Exposição retrata a tortura como política de Estado no
Brasil
A arte como meio de denúncia da prática de tortura.
Essa é a proposta da exposição "Sala Escura da Tortura", que a
Assembleia Legislativa de Minas Gerais recebe a partir de
terça-feira (27/9/11) até o dia 28 de outubro. A mostra ficará
aberta para visitação das 9 às 17 horas, diariamente, no Espaço
Político-Cultural Gustavo Capanema. Apresentada pela primeira vez em
1973 no Museu de Arte Moderna de Paris, a exposição é uma iniciativa
do projeto "Marcas da Memória", da Comissão de Anistia do Ministério
da Justiça.
A mostra, inspirada em relatos de Frei Tito,
torturado por três dias seguidos em 1969, é composta por sete telas.
Segundo o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, as obras
devem ser vistas por dois motivos. "Primeiramente, para que todos
aqueles que criticam o processo de reparação possam visualizar
aquilo que muitos ainda tentam negar ter existido: a prática de
tortura como política de Estado em nosso País". Em segundo lugar,
ele diz que é importante a visibilidade das obras para que o maior
número de pessoas possa "ser tocado pelo horror que a tortura
representa". Paulo Abrão acredita que, "se um dia a tortura
aconteceu e, o que é mais grave, ainda acontece em tantos lugares, é
porque fomos incapazes, como sociedade, de compreender o valor
máximo que o ser humano possui em nosso sistema político".
Um dos objetivos da exposição é, também, prestar
uma homenagem à memória de Frei Tito, "exemplo de resistência,
engajamento e dignidade em favor dos injustiçados". Segundo Paulo
Abrão, "sua capacidade de sensibilizar as pessoas por um mundo
melhor extrapola o seu plano existencial".
A mostra está percorrendo o Brasil. Já esteve nas
cidades de Petrópolis e Niterói, ambas do Estado do Rio de Janeiro,
nos meses de agosto e setembro. Após Belo Horizonte, Brasília
receberá a exposição no Museu Nacional do Conjunto Cultural da
República de 1º a 20 de novembro. Escolas interessadas em trazer
grupos de alunos podem fazer inscrição pelo site
http://salaescuradatortura.com.br.
Quem foi Frei Tito - Tito
de Alencar Lima, o Frei Tito, nasceu em Fortaleza (CE), no dia 14 de
setembro de 1945. Participou da Juventude Estudantil Católica (JEC),
ala jovem da Ação Católica. Em 1964, integrou as primeiras reuniões
e manifestações estudantis contra a ditadura militar. No início de
1966, ingressou no noviciado dos dominicanos, em Belo Horizonte. Em
10 de fevereiro de 1967, foi residir no Convento das Perdizes para
estudar Filosofia na Universidade de São Paulo (USP).
Em 1968, foi preso durante o Congresso da União
Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna (SP), com todos os
congressistas. Em novembro de 1969, foi preso novamente, com Frei
Betto e outros religiosos. Frei Tito foi torturado ininterruptamente
durante três dias pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, chefe do
Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Em dezembro de 1970,
foi incluído entre os prisioneiros políticos trocados pelo
embaixador suíço, Giovani Enrico Bücker, sequestrado pelo comando da
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Em 1971, foi para Roma, Itália, e, em seguida, para
Paris, França, onde foi acolhido no convento Saint Jacques. Em 10 de
Agosto de 1974, foi encontrado morto em área do Convento de Lyon.
Somente em março de 1983, com a abertura política, seus restos
mortais retornaram ao Brasil. Acolhidos em liturgia na Catedral da
Sé, em São Paulo, encontram-se hoje enterrados no cemitério São João
Batista, em Fortaleza.
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