Dançarinos de quadrilhas querem participação de Estado em festas

Participação efetiva do governo estadual na execução de uma política pública de valorização da cultura junina em Mina...

14/06/2011 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Dançarinos de quadrilhas querem participação de Estado em festas

Participação efetiva do governo estadual na execução de uma política pública de valorização da cultura junina em Minas Gerais. Esta foi a principal reivindicação de representantes do movimento junino e de quadrilheiros que participaram, nesta terça-feira (13/6/11), de audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Todos que se manifestaram na reunião reclamaram do descaso do Executivo em relação aos grupos de quadrilha existentes no Estado e queixaram da ausência de representantes deste poder no debate.

Durante a reunião foram apresentadas algumas propostas para estimular o movimento junino e sanar as grandes dificuldades que os grupos enfrentam atualmente. O autor do requerimento da audiência, deputado Paulo Lamac (PT), quer uma reunião entre os representantes do movimento junino e a secretária de Estado de Cultura, Eliane Parreiras, para cobrar a participação do Executivo na realização dos eventos ainda este ano.

Paulo Lamac sugeriu, ainda, a implantação de um ponto de cultura específico para o segmento das quadrilhas. Ele explicou que o Ministério da Cultura destina recursos anuais para pontos de culturas de outros segmentos e que essa é uma possibilidade para resolver a ausência de espaço reclamada pelos integrantes dos grupos. Ele também defende que a luta deve ser para instalar espaços multifuncionais, citando como exemplo o Sambódromo, onde possam ser desenvolvidas atividades diversificadas ligadas ao movimento como ateliê para costura, oficinas de dança e desenvolvimento de projetos sociais. "Temos que pensar na perpetuação do movimento", justificou.

O presidente da comissão, deputado Elismar Prado (PT), falou da importância de pressionar o governo para ampliar os investimentos em cultura, incluindo as quadrilhas. Segundo ele, o Estado investe apenas 0,4% do orçamento na área e uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 150), que tramita no Congresso, pretende ampliar essa vinculação para 2% da receita federal, 1,5% das estaduais e 1% das municipais. Ele também lembrou que está prestes a ser inaugurado o Centro de Cultura Popular, dentro do projeto cultural da Praça da Liberdade, que poderia reservar um espaço para os grupos juninos.

O deputado Tenente Lúcio (PDT) reafirmou a necessidade de mais investimento para a ampliação da cultura em Minas Gerais. Ele citou o exemplo da Festa de Umuarama, em Uberlândia, que existe há 17 anos e graças a recursos de emendas parlamentares, destinadas pelo parlamentar, hoje já conta com toda infraestrutura. "Manter uma festa desta é muito dispendioso e é preciso, mesmo, de apoio financeiro", apoiou o deputado.

Representantes dos grupos querem recursos para manter tradição

Outras propostas foram apresentadas na audiência pública, por representantes de entidades do movimento junino mineiro. O secretário-executivo da Comissão Mineira de Folclore, Sebastião Breguez, sugeriu que fosse reativado o Centro de Tradições Mineiras (CTM) que, segundo ele, foi criado pelo ex-governador Itamar Franco e abandonado pelos governadores seguintes. Em sua opinião, o CTM poderia gerenciar as políticas públicas para todos os setores culturais, a exemplo do que ocorre com o Centro de Tradições Gaúchas, que tem representações em várias partes do mundo, inclusive Minas Gerais.

O presidente da União Junina Mineira (UJM), Marcelo Borges, apresentou cinco propostas para serem encaminhadas ao governo estadual: 1) instalação de uma sede para o movimento; 2) destinação de subsídios para os grupos de todo o Estado, que trabalham, atualmente, com recursos próprios dos integrantes; 3) instalação de um circuito mineiro de quadrilhas, com realização de festas juninas em todas as regiões; 4) promoção uma ação integrada de estímulo à cultura junina, com o envolvimento das secretarias estaduais de Cultura, Turismo e Juventude; 5) criação de leis específicas para garantir o direito dos quadrilheiros e incentivar o desenvolvimento dessa cultura no Estado.

