Governo anuncia aumento de vagas para tratar dependentes de drogas

O Estado vai dobrar este ano o número de vagas públicas disponíveis para tratamento de dependentes químicos, por meio...

28/06/2011 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Governo anuncia aumento de vagas para tratar dependentes de drogas

O Estado vai dobrar este ano o número de vagas públicas disponíveis para tratamento de dependentes químicos, por meio de parcerias com entidades terapêuticas. Foi o que garantiu nesta terça-feira (28/6/11) o subsecretário de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Estado de Defesa Social, Cloves Eduardo Benevides, em debate realizado na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas para discutir políticas públicas para a prevenção e o tratamento ao uso de drogas, especialmente o crack.

Na presença ainda de representantes do Ministério Público, do Judiciário e de comunidades terapêuticas, familiares de dependentes fizeram relatos emocionados das dificuldades cotidianas que enfrentam na convivência com dependentes em casa e cobraram urgência de políticas específicas para usuários de drogas.

Além da necessidade de mais vagas na rede pública, foi consenso entre os participantes a necessidade de que políticas nessa área contemplem também as famílias dos usuários e que sejam adotadas estratégias eficazes para o acolhimento do dependente, com capacitação de profissionais.

Poder público - Autor do requerimento da reunião, o presidente, deputado Durval Ângelo (PT), endossou a necessidade de o poder público assumir a questão, lembrando que hoje é a sociedade civil que apoia grande parte das ações de prevenção e tratamento por meio de comunidades e entidades terapêuticas. Mas ponderou que a questão extrapola o aspecto de recursos, envolvendo um conjunto de ações.

"Precisamos cobrar políticas públicas sobretudo municipais, mas se o problema fosse apenas de recurso, a droga não estaria também no Primeiro Mundo. O assunto é complexo, mas o importante é que as famílias estão se organizando", afirmou. Segundo Durval, o Estado anuncia a existência de quatro mil leitos públicos no Estado para tratamento, quando na verdade mais de 90% seriam mantidos por comunidades terapêuticas e o restante por meio de parcerias com o poder público.

Subsecretário promete vagas, mas aponta falhas de entidades na captação de recursos

O subsecretário de Políticas sobre Drogas do Estado reconheceu que o terceiro setor tem sido o grande alicerce das ações de prevenção e tratamento e defendeu a construção coletiva de políticas públicas de enfrentamento das dogras. Segundo os números que apresentou, há hoje no Estado três mil vagas para recuperação de dependentes, por meio de parcerias com 31 entidades terapêuticas em Minas. A meta, afirmou, é dobrá-las para seis mil e os editais de seleção para ampliação das vagas começam a ser publicados em julho.

De imediato, Cloves Benevides se prontificou a encaminhar para atendimento 100 dependentes, cujos nomes deverão ser apresentados à comissão pela ONG Defesa Social, que motivou o debate ao expor ao deputado a preocupação de familiares com a falta de opção para tratamento de usuários de drogas.

Apesar de anunciar a ampliação do atendimento por meio de parcerias, o representante do Executivo disse que em muitos casos a falta de oferta de vagas públicas decorre da pouca qualificação de entidades terapêuticas para a captação de recursos públicos. Segundo Cloves Benevides, isto explicaria porque duas ações recentes do Ministério da Saúde não tiveram o impacto esperado. Uma delas abriu aos municípios procedimento para captação de recursos visando ao tratamento de usuários de drogas, mas a procura ficou abaixo do esperado. A outra, de financiamento aberto por meio da Secretaria Nacional Antidrogas, destinava-se à abertura de 2.900 vagas para tratamento por meio de projetos e parcerias, tendo sido preenchidas apenas 900 vagas.

