Ex-deputados são pessimistas em relação à reforma política

A desconfiança na aprovação de mudanças significativas nos sistemas eleitoral e partidário marcou a última reunião co...

14/06/2011 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Ex-deputados são pessimistas em relação à reforma política

A desconfiança na aprovação de mudanças significativas nos sistemas eleitoral e partidário marcou a última reunião com convidados da Comissão Extraordinária de Acompanhamento da Reforma Política, nesta terça-feira (14/6/11). A requerimento de todos os seus integrantes, a comissão recebeu, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, dois ex-deputados federais, um ex-deputado estadual e o ex-governador de Minas Francelino Pereira. Eles apresentaram sugestões e deram opiniões sobre a reforma.

Em sua participação, o ex-deputado federal Ibrahim Abi-Ackel sintetizou o sentimento dos demais convidados quanto à possibilidade de uma reforma ampla. Segundo ele, os parlamentares não vão aprovar mudanças nas regras eleitorais, se tiverem dúvidas sobre sua própria sobrevivência política. "O deputado votará a reforma se esta lhe propiciar a esperança de se manter deputado. Na Câmara tem de tudo, só não tem suicida", afirmou.

Ele acrescentou que a falta de consenso na classe política inviabiliza a aprovação da reforma. Abi-Ackel acredita que poderão passar apenas mudanças periféricas, como a alteração da data da posse e a substituição das coligações partidárias localizadas por federações de partidos, de âmbito nacional.

Apesar do pessimismo quanto à reforma, o ex-deputado federal disse que o Brasil avançou muito nas últimas décadas, no que diz respeito à consolidação da democracia. Em sua opinião, o sistema atual, baseado nas eleições proporcionais, deve ser mantido com algumas correções. Para Abi-Ackel, esse é o sistema mais democrático, por dar voz à oposição e às minorias. Ele criticou o voto distrital e disse que o financiamento público de campanha não será capaz de impedir o peso do poder econômico nas eleições.

Falta de consenso - "Sou muito pessimista, neste momento, em relação à possibilidade de uma reforma política. Não há, hoje, um desejo, uma vontade, uma determinação das forças vivas deste País em fazer a reforma", afirmou outra convidada, a ex-deputada federal Sandra Starling. Para ela, um exemplo da falta de consenso é o fato de o tema ser abordado de formas distintas na Câmara dos Deputados e no Senado. Cada casa legislativa constituiu sua própria Comissão de Reforma Política, com prazos e finalidades diferentes.

Sandra Starling disse, no entanto, que o pessimismo não a impede de se manter uma sonhadora. Por isso, relacionou três pontos que considera prioritários numa reforma política: a participação plena do cidadão não só na escolha, mas na fiscalização de seus representantes; a total independência dos Poderes, com a vedação, inclusive, da participação de parlamentares em cargos do Poder Executivo; e a punição rápida e exemplar de casos de corrupção e mau uso dos bens públicos. Nesse aspecto, fez uma crítica contundente à atuação do ex-ministro Antônio Palocci, seu ex-colega de partido, acusado de enriquecimento ilícito. Fundadora do PT em 1980, Sandra desfiliou-se da legenda no ano passado, por não concordar com sua atual orientação política.

Cartas sem resposta - Na mesma linha de Ibrahim Abi-Ackel e Sandra Starling, o ex-deputado estadual mineiro Antônio Faria Lopes disse não acreditar na aprovação da reforma política, por falta de interesse não só dos políticos, mas da sociedade como um todo.

Para ilustrar sua opinião, ele lembrou um episódio ocorrido em 2005. Naquele ano, em meio à crise do mensalão, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva encomendou ao seu ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, um anteprojeto de reforma política, com prazo de conclusão de 45 dias. Na ocasião, Antônio Faria Lopes enviou cinco cartas ao ministro, por e-mail e pelos Correios, com sugestões de mudanças nos sistemas eleitoral e partidário. A reforma não ocorreu e, segundo o ex-deputado estadual, Thomaz Bastos nunca respondeu as cartas.

Lopes aproveitou a reunião desta terça-feira para entregar aquelas mesmas sugestões à Comissão Extraordinária da ALMG. Entre elas, está a realização de eleições gerais a cada cinco anos, para todos os cargos dos Poderes Legislativo e Executivo.

Excesso de partidos - O ex-governador Francelino Pereira também lembrou um projeto de reforma política elaborado em sua passagem pelo Senado, mas que acabou derrotado na Câmara. Sua principal sugestão é a diminuição do número de partidos políticos, considerado exagerado por ele. Atualmente, são 27 as legendas com registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Francelino Pereira aproveitou a reunião para defender uma bandeira que não integra as propostas de reforma política: o fortalecimento dos municípios como entes da Federação. Para o ex-governador, a concentração de recursos na União tem relegado os municípios a uma situação de abandono.

Coordenador diz acreditar em mudanças

O coordenador da Comissão Extraordinária, deputado Carlos Mosconi (PSDB), se disse honrado pelas presenças dos ex-deputados e do ex-governador. Mais otimista, afirmou acreditar na possibilidade de algumas mudanças importantes no sistema eleitoral. Mesmo assim, concordou com a falta de consenso sobre a reforma e deu os próprios depoimentos na comissão como exemplo. De acordo com Mosconi, 34 expositores participaram das reuniões, e não houve participações idênticas. Destacou, no entanto, a importância de Minas Gerais ser ouvida. O principal objetivo da comissão é reunir todas as propostas num documento a ser enviado ao Congresso Nacional.

O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) também destacou a presença dos convidados e o papel da comissão, ao reunir sugestões dos mais diversos setores da sociedade mineira. A deputada Luzia Ferreira (PPS) defendeu o fim das emendas parlamentares, como forma de valorização do Parlamento brasileiro. Para o deputado Romel Anízio (PP), a aprovação da reforma é difícil, mas o País deve continuar acreditando na possibilidade de aperfeiçoamento da democracia.

Debate público - Com o fim das reuniões com convidados, a Comissão Extraordinária de Acompanhamento da Reforma Política vai realizar seu segundo debate público sobre o tema, na segunda-feira, 20 de junho, às 14 horas, no Plenário da ALMG, antes de sintetizar as sugestões recebidas. Ao longo dos trabalhos, a comissão ouviu ex-governadores, parlamentares federais, vereadores, jornalistas especializados em política, líderes da própria ALMG, cientistas políticos, juristas, entidades de classe de trabalhadores e empresários e organizações não governamentais.

A população também pode contribuir para o debate do tema, até 20 de junho, por meio da consulta pública lançada pela Assembleia Legislativa. Para participar, clique no item Consulta Pública, no alto da página da ALMG na internet (www.almg.gov.br).

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), coordenador; Antônio Júlio (PMDB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Fábio Cherem (PSL) e Romel Anízio (PP) e deputada Luzia Ferreira (PPS).

 

 

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