítima de um crime e gostaria que o seu desaparecimento fosse tratado como tal”, a consideração foi feita por Adinéia Edna da Silva Henriques, esposa do sargento Marco dos Reis Henriques, desaparecido desde o último dia 3 de dezembro de 2011, no município de Contagem. Adinéia contou que ele saiu de casa, em Ibirité (Região Metropolitana de Belo Horizonte), para negociar a venda de um carro, levando a quantia de R$ 5 mil em dinheiro. O encontro foi marcado pela internet. Depois disso, ele seguiria para o sítio da família, onde não foi localizado. “Desde então vivo em constante espera e sem respostas”, desabafou.

Ainda conforme Adinéia, o marido não desapareceu, pois estava feliz, tranquilo. Ela disse que eles faziam planos de viajar e de morar em uma chácara no interior, uma vez que ele havia se aposentado recentemente. A filha, Débora Stephanie de Oliveira Henriques, concorda com o ponto de vista da mãe e reclamou da falta de orientação e de celeridade na condução das investigações e do inquérito policial.

De acordo com Débora, mesmo depois de quase seis meses do desaparecimento de Marcos, a Polícia Civil ainda não havia solicitado a quebra do sigilo telefônico do pai. Ela diz acreditar que essa medida poderia esclarecer não só o último paradeiro do sargento como também revelar quem teria se encontrado com ele. A estudante pediu ainda aos deputados da Comissão de Segurança Pública apoio para mobilizar a sociedade em prol do projeto de Iniciativa popular pela Pessoa Desaparecida, que busca a criação de delegacias especializadas, dentre outras medidas.

O delegado do 4° Distrito de Contagem da Polícia Civil, Antônio Fradique de Araújo, informou que o pedido de quebra de sigilo telefônico e bancário do sargento foi enviado à Justiça na semana passada, depois que foram esgotadas as pistas preliminares. Ele esclareceu que a unidade onde trabalha deve atender uma população de 130 mil pessoas e dar andamento a 800 inquéritos e para tanto conta com oito investigadores e um escrivão. “Não estamos justificando nada, apenas mostrando qual é a nossa realidade de trabalho”, enfatizou.

Pedidos de providências

Os deputados João Leite (PSDB), presidente da Comissão de Segurança Pública, e Sargento Rodrigues (PDT) fizeram alguns questionamentos aos representantes das polícias Civil e Militar. Além das indagações, o presidente convocou reunião extraordinária a ser realizada pelos membros da comissão, nesta quarta-feira (30/5/12), às 15 horas, para aprovar requerimentos cobrando providências acerca dos casos em pauta.

Para Sargento Rodrigues, os desaparecimentos apresentam nuances bem diferenciadas e merecem ações específicas. Ele diz acreditar que o sargento Marcos tenha sido, de fato, vítima de um crime. Ele interpelou, então, o investigador da Polícia Civil, Alex Lomas de Souza Ameno, sobre as maiores dificuldades desta investigação.

Alex afirmou que a burocracia para conseguir autorização de quebra dos sigilos telefônico e bancário, a falta de recursos humanos e de apoio logístico são impasses a serem superados. Ele disse que a linha de trabalho pode sofrer uma reviravolta quando o acesso às informações telefônicas e bancárias for liberado. Vamos poder, talvez, mapear o percurso de Marcos Henriques.

Para auxiliar o processo de busca por Vinícius Maia e Marcos Henriques, os deputados vão enviar ofício ao juízo de Contagem para que o pedido de autorização para quebra dos sigilos seja apreciado com mais celeridade e solicitação ao comandante da Polícia Militar de Minas Gerais para organização de uma força tarefa nas regiões próximas a Rio Casca, dentre outras providências. Também participaram da reunião os deputados Maria Tereza Lara (PT) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB).

Consulte o resultado da reunião.