Especialistas pedem mais vagas para tratamento de usuários de drogas

A falta de vagas no sistema público para recuperação dos usuários de drogas é o principal gargalo do sistema, segundo...

27/06/2011 - 00:03
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Especialistas pedem mais vagas para tratamento de usuários de drogas

A falta de vagas no sistema público para recuperação dos usuários de drogas é o principal gargalo do sistema, segundo os participantes do Seminário Estadual da Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas da Câmara dos Deputados. A falta de investimento na prevenção ao uso de drogas e a necessidade de articulação de governos e sociedade também foram apontadas. Realizado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, nesta segunda-feira (27/6/11), o seminário teve a participação de deputados federais e estaduais, vereadores, representantes do Executivo, Judiciário e de entidades que lidam com toxicômanos.

Para o presidente da Comissão Especial da Câmara dos Deputados, deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), pela primeira vez no País o enfrentamento das drogas vem sendo discutido como questão de Estado, na tentativa de articular todos os segmentos sociais. Ele explicou que o seminário regional pretende abordar cinco eixos: prevenção, tratamento e acolhimento, reinserção e requalificação, repressão e legislação.

Duas mães de dependentes químicos, Regina Neves e Dalvineide de Almeida, relataram suas experiências de luta e dor. Regina Neves contou que sofre com a burocracia do sistema público de saúde e que o filho, que já passou por mais de 60 internações psiquiátricas, não consegue vaga para tratamento. Ela disse ainda que, quando ele ficou preso por 100 dias no Ceresp, continuou usando drogas e saiu da prisão pior do que entrou.

A luta de Dalvineide não é diferente. Ela disse que expulsou de casa o filho de 36 anos, usuário de drogas desde os 16, para poder cuidar dos seis irmãos dele. Na opinião dela, falta atendimento para os dependentes nos centros de saúde, agilidade nos laudos para internação e projetos de reinserção social.

Atendimento ao adolescente precisa ter urgência

A opinião das mães é compartilhada pela juíza Valéria Rodrigues, presidente do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional de Belo Horizonte. "Não temos para onde encaminhar o adolescente infrator ou usuário de drogas e a rede de saúde mental do município não oferece nada", afirmou. Ela sugeriu a instalação de Centros de Atenção Psicossocial Álcool Drogas (Caps-AD) voltados para adolescentes, a oferta de vagas em hospitais gerais para crianças e adolescentes e tratamentos individualizados a partir de laudos médicos.

Na sua trajetória de 20 anos de magistratura, seis deles dedicados à Vara da Infância e Juventude, a juíza disse ter compreendido a urgência do atendimento ao adolescente infrator. Segundo ela, em Belo Horizonte, o adolescente que pratica algum delito é levado quase que imediatamente ao juiz.

A juíza explicou que os 800 inquéritos que recebe por mês demonstram o impacto das drogas sobre a prática criminosa: 25% dos inquéritos referem-se a tráfico de drogas, 21% a uso de drogas e o restante a outros delitos, como furtos e roubos, que costumam ser motivados pelas drogas.

"Até hoje há juízes que mandam adolescentes para cadeias públicas", criticou Valéria Rodrigues. O tratamento do adolescente precisa ser individual, personalizado e em local adequado.

Comunidades - Representantes de comunidades terapêuticas relataram suas dificuldades para manter o trabalho de recuperação dos usuários. Eles também foram unânimes em falar dos resultados positivos alcançados com muito menos recursos que outras iniciativas. De acordo com Geovane Alexandre Silva, presidente do Projeto de Vida, de Contagem, com R$ 1.700 , por adolescente, eles conseguem tratar um adolescente. O índice de recuperação do projeto é de 60%.

Prevenção é mais barata que recuperação dos dependentes

O relator da Comissão Especial, deputado federal Givaldo Carimbão (PSB-AL), acredita que a questão das drogas não é só problema de saúde pública, mas de vulnerabilidade social. A sociedade, segundo ele, está doente de valores. De acordo com o relator, 90% dos crimes têm alguma ligação com as drogas. "É infinitamente mais barato evitar que a droga chegue ao homem que tirá-la dele. Também é mais barato tirar a droga da pessoa do que prendê-la", concluiu.

Para David Stanley Bonfim Dias, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o trabalho da corporação é justamente tentar evitar que a droga chegue às famílias. Ele afirmou que a Polícia Rodoviária Federal tenta evitar a entrada de drogas no Brasil sobretudo com a fiscalização das fronteiras. Ele informou que, em 2010, foram apreendidas pela PRF 90 toneladas de maconha, cinco de cocaína e uma tonelada de crack.

Na opinião de David Dias, no entanto, a sociedade pode contribuir muito com denúncias, porque a fiscalização no transporte interestadual é dificultada pela legislação. Ele ainda falou da necessidade de ampliar o efetivo da polícia em função da grande fronteira brasileira e de se investir na capacitação dos agentes.

O assessor de Prevenção às Drogas da Polícia Militar, capitão Ferraz, sugeriu o investimento em prevenção primária, apoio aos usuários com condições de recuperação, investimento em inteligência de segurança pública e maior fiscalização das fronteiras. Ele ainda citou o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) como uma das iniciativas bem sucedidas de prevenção primária e que tem tido um amplo reconhecimento.

O subsecretário de Estado Antidrogas, Cloves Benevides, informou que o Estado está convocando a V Conferência Estadual de Política Antidrogas e sugeriu que o Governo Federal realize um conferência nacional sobre o tema.

O deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), que coordenou os trabalhos, acredita que as contribuições apresentadas no debate servirão para subsidiar políticas públicas sobre o tema. O deputado Weliton Prado (PT-MG) contou que recebeu relatos de mães que acorrentam os filhos toxicômanos por não encontraram solução no sistema público para eles.

O deputado Eros Biondini (PTB-MG), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Comunidades Terapêuticas e Apacs, afirmou que a luta contra as drogas tem se intensificado e pessoas de diversos segmentos têm se unido em torno dessa bandeira. Para o deputado Geraldo Thadeu (PPS-MG), o problema das drogas é um dos mais graves que afetam a sociedade brasileira hoje.

O deputado Doutor Viana (DEM) concordou que essa luta é de todos e que a Assembleia de Minas é parceira nessa luta. Para o deputado Fábio Cherem (PSL), o viés principal desse debate deve ser o da saúde pública e não só o da segurança. O deputado Durval Ângelo (PT) falou da luta das comunidades terapêuticas para se manterem e do impacto das drogas para o inchaço carcerário.

O deputado Carlos Mosconi (PSDB) acredita que há um grande esforço para enfrentar a questão das drogas, mas que o poder público precisa estar mais presente. Ele ainda defendeu um trabalho mais efetivo de prevenção por parte das escolas.

 

 

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