Homenagem ao Grêmio Espanhol destaca espírito solidário e
cultura
Em fevereiro de 1911, um grupo de pouco mais de cem
imigrantes espanhóis que trabalhavam na construção de Belo Horizonte
criou uma associação para "matar as saudades" da terra natal,
aproximar os cidadãos da Espanha e ajudar aqueles mais necessitados.
Nascia assim o Grêmio Espanhol de Socorros Mútuos e Instrução,
homenageado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais na noite
desta quinta-feira (16/6/11), em Reunião Especial de Plenário.
Pautado pelo espírito de solidariedade, fraternidade e
hospitalidade, o centenário grêmio tornou-se referência para a
colônia espanhola em Belo Horizonte.
Autor do requerimento da reunião, o
2º-vice-presidente da ALMG, deputado Inácio Franco (PV), destacou
que o grêmio sintetiza o que há de melhor na Espanha: sua gente,
seus hábitos, sua cultura e sua língua. "É uma entidade que carrega
o orgulho de ter sido fundada com um único propósito: ajudar o
próximo", enfatizou. Hoje, além de atividades culturais, sociais e
esportivas, o grêmio promove parcerias com escolas particulares da
Capital. Pretende expandir esse intercâmbio para a rede pública, a
fim de ampliar o acesso de estudantes aos costumes e à língua
espanhola.
Outro desafio, segundo o presidente da entidade,
Manuel Diz Ramos Filho, é despertar nos filhos e nos jovens
descendentes o interesse pela cultura espanhola, lembrando que há
hoje um certo distanciamento. Para que os jovens se sintam atraídos
pela milenar cultura, Ramos reivindicou mais apoio dos governantes
espanhóis e brasileiros, por meio de parcerias e convênios que
promovam a difusão da cultura, o empreendedorismo, o esporte e o
turismo.
As relações bilaterais foram também destacadas pelo
deputado federal Antônio Roberto (PV/MG), que representou a Câmara
dos Deputados na Reunião Especial. Na opinião do deputado, as
relações Espanha-Belo Horizonte têm "futuro promissor", já que são
crescentes as iniciativas conjuntas não somente nos negócios, mas
também na cultura.
Dívida histórica - Segundo
Antônio Roberto, mais de 750 mil espanhóis imigraram para o Brasil
no final do século XIX em busca de oportunidades de trabalho. O
deputado Duarte Bechir (PMN), que presidiu a Reunião Especial,
lembrou que para Belo Horizonte vieram operários da Galícia. Ele
enfatizou que a homenagem prestada pela Assembleia resgata uma
dívida histórica com os espanhóis. De acordo com Bechir, BH costuma
festejar outros imigrantes, como italianos, árabes e japoneses, mas
"desde a primeira hora de nascimento da Capital, pedreiros e
marceneiros oriundos da porção maior da Península Ibérica já
empenhavam por nós o seu suor e o esforço de suas mãos".
Ao finalizar a reunião, o deputado Duarte Bechir
avaliou que os cem anos do grêmio espanhol são motivo "para uma
grande festa para aquecer e alegrar a alma de todos nós que nos
encantamos com as danças flamencas, a guitarra, as tortilhas, as
paelhas ou a sangria espanhola". Um pouco disso foi mostrado durante
a Reunião Especial, com a apresentação do grupo de gaiteiros Aires
do Monte e das bailarinas de dança flamenca Agda Zanol e Bárbara
Taboada.
Composição da Mesa - Além
das autoridades e convidados citados, compuseram a Mesa o cônsul
honorário da Espanha em Belo Horizonte, Cláudio Alvarez Lourenço; e
o cônsul de Portugal em Belo Horizonte, André de Melo Bandeira.
Também participaram da Reunião Especial os deputados Bosco (PtdoB) e
Luiz Carlos Miranda (PDT).
Saiba mais sobre a imigração espanhola
A imigração espanhola foi feita de forma intensiva
entre 1885 a 1911, e o motivo nesse período foram as condições
econômicas desfavoráveis não só naquele país, mas em toda a Europa.
As principais levas foram para as lavouras cafeeiras de São Paulo e
para o comércio da Bahia. Em Minas Gerais, não chegou a haver um
movimento expressivo de imigrantes, a não ser em categorias
específicas como a dos religiosos, no período colonial. Exemplos
dessa presença estão nas paróquias de Ouro Preto, então Vila Rica,
Mariana, São João del Rei e Nova Lima.
Já na construção da capital mineira, em fins do
século XIX e início do século XX, houve uma entrada maior de
imigrantes espanhóis, com a necessidade de mão de obra especializada
em cantaria e madeira. Mas os espanhóis que chegaram a Belo
Horizonte, nesta época, já estavam no Brasil e vinham principalmente
de São Paulo e da Bahia.
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