Agentes culturais criticam projeto que vincula ingresso à nota fiscal

O Projeto de Lei (PL) 106/11, que propõe a troca de notas fiscais por ingressos para espetáculos culturais, recebeu c...

06/06/2011 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Agentes culturais criticam projeto que vincula ingresso à nota fiscal

O Projeto de Lei (PL) 106/11, que propõe a troca de notas fiscais por ingressos para espetáculos culturais, recebeu críticas enfáticas na audiência conjunta das Comissões de Cultura e de Esporte, Lazer e Juventude, realizada nesta segunda-feira (6/6/11), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Representantes de artistas e produtores consideram que a conta será paga novamente pelos agentes culturais, como acontece com a meia entrada para estudantes e idosos. O deputado Elismar Prado (PT), autor da proposta, se comprometeu a avaliar sua retirada de tramitação, até que o assunto seja mais bem discutido e o projeto, aprimorado.

Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o PL 106/11 foi considerado inconstitucional, mas o parecer ainda não foi votado. O ator e diretor teatral Pedro Paulo Cava fez coro com a CCJ e sugeriu que Elismar Prado arquive a proposição. "Vocês querem que eu dê de graça a única coisa que eu tenho para vender", reclamou. Para Cava, o artista será transformado em fiscal de tributos do Estado e a medida não ampliaria o público nos teatros. "Por que não trocar notas fiscais por mais saúde e educação? Ou por artigos de supermercado?", indagou.

A crítica veio também do presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc), Rômulo Duque. Para ele, o projeto se esquece de quem faz a cultura no Estado. "Quem vai pagar a conta?", questionou. Segundo ele, o aumento da arrecadação de ICMS, que poderia surgir com a aprovação do projeto, é um pleito antigo do setor cultural, mas sem ônus para o produtor. "Não temos margem para segurar isso", afirmou, citando dificuldades vividas pelo setor. "Se faço promoção a R$ 10,00, o Ministério Público exige meia entrada a R$ 5,00", exemplificou.

O ator Leonardo Horta, diretor de Comunicação e Assuntos Políticos do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões de Minas Gerais (Sated), também acredita que a conta do projeto seria paga pelos produtores e, logo, pelos artistas. "O projeto é bom porque nos permite discutir a formação de público, mas não traz nada sobre percentuais de ingressos em promoção e nem sobre o pagamento disso", avaliou.

Deputado se compromete a rever proposição

O deputado Elismar Prado, presidente da Comissão de Cultura, esclareceu que o objetivo das audiências públicas realizadas na ALMG é, justamente, o de ouvir opiniões sobre os projetos em tramitação. No início da reunião, ele disse que o PL 106/11 poderia ampliar a arrecadação do Estado e ainda garantir os direitos do consumidor, que passaria a exigir a nota fiscal. Ele citou ainda outros estados que têm leis semelhantes. Ao final, porém, admitiu rever a proposição e até a suspender sua tramitação, mas deixou claro que ela nasceu também de demandas do setor cultural.

A suspensão do projeto deverá ser discutida com o deputado Sebastião Costa (PPS), autor do PL 408/11, que tramita anexado ao de Elismar Prado. O PL 408/11 prevê também a troca de notas fiscais por ingressos, mas para eventos esportivos. Ele também estava na pauta da audiência pública, mas a discussão acabou se restringindo ao setor cultural.

O deputado Carlos Mosconi (PSDB) pontuou a boa intenção da proposta, mas enfatizou a complexidade de sua operacionalização e do próprio tema. "Minas tem uma cultura riquíssima e de grande diversidade, mas pouco difundida. Uma lei é insuficiente para isso", avaliou. Mosconi lembrou, por outro lado, o aumento do orçamento para a cultura em 2011.

Luzia Ferreira (PPS) salientou que os deputados realmente não têm prerrogativa para propor renúncia fiscal, o que aponta para a inconstitucionalidade das proposições. "A proposta tem o mérito de tentar democratizar o acesso à cultura, mas temos que discutir como melhorar as leis que já temos", ponderou, diante da unanimidade das críticas. Ela citou ainda exemplo de show em Salvador (BA), que teve ingressos trocados por nota fiscal, mas com cachês pagos pelo governo.

Adelmo Carneiro Leão (PT) condenou o fato de a cultura ser tratada, historicamente, como "apêndice de outras áreas". Ele também criticou a falta de transparência no uso de tributos como o ICMS. "Os fiscais do Estado têm benefícios. Então também deveríamos ser ressarcidos pela nossa fiscalização", comparou. Para o deputado, porém, esse não é o foco ideal para a cultura. "A cultura tem que ser uma política de Estado. Agora, na Lei de Diretrizes Orçamentárias, podemos tratar disso", opinou.

Comissão anuncia agenda de discussões

Em resposta ao apelo dos agentes culturais para outros problemas do setor, o deputado Elismar Prado anunciou para esta terça-feira (7) uma reunião com a Secretaria de Cultura (SEC), para tratar do Plano Estadual de Cultura, a ser enviado à ALMG, e da efetivação do Conselho Estadual de Cultura. No próximo dia 15, a audiência será sobre a substituição tributária, forma de arrecadação adotada pelo Executivo que tem dificultado a captação de projetos. E no dia 27, será discutido o ensino de música nas escolas, que passa a ser exigido no próximo semestre.

Os agentes defenderam o fim da contrapartida de 20% cobrada de empresas que patrocinam projetos, além do aumento de recursos no Fundo Estadual de Cultura que hoje, segundo o Sinparc, tem R$ 5 milhões, contra R$ 50 milhões da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. A superintendente de Incentivo e Fomento da SEC, Nora Vaz de Mello, explicou os critérios e funcionamento da lei de incentivo, que recebe 0,3% da receita do ICMS. Em 2011, segundo ela, 43% dos recursos serão destinados a projetos no interior de Minas.

Presenças - Deputados Elismar Prado (PT), presidente da Comissão de Cultura; deputado Luzia Ferreira (PPS), vice; e deputados Carlos Mosconi (PSDB) e Adelmo Carneiro Leão (PT). Além dos convidados citados, estiveram presentes também o subsecretário da Casa Civil e Relações Institucionais, Leonardo Portela, e o diretor da Federação de Clubes do Estado de Minas Gerais, Carlos Rocha.

 

 

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