Ex-goleiro Bruno confirma tentativas de extorsão por juíza e
delegado
O ex-goleiro Bruno, preso desde julho de 2010 na
Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, prestou nesta terça-feira
(28/6/11) um depoimento na Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais e confirmou denúncias feitas
previamente por sua noiva, Ingrid Calheiros de Oliveira. Segundo
essas denúncias, o advogado Robson Pinheiro e a juíza da Comarca de
Esmeraldas, Maria José Starling, pediram R$ 1,5 milhão para
conseguir um habeas corpus para o atleta. Bruno é acusado de
envolvimento no desaparecimento e possível morte de sua ex-namorada,
Elisa Samúdio.
Bruno disse também que foi vítima de tentativa de
extorsão por parte do delegado Edson Moreira, que teria pedido R$ 2
milhões para livrá-lo das acusações e colocar a responsabilidade nos
outros envolvidos, Luiz Henrique Romão (Macarrão) e um primo menor
de idade. Diante da negativa, o delegado teria feito ameaças contra
suas filhas, acusou o detento. Segundo o atleta, Edson Moreira
perguntou o que ele acharia de "encontrar partes de suas filhas por
todo o Estado".
CPI - As dúvidas quanto às
condutas profissionais da juíza e do delegado motivaram o deputado
Sargento Rodrigues (PDT) a defender a criação de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia. Segundo o deputado,
Bruno e sua noiva, além do advogado do jogador, Cláudio Dalledone
Júnior, apresentaram denúncias gravíssimas à comissão contra várias
autoridades, e que a apuração de todos os fatos é muito relevante
para a sociedade mineira.
O líder do Bloco Minas Sem Censura, deputado
Rogério Correia (PT) apoiou a ideia. Já Delvito Alves (PTB) ponderou
que ela deve ser melhor discutida, já que outras entidades, como a
Corregedoria de Polícia e o Ministério Público, estão tomando
providências.
Confirmação - Ingrid
Calheiros Oliveira confirmou todas as denúncias feitas no último dia
10 de junho, quando procurou a Comissão de Direitos Humanos para
relatar a tentativa de extorsão. Segundo ela, nos primeiros contatos
que teve com Maria José Starling, foi tratada de forma até
"maternal".
Ainda de acordo com Ingrid, a juíza nunca falou
sobre dinheiro, mas quando a conversa derivava para esse ponto,
Maria José remetia a questão para Robson Pinheiro. Porém, depois que
o advogado exigiu o dinheiro antes da libertação, Ingrid percebeu
que se tratava de um esquema e passou a acreditar que Maria José
sabia de tudo.
O advogado Dalledone, que assumiu a defesa de Bruno
em 22 de novembro de 2010 explicou que Robson visitou o ex-goleiro
na penitenciária diversas vezes, obtendo dele não apenas procurações
para representá-lo judicialmente, como a assinatura de um contrato
no qual o valor de R$ 1,5 milhão é expresso em troca da obtenção do
habeas corpus. E-mails e telefonemas trocados entre a
juíza e Ingrid comprovariam a negociação, feita no final do ano
passado. Após assumir o caso, Dalledone disse que alertou o casal
sobre o risco de ambos aceitarem entrar nesse "esquema" e os
convenceu a denunciar a tentativa de extorsão.
O deputado Durval Ângelo (PT), autor do
requerimento para a reunião ao lado do deputado João Leite (PSDB),
mencionou a existência de um vídeo que prova o encontro entre o
advogado Robson Pinheiro, a juíza e Ingrid para tratar da venda do
habeas corpus. Esse vídeo teria sido produzido pelo serviço
de investigações secretas da PM, chamado P2, e passado às mãos de
uma repórter de TV.
Advogado denuncia ação de oportunistas
Segundo o advogado Dalledoni, pelo fato de ser uma
personalidade famosa, Bruno tem vivido um clima de pânico diante de
inúmeras pessoas que lhe fazem promessas e vendem ilusões com o
único objetivo de ganhar dinheiro. O advogado se queixou desse fato,
alegando que qualquer desembargador, ao ser informado de que há
esquemas para vender a libertação de Bruno, naturalmente negará a
concessão de habeas corpus, prejudicando o detento e sua
própria defesa.
