Leishmaniose está em expansão em Minas, afirmam
especialistas
Em dez anos, aumentou o índice de transmissão da
leishmaniose visceral nos municípios mineiros: em 2000, 46 cidades
apresentaram casos e em 2010, quase 200, sendo que as cidades da
Região Metropolitana de Belo Horizonte, além de Unaí, Paracatu e
Montes Claros são as que têm mais ocorrências de leishmaniose
visceral. A notificação dos casos aos órgãos de controle de saúde é
obrigatória. Por outro lado, as mortes humanas causadas pela doença
em Minas Gerais diminuíram. Em 2010, a taxa foi de 10%, enquanto em
2009 o número chegou a 13%.
Os dados foram apresentados pelo superintendente de
Epidemiologia da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Francisco
Leopoldo Lemos, durante audiência pública da Comissão de Saúde da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais, na manhã desta quarta-feira
(8/6/11). A reunião foi solicitada pelo deputado Fred Costa (PHS),
para discutir a prevenção e o controle da leishmaniose em Minas
Gerais.
De acordo com a SES, em Minas Gerais, entre 2009 e
2010 foram registrados 1.232 casos e 132 mortes; em 2008, o índice
foi de 1.450 casos e 33 mortos. Segundo Francisco Lemos, a
Secretaria de Saúde trabalha no mapeamento de áreas de transmissão,
delimitadas em alto, moderado e baixo risco, para aplicar
inseticidas e melhorar o diagnóstico nos seres humanos. Além disso,
há o sacrifício de animais contaminados com o parasita para evitar a
reprodução do ciclo de transmissão.
A leishmaniose é uma doença crônica, que se
manifesta na pele ou nas vísceras, causada por protozoários
flagelados do gênero Leishmania, da família dos Trypanosomatidae. O
calazar (leishmaniose visceral) e a úlcera de Bauru (leishmaniose
tegumentar americana) são as principais formas da doença.
A forma visceral, mais comum no Brasil, é uma
doença parasitária transmitida ao homem e outros hospedeiros por
pequenos insetos de cor amarelada, semelhantes às moscas e
mosquitos, chamados flebotomíneos. Ela atinge órgãos internos,
principalmente fígado, baço, gânglios linfáticos e a medula óssea, e
pode levar à morte quando não tratada. Nos humanos, a doença causa
febre, emagrecimento, anemia, aumento do fígado e do baço e
imunodeficiência. Nos cães, os principais hospedeiros do parasita,
os sintomas são anemia, feridas na pele e crescimento exagerado das
unhas.
Ações municipais - O
secretário-adjunto de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta,
afirmou que 60% das pessoas que morrem por leishmaniose visceral têm
outras doenças como complicadores, como o HIV e a tuberculose. Ele
salientou a castração gratuita, as campanhas para guarda responsável
e as feiras de adoção como ações da Prefeitura municipal para
aumentar a proteção de cães. Atualmente, há cerca de 28 mil animais
vivendo nas ruas da Capital. Além disso, cerca de 360 profissionais
estão envolvidos em aplicações de inseticidas e eutanásia de animais
contaminados, conforme diretrizes do Ministério da Saúde. Para o
secretário-adjunto, os agentes de saúde também devem ser capacitados
para identificar e tratar os sintomas nos seres humanos no início da
doença e a população, conscientizada sobre os cuidados com os
animais e o descarte correto de resíduos, já que o inseto
transmissor se desenvolve em matéria orgânica.
Defensores garantem que sacrifício pode ser evitado
Veterinários e defensores dos animais criticaram as
políticas públicas desenvolvidas no Brasil e em Minas para cuidar da
leishmaniose. O presidente do Conselho Regional de Veterinária de
Minas Gerais, Nivaldo da Silva, afirmou que o assunto não despertava
muita atenção do poder público e da mídia porque "antes era uma
doença de cães pobres, mas agora se tornou uma doença de cão rico".
Ele considerou que não há campanhas educativas governamentais para
conscientizar a população e também há muitas dúvidas sobre o motivo
da expansão em todo o Brasil. "A metodologia de tratamento deve ser
mudada", ressaltou.
A Ordem dos Advogados do Brasil, por meio do núcleo
de Meio Ambiente, se manifestou contra os sacrifícios de animais. O
representante, Sérgio Cruz, ponderou que o cão "não deve ser visto
como uma praga urbana, mas como bioindicador de que algo está
errado" e que o extermínio pode ser uma medida barata, mas não é a
única para lidar com a leishmaniose.
O professor do curso de Medicina Veterinária da PUC
Betim, Vítor Ribeiro, defendeu o uso de vacinas para diminuir o
sacrifício de cães e criticou a capacitação de agentes de saúde.
Segundo ele, muitos deles afirmam que o produto não funciona. "Isso
é um desrespeito ao Ministério da Agricultura, que aprovou a vacina.
Por que eles dizem que ela não é boa?", questionou. O professor
afirmou que duas vacinas já foram desenvolvidas no Brasil, mas não
há divulgação ou ela é colocada em descrédito.
Segundo Vítor, que também é integrante da
Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais
(Anclivepa), muitos países não exterminam os animais contaminados e
a Europa, por exemplo, divulgou, em 2010, uma vacina eficaz para
controlar a doença. Além do produto, os colares inseticidas poderiam
ser usados para prevenir a transmissão.
Comparação com dengue - O deputado Fred Costa
(PHS) reconheceu o esforço do poder público para melhorar o quadro,
mas pediu para que sejam desenvolvidas outras ações. Ele citou que a
mídia, por exemplo, não dá o mesmo destaque à doença, ao contrário
do que ocorre com a dengue, já que há muitas mortes de pessoas e
cães. Conforme o superintendente da Secretaria de Estado da Saúde,
Francisco Lemos, nos últimos oito anos, 198 morreram em decorrência
de dengue e mais de 400 por leishmaniose visceral. O deputado Doutor
Wilson Batista (PSL) ponderou que, embora o número de mortes
causadas por dengue seja menor nessa comparação, há mais casos da
doença causada pelo mosquito Aedes aegypti no Estado.
A comissão vai votar pedido de informações ao
Ministério da Saúde, especialmente em relação ao desenvolvimento de
vacinas no País. O requerimento é dos deputados Carlos Mosconi
(PSDB), Doutor Wilson Batista e Fred Costa.
Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB),
presidente; Doutor Wilson Batista (PSL); Neider Moreira (PPS); e
Fred Costa (PHS). Também participaram o superintendente da ONG
Núcleo Fauna de Defesa Animal, Franklin Oliveira, a promotora de
Justiça de Defesa de Saúde de Barbacena, Giovanna Araújo Attanásio,
e o representante da OAB, Ricardo Assis Alves Dutra.
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