ALMG debate propostas para aumentar a segurança no trânsito
O Ciclo de Debates Siga Vivo teve início na manhã desta segunda-feira (21) em Betim.
21/05/2012 - 12:45A Assembleia Legislativa de Minas Gerais deu início, nesta segunda-feira (21/5/12) ao Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito.Trata-se de uma iniciativa que conta com o apoio de mais de 50 entidades e cujo objetivo é discutir e buscar propostas para reduzir os acidentes e mortes nas ruas e estradas mineiras. O primeiro dos sete encontros regionais aconteceu em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte). A etapa final será na Capital, no dia 5 de julho.
O deputado João Leite (PSDB), que coordenou os trabalhos na parte da manhã, leu a mensagem do presidente da Assembleia, deputado Dinis Pinheiro (PSDB). No discurso, Dinis Pinheiro lembrou que, no Brasil, entre 30 mil e 50 mil pessoas morrem por ano em decorrência de acidentes de trânsito. Além do sofrimento causado a milhares de famílias, os desastres provocam impacto no sistema de saúde, sendo que os recursos poderiam ser usados na melhoria das condições de vida da população. Dinis Pinheiro lembrou que boa parte dos acidentes tem a ver com as atitudes de quem dirige veículos – negligência ou comportamento de risco, como excesso de velocidade e consumo de bebidas alcoólicas.
Segundo ele, é preciso promover uma mudança cultural, despertando em cada condutor a necessidade de mudar seu comportamento no trânsito. Ao destacar que o problema só pode ser enfrentado com a participação da sociedade, o presidente cobrou a responsabilidade de cada entidade participante. “Conclamamos todos a darem-se as mãos e fazer o que estiver ao seu alcance para reduzir os acidentes e mitigar o sofrimento que os desastres causam a tantas famílias”, finalizou Dinis Pinheiro.
Para especialista, País vive “guerra não declarada”
O primeiro palestrante da manhã, o coordenador da Associação nacional de Transporte Público (ANTP) e superintendente de Desenvolvimento Urbano e Trânsito da Secretaria de Estado das Cidades de Goiás, Antenor Pinheiro, começou sua fala exibindo um vídeo mostrando cinco pessoas sem capacete, sendo duas crianças, rodando em uma moto na estrada. Em seguida, revelou estatísticas que ele comparou a uma “guerra mundial não declarada”.
Os dados do Ministério da Saúde apresentados por Antenor Pinheiro mostram que, depois dos homicídios, os acidentes de trânsito terrestres são os que mais matam no Brasil. São 40.610 mortes por ano, ou 103 por dia. Os desastres são responsáveis por 339 internações por dia, disse Antenor Pinheiro. “Aí fica fácil entender o custo da saúde pública no Brasil”, afirmou o superintendente, mostrando que os R$ 88 bilhões anuais gastos pelos governos para o tratamento de pessoas acidentadas são suficientes para adquirir 372 milhões de cestas básicas ou 2,5 milhões de casas populares. Ou ainda construir 1.800 hospitais de reabilitação equipados ou 608 quilômetros de linhas de metrô.
“Esse é o dinheiro que vai para o ralo”, destacou o superintendente, lamentando que “o brasileiro se ilude achando que um acidente nunca vai acontecer com ele”. As estatísticas referentes a Minas Gerais mostram que, de 2006 a 2010, foram 4.131 mortes por ano, em média. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ocorreram 981 óbitos decorrentes de desastres automobilísticos entre 2009 e 2010, o que corresponde a 22,6% das mortes no Estado nesse período.
Campanha – Uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) tem o objetivo de promover ações para reduzir em pelo menos 50% as mortes no trânsito até 2020. O superintendente informou que esse número chega, anualmente, a 1,3 milhão,
ou 149 por hora. “O Brasil é um dos signatários dessa campanha e por isso temos a obrigação de fazer nossa parte”, disse ele, acrescentando que o ciclo de debates promovido pela ALMG é um exemplo a ser seguido por outros Estados.
Antenor Pinheiro defendeu investimentos públicos em transporte coletivo, com a estrutura adequada para que ele funcione bem. “Um ônibus com 60 pessoas corresponde a 46 carros na rua”, comparou, dizendo que é preciso cada vez mais desestimular o uso do carro e da moto. Ele falou ainda que é preciso adotar políticas públicas que envolvam não apenas a educação e a estrutura viária, mas o planejamento urbano como um todo e a inclusão social.
Para o superintendente regional da Polícia Rodoviária Federal em Minas Gerais, inspetor Davi Stanley Bomfim Dias, não adianta reclamar das estatísticas. Ele disse que, de agora em diante, é preciso pensar no que pode ser feito diante dessa situação, destacando a participação da sociedade no processo de conscientização dos condutores de veículos e dos pedestres. Ele falou que, dos 60 pontos mais críticos para acidentes nas rodovias federais, Minas tem quatro: dois na BR-381 e outros dois na BR-040. O inspetor relatou ainda algumas ações da Polícia Rodoviária Federal para aumentar a segurança nas estradas.
O chefe da Seção Técnica de Trânsito da Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar de Minas Gerais, capitão José Procópio Corrêa Júnior, apresentou dados sobre os acidentes, as mortes e os pontos críticos de Betim, cidade que tem a 7ª maior frota do Estado, com 135.729 veículos. Ele descartou a possibilidade de extinção de acidentes de trânsito, mas falou que é possível minimizá-los. Apesar de reconhecer a importância de se conscientizar os condutores, o capitão defendeu obras viárias que os obriguem a reduzir a velocidade.
Deputados ressaltam a importância do debate
Também presente à abertura, o presidente da Comissão de Saúde da ALMG, deputado Carlos Mosconi (PSDB), falou que a violência no trânsito é um tema gravíssimo que traz um sofrimento enorme às famílias brasileiras. “A culpa é de todos nós”, disse Mosconi, lembrando que a sociedade nunca se conscientizou para o problema. “As leis estão aí, a sinalização nas rodovias estão melhorando, mas isso não é suficiente para nos dar tranquilidade, pois o problema é cultural”, disse o deputado.
Já a deputada Maria Tereza Lara, co-autora do requerimento para o Ciclo de Debates, lembrou que, em 2011, ocorreram 27 mil acidentes de trânsito em Minas Gerais, sendo 1.022 com vítimas fatais. Ela lembrou que as motos, apesar de representarem 12% dos veículos nas ruas, estavam envolvidas em 50% dos desastres.
Relatos – O deputado João Leite convidou o motociclista Wellington Ferreira Gomes a dar seu depoimento. Gomes contou que, há dois meses, envolveu-se em um acidente com um ônibus, e não morreu por milagre. Ficou internado por 20 dias e carrega até hoje sequelas. “A vida vale mais. Não
interessa a pressa, porque há várias outras vidas que dependem da minha”, disse o motociclista. O padre Gilson de Oliveira Filho, de Vespasiano (Região Metropolitana de Belo Horizonte), também relatou um caso de acidente de trânsito envolvendo um de seus 16 filhos adotados, que morreu numa batida de moto com um carro e um caminhão.
Participaram da mesa de abertura, além dos deputados e palestrantes, a prefeita de Betim, Maria do Carmo Lara, o presidente da Comissão de Transporte da Câmara de Vereadores de Betim, Vagner Rosa, o tenente-coronel Júlio César, o delegado de polícia Cleidson Rezende, e o defensor público Nicolas Stefani. As atividades do ciclo de debates em Betim prosseguem na tarde desta terça (21).