Ele lembrou que os grupos de quadrilha mineiros trabalham voluntariamente e muitas vezes não têm recursos para montar seus espetáculos. No ano passado, segundo Borges, 10 grupos de Belo Horizonte não puderam participar do Arrail de Belô, o maior evento junino de Minas, por falta de condições financeiras. "Todos nós trabalhamos apenas por amor. Não tem como continuar com uma cultura sem investimentos", afirmou.

Para o presidente da Federação de Quadrilhas de Minas Gerais, Richiesther Paaltiel, o governo estadual precisa investir nos grupos do interior e criar um evento estadual de quadrilhas. Ele também defendeu a criação de um fundo para angariar esses recursos.

Outras sugestões surgiram de participantes do debate, como a estipulação de recursos específicos para projetos juninos, dentro da lei de incentivos fiscais e a transformação dos grupos de quadrilhas em projetos sociais.

Em vários relatos, integrantes desses grupos falaram dos trabalhos sociais que já são realizados nas comunidades pelos quadrilheiros, especialmente com crianças e adolescentes, e da dificuldade de se conseguir aprovar projetos pelas leis de incentivo, que priorizariam projetos e artistas já conhecidos. O vereador Bruno Miranda (PDT) solicitou que a Belotur destine um espaço adequado para os quadrilheiros no Arraial de Belô. "Eles são as estrelas da festa e merecem ser tratados com mais carinho", disse.

Qualidade de grupos mineiros já tem reconhecimento nacional

A realização das festas juninas em praticamente todos os municípios foi considerada, por unanimidade, a principal manifestação cultural de Minas Gerais. "A quadrilha é a cara do mineiro", resumiu o presidente da UJM, Marcelo Borges. "Os grupos mineiros não deixam nada a dever para nenhum do Nordeste", garantiu Jadson da Silva, o "noivo" do Grupo São Gererê, do bairro São Geraldo, que fez breve apresentação durante a audiência pública. Ele lembrou que dois mineiros já ganharam prêmios nacionais: o presidente da São Gererê, Rogério Gomes, apontado como o melhor narrador de quadrilhas; e Alex Alves Raposo, presidente do Grupo São Mateus, que venceu a competição de melhor casal de noivos.

Jadson lamentou que todo o esforço é feito pelos próprios quadrilheiros e não tem qualquer apoio do poder público. Segundo ele, o grupo foi representar Minas Gerais num encontro nacional em Brasília, no ano passado, e era o único sem financiamento público presente no evento. "O Estado nunca viu esse movimento", lamentou.

Todos os presentes na reunião lembraram da importância econômica, social, cultural, religiosa e social do movimento junino em todo o País e em Minas Gerais. Paulo Lamac lembrou que a organização das festas juninas demanda no mínimo seis meses de seus integrantes entre ensaios e apresentações. O trabalho também oferece atividades saudáveis para adolescentes e ajuda a mantê-los afastados das ruas e das drogas.

Muitos dos que se manifestaram durante a reunião lembraram que as festas movimentam, ainda, muitos setores da economia (doces, bebidas, comidas, restaurantes, hotéis, agências de turismo, transporte, confecções, etc), gerando emprego e renda.

O diretor de Marketing da Belotur, Arthur Vianna, apoiou as iniciativas e estimulou que os quadrilheiros reivindiquem mais valorização da classe. "Ninguém nos dá nada de mão beijada", incitou lembrando que as escolas de samba conseguiram verbas estaduais depois de muita luta. Vianna anunciou que a prefeitura de Belo Horizonte vai destinar, a partir deste ano, R$ 2,5 mil para cada um dos 39 grupos de quadrilha da cidade. Admitiu que é pouco, mas lembrou que é o início de uma atitude que nunca antes existiu. Os participantes concordaram com o representante da Belotur, reforçando que agora falta o governo estadual seguir o exemplo da capital.

Presenças - Deputados Elismar Prado (PT), presidente; Tenente Lúcio (PDT) e Paulo Lamac (PT), autor do requerimento.

 

 

 

 

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