Parque continua na Gameleira, mas há dúvidas sobre projeto
Deputados, governo e associações de criadores discutem destino do Parque de Exposições Bolivar de Andrade.
28/03/2012 - 19:14Apesar de o Governo do Estado ter anunciado que, por ora, não vai transferir o Parque de Exposições da Gameleira para outro local, ainda pairam dúvidas quanto à continuidade, no longo prazo, do parque naquele espaço e sobre a viabilidade do projeto de modernização apresentado. Parlamentares, representantes do Governo de Minas e de associações de criadores de animais participaram, nesta quarta-feira (28/3/12), de audiência sobre o assunto na Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
O diretor-geral do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Altino Rodrigues Neto, informou que, após negociações com associações de produtores rurais, o governo decidiu manter o Parque Bolivar de Andrade (nome oficial do espaço) no mesmo local, o bairro Gameleira, na Capital. Ele explicou que a ideia da mudança foi aventada em função de uma série de exigências feitas à administração do parque por parte de órgãos estaduais e federais.
Exigências – Entre as exigências, que partiram de Prefeitura, Ministério Público, Corpo de Bombeiros e Ministério Público do Trabalho, entre outros, estão o licenciamento ambiental, tratamento de efluentes e projeto de segurança. Mais recentemente, conta ele, o MPT exigiu a construção de alojamentos adequados para os cerca de 500 tratadores de animais que trabalham durante as exposições.
Segundo Altino Neto, nas condições atuais, o Governo do Estado não teria como realizar todas as mudanças exigidas pelas autoridades e, por isso, sugeriu uma parceria público privada (PPP) para fazer as adequações necessárias. Essa proposta, de acordo com Altino, é a de realizar todas as melhorias para modernização do parque, que passaria a ser multiuso e teria, ao lado, um centro de convenções. Por fim, ele destacou que, nas conversas entre governo e produtores, ficaram evidenciadas as dificuldades enfrentadas por outros Estados que mudaram seus parques de exposições de lugar.
O presidente da Faemg, Roberto Simões, relatou que a desistência de transferir o parque só se deu com a pressão da entidade e de outras que representam os produtores rurais, principalmente os criadores. Ele avalia que o projeto em curso deve solucionar o problema. Simões informou que o Governo de Minas já lançou o chamado procedimento de manifestação de interesse (PMI), em que empresas interessadas se inscrevem para disputar quem vai bancar o projeto, o qual prevê a modernização do parque, a construção do centro de convenções e de um hotel, entre outros. “Esse é o momento de aguardarmos a manifestação dos interessados para que possamos avançar”, afirmou.
Virgílio Vilefort Martins, vice-presidente das Associações Mineiras dos Criadores de Guzerá e Gir Leiteiro, disse que conseguiu sensibilizar o governo mostrando a importância do parque para os produtores mineiros. São eles que garantem a Minas a primeira colocação nacional no ranking dos maiores rebanhos bovino e equino, da produção de carne e leite, entre outros. Ele destacou que, em novembro de 2011, o próprio José Altino Neto garantiu que o calendário do parque para 2012 e 2013 estava mantido e que o espaço não seria transferido até que fosse construído outro parque.
Na opinião de Virgílio Martins, o projeto contempla tudo que o setor pediu em documento enviado ao governo: a modernização do espaço, a preferência do parque na formulação do calendário de eventos, privilegiando o período de seca para as associações de produtores. Mas ele advertiu que as associações devem ter cuidado, porque a pressão dos setores industrial e comercial são muito fortes no Expominas. Ele reivindicou estacionamentos e estandes com custo mais baixo para os produtores, e defendeu que os estudantes também tenham acesso garantido ao parque. O documento da comissão de produtores também solicita que não haja descontinuidade das exposições durante a reforma do local.
Criador de campolina teme desativação do parque em breve
Já Emir Cadar, presidente da Academia Brasileira dos Criadores do Cavalo Campolina, mostrou-se desanimado com a proposta do governo para o Parque de Exposições. “Não se iludam. Nós estamos perdendo o Parque da Gameleira! Vamos tomar um ‘chega pra lá’, de forma sutil, como aliás vem acontecendo há muito tempo”, reclamou. Para Cadar, o projeto significa a derrota dos pecuaristas, que estão perdendo de vez a “sua casa”. Ele avalia que esse processo de diminuir o espaço do parque já vinha ocorrendo, tanto que não há mais estacionamento para os produtores.
Também nessa linha, o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) defendeu: “é preciso reafirmar que consideramos inegociável mudar o Parque da Gameleira”. Ele se mostrou totalmente cético em relação às garantias que teriam sido dadas pelo governo às associações. “Alguém pode acreditar que não haverá descontinuidade nas exposições no parque com essa obra? Uma vez levado à frente esse projeto, quem vai administrar o parque? A empresa que construiu, o dono do hotel, o IMA?” ironizou.
O deputado Fabiano Tolentino (PSD), que solicitou a audiência com o deputado Carlin Moura (PCdoB), disse que o Parque da Gameleira é o melhor espaço do País para esse tipo de evento. “Já fui peão, criador de cavalos e juiz de provas; rodei todo o Brasil e não conheço nenhum parque tão acolhedor e de fácil acesso quanto o nosso”, declarou. Ele disse que “vai chegar uma hora em que aquele espaço não será suficiente, mas este momento ainda não chegou”, defendendo a permanência do Parque no mesmo local.
Para Carlin Moura, o aval do vice-governador ao processo pode garantir que os compromissos firmados com os produtores sejam cumpridos. Mas ele concordou em parte com Emir Cadar quanto à necessidade de se preservar o parque, que seria um patrimônio da cidade e de Minas Gerais. “Talvez mais à frente, poderemos chegar a uma outra proposta, que seria a de manter o parque como está e de se criar outro, ao mesmo tempo”, sugeriu.