Falta de policiais e conivência com marginais são
denunciadas
Aumento de crimes violentos, falta de policiamento
e conivência de policiais civis com marginais que atuam na região.
Essas foram algumas das denúncias apresentadas nesta sexta-feira
(8/7/11) na audiência pública realizada pela Comissão de Segurança
Pública de Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no município de
Engenheiro Caldas (Rio Doce). O presidente da comissão, deputado
João Leite (PSDB) se comprometeu a encaminhar as denúncias para a
Corregedoria da Polícia Civil. O objetivo da reunião foi debater o
aumento da violência na área da comarca de Tarumirim, que inclui,
além de Engenheiro Caldas, as cidades de Fernandes Tourinho e
Sobrália.
As mais graves acusações foram apresentadas pela
dona de casa Maria Helena Moreira de Carvalho. Ela reclamou,
principalmente, da atuação da Polícia Civil no município. Segundo
ela, faltam profissionais e os que existem são, muitas vezes,
coniventes com marginais. "A Polícia Militar faz a ocorrência e leva
para a Civil, mas vemos todo dia marginal ser solto", denunciou.
Afirmou, também, que mulheres que sofrem violência
dos maridos são induzidas a desistirem das representações na
delegacia local. Sem citar nomes, mas comprometendo-se a revelar
caso seja necessário, Maria Helena acusou vereadores de manterem
relações de amizade com criminosos. "É muito triste ver vereador
agradecendo bandido por ter ajudado na festa junina", desabafou a
moradora.
O deputado Sargento Rodrigues (PDT) se prontificou
a se dedicar, pessoalmente, a apurar as denúncias, que considerou
muito graves. Ele pediu que o promotor presente, Vinícius de Souza
Chaves, também cuide da apuração e disse que vai pedir o mesmo ao
chefe da Polícia Civil. "Fique tranquila, que vamos tomar as
providências", afirmou o parlamentar.
Autoridades confirmam aumento de criminalidade no
município
O aumento da criminalidade foi ressaltado pelo
promotor Vinícius de Souza Chaves. No primeiro semestre de 2010 não
foi registrado nenhum homicídio, ou tentativa, em Engenheiro Caldas;
e, até junho deste ano foram registrados três casos para cada um
desses crimes.
O promotor denunciou que o município de Tarumirim
está sem promotor de justiça desde maio, cargo que está sendo
ocupado por ele interinamente. Ele afirmou que tem percebido um
aumento crescente dos índices de crimines violentos em Governador
Valadares, que se reflete nas cidades de seu entorno. "Alguns
cometem crime em Valadares e se refugiam em Engenheiro Caldas",
exemplificou.
O juiz da comarca de Tarumirim, José Carlos de
Matos, também salientou o crescimento da violência. Ele destacou
dois fatores que acredita agravarem os fatos. O município de
Engenheiro Caldas é cortado pela BR-116 (rodovia Rio/Bahia) que,
segundo o juiz, é uma importante rota de tráfico; e o próprio
tráfico de entorpecentes que traz consigo outros crimes. "Não é raro
um preso por drogas dizer que furtou para sustentar o vício",
disse.
Matos afirmou que 90% dos casos que já julgou
envolveram criminosos de Engenheiro Caldas. A sugestão do juiz para
reduzir os casos na região é elevar o investimento tanto na Polícia
Civil quanto na Militar, principalmente no desenvolvimento da
inteligência das corporações para combater o crime organizado que
está mais sofisticado e melhor aparelhado que o próprio Estado.
O autor do requerimento da reunião, deputado Luiz
Carlos Miranda (PDT) reafirmou que o município é o principal foco de
criminosos, dizendo que cerca de 80% dos presos em Tarumirim, são
oriundos de Engenheiro Caldas. Lamentou principalmente a grande
incidência dos casos de tráfico. "A droga campeia abertamente pela
cidade". O parlamentar convocou os participantes a se mobilizarem
para reduzir a violência no município.
Furtos - O aumento dos
furtos foi reclamado por muitos moradores que se pronunciaram
durante a audiência pública. O vereador de Tarumirim, Mário
Lourenço, chamou a atenção para as ocorrências de roubo de gado no
município. "Já vi quase uma carreta inteira, com 11 novilhos, ser
furtada e ninguém é preso", reclamou.
O subcomandante do 43º Batalhão da Polícia Militar
de Governador Valadares, major Fabrício Casotti, disse que as
ocorrências de furto vêm crescendo desde 2006, quando foram
registradas 183, contra 214 em 2010. Apenas no primeiro semestre de
2011, foram 134 furtos, 11% a mais que no mesmo período do ano
passado, quando ocorreram 120 casos.
Falta de policiais é problema grave
Todos os participantes da audiência concordaram que
o número de policiais na região é pequeno para atender à demanda.
Conforme dados da Polícia Militar, existem 15 PMs na cidade, que tem
10,3 mil habitantes; e três detetives civis e apenas um em serviço,
pois outro está de férias e o terceiro, de licença médica.
O delegado de Tarumirim atende aos quatro
municípios da comarca, que não conta com defensor público. A
ausência desse efetivo foi ressaltada pelo deputado José Henrique
(PMDB). "A Constituição assegura ao cidadão o direito a ter
advogado, mas muitas cidades não contam com defensor".
Apesar do pequeno efetivo, o major Casotti comemora
a redução do número de homicídios no período de 2006 a 2010 e o
aumento do número de repressão contra o tráfico e o furto. Entre
2006 e 2008, os homicídios aumentaram ano a ano, chegando a 16 no
último ano; mas a partir de 2009, foi-se reduzindo, passando para 4
e, no ano passado, 3. As prisões e apreensões de pessoas ligadas às
drogas aumentaram 23,5% e de armas de fogo, 124% entre 2006 e
2010.
Segundo o comandante, a melhoria foi possível a
partir da realização de campanhas e projetos desenvolvidos pela
Polícia Militar junto com a sociedade.
Presenças - Deputados João
Leite, presidente, Sargento Rodrigues (PDT), Luiz Carlos Miranda
(PDT), autor do requerimento, e José Henrique (PMDB).
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