Audiência celebra 104 anos do Atlético
História do clube se mistura à de Belo Horizonte e ajuda a explicar a paixão dos torcedores.
26/03/2012 - 18:03A trajetória do Clube Atlético Mineiro e sua relação com a história de Belo Horizonte foram pontos de destaque na audiência pública realizada pela Comissão de Esporte, Lazer e Juventude para comemorar os 104 anos do Galo. O encontro reuniu, nesta segunda-feira (26/3/12), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, torcedores, estudiosos, dirigentes e ex-atletas, como Vavá e o atual deputado Marques Abreu (PTB). Às demonstrações da paixão atleticana, se juntaram reivindicações para que o clube interiorize suas ações e invista nas categorias de base.
Coube ao historiador e chefe do Departamento de Tratamento, Pesquisa e Acesso do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, Raphael Rajão Ribeiro, relacionar os 104 anos do Atlético aos 114 da Capital. O então Atlético Mineiro Futebol Clube foi fundado em 25 de março de 1908 e é o mais antigo time mineiro em atividade. Isto porque o Sport Clube Foot-ball, criado em 1904, foi extinto três anos depois. A primeira dificuldade do clube, segundo o historiador, foi para comprar a bola, vinda da França. BH também enfrentava o desafio de crescer e de se consolidar.
Uma nova fase para ambos veio na década de 1920, quando cresceram e se firmaram. O Atlético, de acordo com Raphael, aceitava jogadores de várias origens, que viravam ídolos populares. A torcida também era democrática e aceitava os forasteiros. Nos anos 1950, segundo ele, isso atingiu outro patamar, com os vários títulos do Galo, a inauguração do Estádio Independência e a escolha de BH como sede da Copa de 50. “Belo Horizonte teve uma explosão habitacional e as pessoas precisaram de elementos de identidade. O Atlético virou clube popular, time do povo”, salientou o historiador.
As mudanças no campo do Atlético – de onde hoje está o Minascentro, na Avenida Augusto de Lima, para próximo da sede, em Lourdes –, e ainda a subversão à ordem no período da ditadura militar, quando as comemorações do Galo eram feitas na Praça Sete, foram outros pontos de intercessão entre o clube e a cidade citados por Raphael.
Centro de Memória resgata história do time
Ídolo do Galo no início dos anos 1950, Walter José Pereira, o Vavá, apresentou o trabalho do Centro Atleticano de Memória, do qual é vice-presidente. E também contou episódios de que participou, como a excursão à Europa, em 1950, quando o Galo ganhou o título simbólico de "Campeão do Gelo". “Os alemães queriam levar para a Europa um futebol mais clássico e técnico e escolheram o Atlético”, disse. Para Vavá, a viagem foi num período que marcou o início do desenvolvimento do futebol europeu como conhecemos hoje, tanto que os alemães ganharam a Copa do Mundo em 1954.
O vice-presidente do Atlético, Daniel Nepomuceno, enfatizou a paixão dos torcedores: “Na história do futebol brasileiro, é o time que mais levou público aos estádios. Na venda de uniformes, temos recordes seguidos. E a fidelidade aumenta mesmo com a carência de títulos”. Ele salientou ainda a responsabilidade de ser dirigente do clube e lidar com a emoção e a paixão de milhares de pessoas.
O fenômeno da paixão atleticana foi citado também, nos debates, pelo juiz federal Lincoln Pereira Costa. “Quando o Galo vai mal, afeta a produtividade, o humor do torcedor. Isso precisa ser explicado”, pontuou. Fael Lima, do blog Camisa Doze, reforçou essa tese citando o torcedor que colocou nomes com “R” em seus oito filhos, em homenagem ao jogador Reinaldo, além de uma torcedora que catava latinhas para pagar o carnê de sócio-torcedor. “O Atlético precisa de títulos para conquistar novos torcedores, sobretudo entre as crianças”, enfatizou.
Deputados destacam importância do clube
Visivelmente emocionado, o deputado Marques Abreu (PTB), presidente da comissão, falou de sua atuação no Atlético e da relação com a “torcida mais bonita que existe”. Mesmo tendo jogado em outros clubes, o deputado se define como atleticano. Rogério Correia (PT) reforçou o sentido social do clube e a necessidade de um estudo sobre o fenômeno de massa que o envolve. Já André Quintão (PT) salientou que o Atlético é uma instituição que vai além do futebol em si e que a homenagem é propícia no momento em que o País prepara a Copa do Mundo.
Os três parlamentares assinaram o requerimento para a audiência, além de Gustavo Valadares (PSD) e Carlin Moura (PCdoB). André Quintão reforçou a necessidade de interiorização das ações do Atlético e de mais investimentos nas categorias de base. Daniel Nepomuceno citou, entre as dificuldades, a maior organização de outros Estados na preparação de jovens jogadores e na organização de torneios amadores, que revelam esses futuros profissionais, além do fato de as redes de televisão transmitirem sempre jogos do Rio de Janeiro ou de São Paulo para o interior de Minas.