Dançarinos de quadrilhas querem participação de Estado em
festas
Participação efetiva do governo estadual na
execução de uma política pública de valorização da cultura junina em
Minas Gerais. Esta foi a principal reivindicação de representantes
do movimento junino e de quadrilheiros que participaram, nesta
terça-feira (13/6/11), de audiência pública da Comissão de Cultura
da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Todos que se manifestaram
na reunião reclamaram do descaso do Executivo em relação aos grupos
de quadrilha existentes no Estado e queixaram da ausência de
representantes deste poder no debate.
Durante a reunião foram apresentadas algumas
propostas para estimular o movimento junino e sanar as grandes
dificuldades que os grupos enfrentam atualmente. O autor do
requerimento da audiência, deputado Paulo Lamac (PT), quer uma
reunião entre os representantes do movimento junino e a secretária
de Estado de Cultura, Eliane Parreiras, para cobrar a participação
do Executivo na realização dos eventos ainda este ano.
Paulo Lamac sugeriu, ainda, a implantação de um
ponto de cultura específico para o segmento das quadrilhas. Ele
explicou que o Ministério da Cultura destina recursos anuais para
pontos de culturas de outros segmentos e que essa é uma
possibilidade para resolver a ausência de espaço reclamada pelos
integrantes dos grupos. Ele também defende que a luta deve ser para
instalar espaços multifuncionais, citando como exemplo o Sambódromo,
onde possam ser desenvolvidas atividades diversificadas ligadas ao
movimento como ateliê para costura, oficinas de dança e
desenvolvimento de projetos sociais. "Temos que pensar na
perpetuação do movimento", justificou.
O presidente da comissão, deputado Elismar Prado
(PT), falou da importância de pressionar o governo para ampliar os
investimentos em cultura, incluindo as quadrilhas. Segundo ele, o
Estado investe apenas 0,4% do orçamento na área e uma Proposta de
Emenda à Constituição (PEC 150), que tramita no Congresso, pretende
ampliar essa vinculação para 2% da receita federal, 1,5% das
estaduais e 1% das municipais. Ele também lembrou que está prestes a
ser inaugurado o Centro de Cultura Popular, dentro do projeto
cultural da Praça da Liberdade, que poderia reservar um espaço para
os grupos juninos.
O deputado Tenente Lúcio (PDT) reafirmou a
necessidade de mais investimento para a ampliação da cultura em
Minas Gerais. Ele citou o exemplo da Festa de Umuarama, em
Uberlândia, que existe há 17 anos e graças a recursos de emendas
parlamentares, destinadas pelo parlamentar, hoje já conta com toda
infraestrutura. "Manter uma festa desta é muito dispendioso e é
preciso, mesmo, de apoio financeiro", apoiou o deputado.
Representantes dos grupos querem recursos para
manter tradição
Outras propostas foram apresentadas na audiência
pública, por representantes de entidades do movimento junino
mineiro. O secretário-executivo da Comissão Mineira de Folclore,
Sebastião Breguez, sugeriu que fosse reativado o Centro de Tradições
Mineiras (CTM) que, segundo ele, foi criado pelo ex-governador
Itamar Franco e abandonado pelos governadores seguintes. Em sua
opinião, o CTM poderia gerenciar as políticas públicas para todos os
setores culturais, a exemplo do que ocorre com o Centro de Tradições
Gaúchas, que tem representações em várias partes do mundo, inclusive
Minas Gerais.
O presidente da União Junina Mineira (UJM), Marcelo
Borges, apresentou cinco propostas para serem encaminhadas ao
governo estadual: 1) instalação de uma sede para o movimento; 2)
destinação de subsídios para os grupos de todo o Estado, que
trabalham, atualmente, com recursos próprios dos integrantes; 3)
instalação de um circuito mineiro de quadrilhas, com realização de
festas juninas em todas as regiões; 4) promoção uma ação integrada
de estímulo à cultura junina, com o envolvimento das secretarias
estaduais de Cultura, Turismo e Juventude; 5) criação de leis
específicas para garantir o direito dos quadrilheiros e incentivar o
desenvolvimento dessa cultura no Estado.
