Convidados discutem ações para a recuperação da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte

Estudo aponta situação crítica da Lagoa da Pampulha

Levantamento feito pela UFMG mostra que 22% da área está assoreada

07/12/2011 - 14:59

Assoreamento, invasão de espécies exóticas de peixes e deposição inadequada do lixo. Esses são alguns dos problemas que atingem a Lagoa da Pampulha apontados em audiência pública para discutir o lançamento do Atlas da Qualidade da Água do Reservatório da Pampulha, elaborado pelo Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios (LGAR), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A reunião foi promovida pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (7/12/11).

O biólogo Ricardo Motta Pinto-Coelho, vice-presidente da Fundação Unesco-Hidroex e coordenador do LGAR, foi quem produziu o Atlas, juntamente com alunos e pesquisadores. Previsto para ser lançado em janeiro de 2012, o documento traz números que mostram a situação crítica em que se encontra o espelho d’água da Pampulha.

Mensalmente, quase 5 toneladas de poluentes são despejados no local por oito córregos. O lixo e o esgoto foram responsáveis pela redução de 20% de seu porte nos últimos 20 anos, segundo apontou o levantamento. Ainda de acordo com o estudo, quase 22% da área estão totalmente assoreadas. “A represa da Pampulha apresenta desafios tecnológicos e de gestão que precisam ser superados para que possamos voltar a desfrutar da área”, afirmou Ricardo.

Oportunidade – Para o biólogo, as copas das Confederações e do Mundo, em Belo Horizonte, são oportunidades para que se possa ter uma lagoa em condição melhor que a atual. Ricardo acredita que, em 2014, se ações forem concretizadas, é possível ter índices de qualidade de água próximos aos que foram no passado. “O momento é agora, temos a 'faca e o queijo' na mão: é preciso promover um movimento apartidário em prol da lagoa”, afirmou.

O coordenador do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, discorda. Para ele, a lagoa só fica em foco em épocas de eleição ou de grandes empreendimentos, como a Copa. “Não vamos enganar a população de Belo Horizonte: ela não ficará ideal em 2014”. Para ele, “anos de negligência” dificultam uma solução rápida. Apolo acredita que muitas obras que vêm sendo feitas, como algumas voltadas para o desassoreamento, são apenas “maquiagem”. Ele justifica sua opinião dizendo que “nunca houve, até hoje, um trabalho de profundidade para resolver o problema”.

Segundo Apolo, o principal programa, atualmente, que pode beneficiar a limpeza do espelho d'água é o Caça-esgoto, de levantamento e corte de lançamentos clandestinos de resíduos em córregos. No entanto, ele alertou que é preciso sensibilizar a população. “Se a Copasa fizer o trabalho, mas as pessoas não ligarem seus esgotos à rede, não adiantará em nada”, disse. O deputado Rogério Correia (PT), autor do requerimento para a audiência, pensa de modo semelhante. “É preciso haver fiscalização e trabalho educacional para que as pessoas cumpram o que determina o programa. Muitos deixam de fazer para não terem que pagar taxas”, afirmou.

Esgoto – Na opinião do biólogo Ricardo Motta, os primeiros passos para recuperar a lagoa são a retirada e o tratamento do esgoto. O representante da Caixa Econômica Federal, Cláudio Luiz Gonzaga Dias, contou em reunião que, recentemente, convênios com a Copasa e a Prefeitura de Contagem foram assinados no valor de 100 milhões, com o objetivo de despoluir dois dos principais córregos que abastecem a represa: o Sarandi e o Ressaca.

Implantar programas de reciclagem e coleta seletiva de lixo na bacia da Pampulha; melhorar a drenagem e criar programas de prevenção e combate a enchentes urbanas; e impedir verticalização na orla da Pampulha são outras medidas apontadas pelo biólogo para recuperar a represa. “A solução tem que ser muldisciplinar e transversal”, afirmou.

Nova visão - Para o coordenador do Manuelzão, é necessária uma nova forma de encarar o espelho d’água. “É preciso trabalhar a Pampulha dentro da visão de bacia. Olhar a lagoa como pertencente às bacias do Rio das Velhas e do São Francisco”, acredita. Além disso, para ele, os setores empresarial, governamental e a sociedade civil têm que trabalhar em conjunto. Apolo acredita que a situação em que se encontra a lagoa reflete a civilização contemporânea, a nossa mentalidade e o modo como agimos. “Atualmente, há falência de pensamento de gestão, quando não se consegue mais atingir a quantidade imensa de problemas acumulados. E isso acontece em Belo Horizonte”.

Para prosseguir a discussão, o deputado Rogério Correia sugeriu que duas novas reuniões sejam feitas em fevereiro do próximo ano: uma em Contagem, outra na região da Pampulha. Para ele, a Comissão de Meio Ambiente tem um papel importante a cumprir na discussão. “Vamos fazer um controle do que será feito no conjunto de obras e intervenções na lagoa”, disse.

Consulte o resultado completo da reunião