Para ONG, Estado tem falhado com as famílias

Robert William de Carvalho, presidente da ONG Defesa Social, relatou que a organização tem sido procurada por familiares desesperados. Na última sexta, lembrou, uma idosa de 72 anos contou ter apanhado do neto de 13 anos viciado em crack. "Antes éramos estatísticas, agora mostramos o rosto. São casos de famílias destruídas, e o Estado tem falhado com elas. A situação passou do limite aceitável", cobrou Robert, para quem o crack precisa de um atendimento diferenciado, tal a velocidade com que a dependência se instala, incapacitando o usuário para o trabalho e mesmo para o convívio familiar.

Este foi o caso do hoje agente educacional da Associação Mineira de Pais e Amigos para a Prevenção e Tratamento do Uso de Drogas (Ampare), Sanderson de Souza Mariano, que se definiu na mesa do debate como um dependente em recuperação. Dizendo que cada dependente vive um tempo de perdas, mas que "mais cedo ou mais tarde a casa cai", ele relatou sua experiência no mundo das drogas por 22 anos, durante os quais agrediu o pai, esteve preso, perdeu o emprego, largou a faculdade. "É preciso maior participação do poder público. Os jovens das classes desfavorecidas estão à mercê do falso glamour das drogas", alertou.

Para especialistas, equipes de acolhimento devem integrar ações

A juíza Valéria da Silva Rodrigues, do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional, informou que somente em Belo Horizonte o centro atende em média 800 adolescentes por mês ou 10 mil por ano, dos quais de 30% a 40% por envolvimento com drogas. Do restante, muitos casos, como de furtos, também teriam a droga como pano de fundo.

Também cobrando mais ação do poder público, especialmente na esfera municipal, ela defendeu ainda a capacitação de profissionais para a área de saúde, de forma a proporcionar um acolhimento inicial do dependente, quando uma abordagem correta e sensível pode influir no rumo de um tratamento. Este ponto também foi destacado pelo subsecretário Cloves Benevides, para quem é preciso repensar estratégias de ação, incorporando, por exemplo, equipes de busca ativa de dependentes para tratamento e de visitas domiciliares. "Construir motivação para o tratamento não é algo fácil", frisou.

Exemplo nesse sentido foi dado pela cabeleireira Rosalina Siqueira, cuja situação do filho dependente foi mostrada no programa Fantástico, da TV Globo, em 19 de junho, quando ela conseguiu negociar o pagamento de um débito com o plano de saúde. Apesar de uma clínica particular ter se comprometido, no programa, a arcar com o tratamento do jovem dependente, ela relatou que o filho está em casa e que ainda resiste a uma internação. "Ela terá que ser involuntária", disse ela, cujo filho deve estar entre os encaminhamentos imediatos anunciados pelo subsecretário.

A promotora Raquel Pacheco Ribeiro de Souza, da Coordenadoria de Defesa dos Direitos das Famílias, destacou, por sua vez, que as políticas públicas voltadas para a questão das drogas devem começar pela família e ampará-la. Ela admitiu que a vivência na Vara da Família é muitas vezes "aflitiva e frustrante" diante da impotência para lidar com casos complexos e que muitas vezes exigem ações emergenciais. Como de mães que pedem a interdição de um filho dependente, famílias que perderam até o tanque da casa, trocado por drogas, ou que necessitam de internar um filho.

"Toda a família adoece", endossou o secretário-geral dos Juizados de Conciliação do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Juliano Carneiro Veiga, que também definiu como "aflitiva" a espera por decisões em situações de usuários de drogas que necessitam urgentemente de tratamento. Segundo ele, o TJMG tem abraçado a conciliação e a justiça restaurativa, estando preocupado com a prevenção e com uma atuação em colaboração com as demais esferas.

Requerimento - Foi aprovado requerimento da deputada Maria Tereza Lara (PT) e do deputado Durval Ângelo para realização de visita ao Educandário Carlos Chagas, em Juiz de Fora, onde vivem filhos de ex-hansenianos.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Tadeu Martins Leite (PMDB) e João Leite (PSDB). E Sylberto Sette Silva, do grupo Movimento em Ação.

 

 

 

 

 

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