Ele lembrou que os grupos de quadrilha mineiros
trabalham voluntariamente e muitas vezes não têm recursos para
montar seus espetáculos. No ano passado, segundo Borges, 10 grupos
de Belo Horizonte não puderam participar do Arrail de Belô, o maior
evento junino de Minas, por falta de condições financeiras. "Todos
nós trabalhamos apenas por amor. Não tem como continuar com uma
cultura sem investimentos", afirmou.
Para o presidente da Federação de Quadrilhas de
Minas Gerais, Richiesther Paaltiel, o governo estadual precisa
investir nos grupos do interior e criar um evento estadual de
quadrilhas. Ele também defendeu a criação de um fundo para angariar
esses recursos.
Outras sugestões surgiram de participantes do
debate, como a estipulação de recursos específicos para projetos
juninos, dentro da lei de incentivos fiscais e a transformação dos
grupos de quadrilhas em projetos sociais.
Em vários relatos, integrantes desses grupos
falaram dos trabalhos sociais que já são realizados nas comunidades
pelos quadrilheiros, especialmente com crianças e adolescentes, e da
dificuldade de se conseguir aprovar projetos pelas leis de
incentivo, que priorizariam projetos e artistas já conhecidos. O
vereador Bruno Miranda (PDT) solicitou que a Belotur destine um
espaço adequado para os quadrilheiros no Arraial de Belô. "Eles são
as estrelas da festa e merecem ser tratados com mais carinho",
disse.
Qualidade de grupos mineiros já tem reconhecimento
nacional
A realização das festas juninas em praticamente
todos os municípios foi considerada, por unanimidade, a principal
manifestação cultural de Minas Gerais. "A quadrilha é a cara do
mineiro", resumiu o presidente da UJM, Marcelo Borges. "Os grupos
mineiros não deixam nada a dever para nenhum do Nordeste", garantiu
Jadson da Silva, o "noivo" do Grupo São Gererê, do bairro São
Geraldo, que fez breve apresentação durante a audiência pública. Ele
lembrou que dois mineiros já ganharam prêmios nacionais: o
presidente da São Gererê, Rogério Gomes, apontado como o melhor
narrador de quadrilhas; e Alex Alves Raposo, presidente do Grupo São
Mateus, que venceu a competição de melhor casal de noivos.
Jadson lamentou que todo o esforço é feito pelos
próprios quadrilheiros e não tem qualquer apoio do poder público.
Segundo ele, o grupo foi representar Minas Gerais num encontro
nacional em Brasília, no ano passado, e era o único sem
financiamento público presente no evento. "O Estado nunca viu esse
movimento", lamentou.
Todos os presentes na reunião lembraram da
importância econômica, social, cultural, religiosa e social do
movimento junino em todo o País e em Minas Gerais. Paulo Lamac
lembrou que a organização das festas juninas demanda no mínimo seis
meses de seus integrantes entre ensaios e apresentações. O trabalho
também oferece atividades saudáveis para adolescentes e ajuda a
mantê-los afastados das ruas e das drogas.
Muitos dos que se manifestaram durante a reunião
lembraram que as festas movimentam, ainda, muitos setores da
economia (doces, bebidas, comidas, restaurantes, hotéis, agências de
turismo, transporte, confecções, etc), gerando emprego e renda.
O diretor de Marketing da Belotur, Arthur Vianna,
apoiou as iniciativas e estimulou que os quadrilheiros reivindiquem
mais valorização da classe. "Ninguém nos dá nada de mão beijada",
incitou lembrando que as escolas de samba conseguiram verbas
estaduais depois de muita luta. Vianna anunciou que a prefeitura de
Belo Horizonte vai destinar, a partir deste ano, R$ 2,5 mil para
cada um dos 39 grupos de quadrilha da cidade. Admitiu que é pouco,
mas lembrou que é o início de uma atitude que nunca antes existiu.
Os participantes concordaram com o representante da Belotur,
reforçando que agora falta o governo estadual seguir o exemplo da
capital.
Presenças - Deputados
Elismar Prado (PT), presidente; Tenente Lúcio (PDT) e Paulo Lamac
(PT), autor do requerimento.
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