Questionado pelos deputados sobre o que de fato
aconteceu com Elisa Samúdio, Bruno disse que, na última vez em que a
viu, ela saiu de sua casa andando. Garantiu apenas que nunca manteve
a ex-namorada em cárcere privado, ou amarrada, ou a teria espancado,
como foi publicado na imprensa. "Todas as vezes em que ela esteve
comigo, foi bem tratada", disse o atleta, que chegou a chorar
durante alguns momentos da audiência. Bruno reafirmou sua inocência
e sugeriu que Elisa Samúdio esteja viva e escondida, lembrando que o
pai dela, ao ter um mandado de prisão decretado, fugiu para a
Argentina.
Também presente à reunião, o ouvidor de Polícia,
Paulo Alkmin, lembrou que na saída de sua penúltima visita ao
ex-goleiro, no dia 10, a noiva Ingrid foi abordada por um homem que
se identificou como Leandro, policial civil, que lhe teria feito uma
série de ameaças pelo fato de ela ter denunciado a tentativa de
extorsão. Alkmin afirmou que ainda nesta terça vai ouvir o
depoimento dela, tentando identificar o suposto policial para, em
seguida, tomar providências.
Requerimentos pedem providências a várias
entidades
Oito requerimentos foram aprovados durante a
reunião, sendo cinco do deputado Durval Ângelo. Ele pede que as
notas taquigráficas da reunião e o vídeo apresentado pelo advogado
Cláudio Dalledone, no qual ele se reúne com outros advogados em um
hotel de Belo Horizonte, sejam encaminhados à Ordem dos Advogados do
Brasil - Seção Minas Gerais (OAB/MG). Nesse requerimento ele pede
também que a Ordem apure administrativamente as condutas dos
advogados Robson Pinheiro, Francisco Ângelo Carbone, José Artero
Cavalcante e de um quarto advogado identificado como Botelho, em
supostas irregularidades no processo criminal contra Bruno,
solicitando ainda que seja avaliada a possibilidade de suspensão dos
advogados até o esclarecimento dos fatos.
Durval também pede que as notas taquigráficas e a
gravação em vídeo da reunião sejam encaminhadas ao Conselho Nacional
de Justiça, à Corregedoria da Polícia Civil, à Ouvidoria de Polícia,
ao Juízo do Tribunal do Júri de Contagem, ao Ministério Público de
Contagem e à OAB-MG, pedindo que essas entidades apurem as denúncias
apresentadas.
O deputado solicita ainda que seja enviado um
pedido ao secretário de Estado de Defesa Social, Lafayette de
Andrada, para que ele garanta o direito de Bruno a manter
entrevistas reservadas com seu advogado. Por fim, Durval pede à
Corregedoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que apure
denúncia de suposta negociação para a concessão de habeas
corpus a Bruno Fernandes, com a participação da juíza Maria José
Starling, e quebra de sigilo telefônico da magistrada e da noiva de
Bruno, Ingrid Calheiros de Oliveira.
Já o deputado Délio Malheiros (PV) solicita à
OAB-MG pedido de providências para o apoio ao pleno exercício
profissional dos advogados de Bruno, que alegaram estar encontrando
dificuldades em sua atuação. Rogério Correia solicita que sejam
encaminhados à OAB nacional as notas taquigráficas da reunião e
pedido de providências para garantir um observador com o objetivo de
acompanhar, em Minas Gerais, o caso Bruno, diante da denúncia de que
seu advogado, Cláudio Dalledone, estaria encontrando obstáculos a
seu trabalho profissional.
O último requerimento aprovado na reunião é do
deputado Sargento Rodrigues. Ele solicita seja encaminhado ao
presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais pedido de
informações sobre as possíveis providências que tenham sido tomadas
pelo TJMG sobre denúncias de participação da juíza Maria José
Starling, em suposta negociação para a concessão de habeas
corpus a Bruno.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente; Paulo Lamac (PT), vice; João Leite
(PSDB), Delvito Alves (PTB), Luiz Carlos Miranda (PDT), Duarte
Bechir (PMN), Célio Moreira (PSDB), Sargento Rodrigues (PDT), Délio
Malheiros (PV), Rogério Correia (PT), e deputadas Maria Tereza Lara
(PT) e Liza Prado (PSB).
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