Psicóloga acusa ex-presidente de empresa de assédio
sexual
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais recebeu, nesta sexta-feira (16/9/11),
denúncias de assédio sexual, perseguição, ameaças e cárcere privado
que teriam sido praticados pelo ex-presidente da Acesita Energética,
hoje Acellor-Mittal, sediada em Capelinha (Vale do Jequitinhonha),
Rubens Teodoro da Costa, contra a psicóloga RPC, de 32 anos. Ao lado
da mãe, RPC relatou aos deputados o pesadelo que viveu desde que
começou a trabalhar na empresa, em 2007.
Antes que a vítima narrasse o histórico de
violência pela qual passou, o presidente da comissão, deputado
Durval Ângelo (PT), lembrou que Teodoro responde a processo por
porte ilegal de arma e possui um CPF falso. O parlamentar mencionou
também que Teodoro chegou a ter a prisão preventiva decretada em
2010, ficou mais de um ano foragido, mas há cerca de três semanas a
juíza de Capelinha, Lívia Lúcia de Oliveira Borba, concedeu-lhe um
habeas corpus.
RPC chorou várias vezes durante seu depoimento. Ela
relatou que foi admitida na Acesita Energética para atuar junto às
comunidades da região de Capelinha, e desde o início despertou a
admiração por parte do então presidente da empresa. Segundo a
psicóloga, Teodoro passou e enviar a ela e-mails com conteúdo
psicológico e filosófico, tentando ganhar sua simpatia. Depois, o
teor das mensagens mudou, com o executivo querendo marcar encontros
amorosos e chegando a ameaçá-la caso ela não aceitasse.
Invasão - Essa situação
durou cerca de nove meses, disse ela, até que um dia sua casa foi
invadida por um homem armado e usando máscara de Papai Noel. RPC
lembrou que, ao ser reconhecido pela vítima, Teodoro a algemou e
torturou durante uma hora, até a chegada do ex-namorado da
psicóloga. Ela conta que em seguida prestou queixa na delegacia e
foi ao hospital realizar exame de corpo de delito. Mas, para sua
surpresa, o relatório do exame desapareceu, ocorrência que ela
atribui ao fato de o hospital pertencer à empresa.
Quanto à atuação da polícia local, ela também se
disse decepcionada, pois em sua casa estavam as marcas das pegadas e
das digitais deixadas por Teodoro, mas, segundo RPC, os agentes nada
fizeram para comprovar sua denúncia. Em virtude desse ataque, ela
afirmou que teve pesadelos durante dois anos e meio.
A psicóloga continuou seu depoimento dizendo que,
abalada com tudo, pediu demissão da empresa e se mudou para
Portugal, onde viveu um mês na casa de amigos. Porém, como é
portadora de uma doença auto-imune, teve que retornar ao Brasil para
continuar seu tratamento. Depois mudou-se para o Rio Grande do Norte
a fim de trabalhar junto a comunidades pesqueiras. Mas há cerca de
um ano Teodoro descobriu onde ela estava e voltou a ameaçá-la. RPC
conta que procurou a polícia local, mas, como não tinha provas do
assédio, o caso não foi investigado.
Deputado aconselha psicóloga a pedir
indenização
RPC e sua mãe deixaram claro que não querem
dinheiro da empresa. "Queremos justiça e proteção para minha filha",
resumiu a mãe da psicóloga, entre lágrimas. Apesar disso, Durval
Ângelo aconselhou-a a entrar com uma ação indenizatória por danos
morais, tanto contra Teodoro quanto contra a empresa. O presidente
da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG, William dos Santos, disse
que vai atuar como advogado da psicóloga nesse caso.
Santos afirmou que o caso vivido por RPC revela o
comportamento dos dirigentes da Acesita na região do Jequitinhonha,
"uma situação que envergonha nosso Estado". Ele relatou que a
população local tem medo dos diretores da empresa devido a vários
casos de abusos já praticados. Santos citou episódios do qual tem
conhecimento, em que fazendeiros da região foram expulsos de suas
terras por jagunços pagos pela Acesita, que teria ocupado as
propriedades para plantar eucalipto, sem qualquer indenização.
Durval informou que, entre as providências a serem
tomadas pela Comissão de Direitos Humanos, estão o envio das notas
taquigráficas da reunião para o Ministério da Justiça e a Secretaria
Nacional de Direitos Humanos, solicitando a inclusão de RPC no
programa de proteção a testemunhas. Além disso, as notas serão
enviadas para a juíza de Capelinha, "para que ela tome consciência
da gravidade da situação", disse o deputado, que classificou Rubens
Teodoro da Costa como um "covarde".
Para o vice-presidente da comissão, deputado Paulo
Lamac (PT), a Acesita já foi motivo de orgulho para o Estado, mas
nos bastidores é responsável por fatos lamentáveis como o narrado
por RPC. Ele disse que a empresa tem que ser responsabilizada nesse
caso e criticou o Poder Judiciário mineiro por permitir que Teodoro
ainda esteja em liberdade.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente; e Paulo Lamac (PT), vice. Participou
também o sub-corregedor da Polícia Civil, Anderson Alcântara Silva
Melo.
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