Moradores de rua de Belo Horizonte denunciam agressões

Moradores de rua de Belo Horizonte denunciaram, nesta quinta-feira (30/6/11), à Comissão de Direitos Humanos da Assem...

30/06/2011 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Moradores de rua de Belo Horizonte denunciam agressões

Moradores de rua de Belo Horizonte denunciaram, nesta quinta-feira (30/6/11), à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, serem vítimas de abordagens truculentas por parte da Guarda Municipal. No último domingo (26), um grupo de 11 moradores de rua teria sido agredido por guardas municipais dentro do Parque Municipal. Jonas Pereira dos Santos contou ter sido espancado com socos e pontapés e cacetadas nas costas, e ainda levou um jato de spray de pimenta nos olhos.

Há também relatos de ações da chamada política de "higienização", que consiste na retirada da população de rua à força. Maximiliano Lima, que diz morar na rua há 15 anos "com orgulho", reclamou também das agressões aos homossexuais por parte dos guardas municipais. "Morar na rua é bom, a gente tem liberdade. Mas nós, homossexuais, estamos sendo agredidos. Beijar na boca não é crime. Nós também somos gente, também pagamos imposto", afirmou.

Os moradores de rua denunciam que os guardas municipais tomam seus pertences e até documentos. "A prefeitura não vai acabar com os moradores de rua recolhendo fogão, colchão, lençóis e cobertores, pois a gente só precisa ir no entulho e pegar outros", afirmou o morador de rua Elias Barbosa. "Nem todo mundo que está na rua é vagabundo. Queremos apenas um pouco de dignidade", completou ele, que disse ser padeiro e confeiteiro.

Para aqueles que optam por dormir no albergue São Paulo, a situação não é muito diferente. Os moradores de rua reclamam que o abrigo vive superlotado, em precárias condições. Os banheiros são sujos, os cobertores são ruins, a alimentação é de má qualidade e os funcionários são mal educados, segundo o morador de rua Fabiano de Souza. Outro problema é o horário de funcionamento do albergue, que fecha às 20h30. De manhã, todos têm que acordar às 5 horas para tomar café.

O abrigo chega a receber até 500 pessoas por noite, de acordo com a coordenadora da Pastoral do Povo de Rua, irmã Cristina Bove. "Ninguém dorme naquela situação", comentou. Para ela, a abordagem da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) é obsoleta e reducionista, e o modelo de acolhimento em albergues não funciona. Ela defendeu a garantia de bolsa-moradia para toda a população de rua e cobrou a implementação das duas repúblicas aprovadas em votação do Orçamento Participativo há cinco anos.

O coordenador do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, Samuel Rodrigues, reclamou que a prefeitura vem expulsando os moradores de rua do centro da cidade sem oferecer opções de atendimento nos bairros. A coordenadora do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua, Karina Vieira Alves, denunciou que guardas municipais teriam algemado moradores de rua da Praça da Estação. Ela manifestou temor com a onda de internações compulsórias de viciados em drogas que vem acontecendo, segundo ela, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília.

PBH nega remoção forçada de moradores de rua

O secretário municipal de Políticas Sociais, Jorge Raimundo Nahas, disse que a prefeitura respeita os direitos humanos e não tem o objetivo de retirar os moradores de rua à força. Ele disse que a PBH elaborou um parecer jurídico para informar todos os servidores municipais que as pessoas têm o direito de permanecer na rua. Mas, como ele explicou, isso não significa que elas têm o direito de se estabelecer na rua, ocupando espaço de forma permanente. "O limite da legalidade muitas vezes não é claro", ponderou.

Ainda segundo o secretário, a prefeitura trabalha para que essas pessoas tenham a oportunidade de retomar a vida fora das ruas. Somente no ano passado, 157 pessoas foram encaminhadas para o programa Bolsa-Moradia. Quanto à situação do albergue São Paulo, Nahas reconheceu que ele precisa ser modernizado, mas garantiu que ele foi reformado e está num padrão "bastante razoável" de qualidade. Ele também garantiu a apuração das denúncias de agressão e a punição dos envolvidos no episódio no Parque Municipal.

O comandante da 15a Cia. da Polícia Militar, major Westerley Martins, disse que a PM é pressionada pela população para expulsar os moradores de rua, mas garantiu que a corporação age pautada pelo respeito aos direitos humanos. Na sua avaliação, episódios como o envenenamento de moradores de rua no bairro Santa Amélia, ocorrido em maio, são de responsabilidade de toda a sociedade. "Confesso que não sei como evitar que um episódio como esse ocorra novamente", afirmou. A abordagem de guardas municipais e policiais militares já é alvo de investigação do Ministério Público, como informou a promotora Célia Beatriz Gomes dos Santos.

Deputados defendem população de rua

O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), defendeu que o MP articule um termo de ajustamento de conduta estabelecendo responsabilidades para a prefeitura e o Governo do Estado, para a solução do problema dos moradores de rua. "O que eles querem é pouca coisa: um cantinho para morar e três refeições por dia", afirmou.

O deputado Rogério Correia (PT) criticou a ausência do Governo do Estado na solução dos problemas envolvendo a população de rua e cobrou a apuração das denúncias feitas contra a PBH. "É preciso que a prefeitura tenha uma equipe qualificada para dar conta dessa situação", afirmou o parlamentar, que é vizinho da praça onde ocorreu o envenenamento no bairro Santa Amélia.

Audiências públicas aprovadas

Foram aprovados os seguintes requerimento de audiências públicas:

* do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), para discutir denúncias de funcionamento precário do sistema socioeducacional do Estado;

* do deputado Celinho do Sinttrocel (PCdoB), para discutir o Estatuto dos Motoristas;

* dos deputados João Leite (PSDB) e Duarte Bechir (PMN), para debater a construção de uma unidade socioeducacional em Betim;

* do deputado Durval Ângelo, para discutir, em Itabira, os problemas dos moradores do bairro Drummond.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Delvito Alves (PTB), Rogério Correia (PT), Adelmo Carneiro Leão (PT), André Quintão (PT) e deputada Liza Prado (PSB). Também participaram da reunião o presidente da Associação Amor Franciscano de Assis, Ricaro Luiz Rosa; e o gerente do Serviço Especializado em Abordagem Social da PBH, Warlley Silva.

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - www.almg.gov.br

Rua Rodrigues Caldas,30 :: Bairro Santo Agostinho :: CEP 30190 921 :: Belo Horizonte :: MG :: Brasil :: Telefone (31) 2108 7715