Projeto destaca resgate à tradição judaica e combate à
intolerância
Um trabalho de resgate da memória e das tradições
judaicas em Minas Gerais, dentro de uma perspectiva de combate à
intolerância. Foi assim que o professor e coordenador do programa de
pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), Carlos Magno Guimarães, classificou o projeto
"Inquisição em Minas Gerais no século XVIII: do banco de dados à
arqueologia", que foi apresentado nesta quarta-feira (25/5/11),
durante a audiência pública promovida pela Comissão de Assuntos
Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais.
O projeto, que teve início em 2010, é uma parceria
entre o Laboratório de Arqueologia da UFMG e o Instituto Histórico
Israelita Mineiro. Na avaliação do deputado Almir Paraca (PT), que
solicitou a realização da audiência, o projeto é uma iniciativa
importante para o conhecimento da historiografia do Estado, além de
tratar de um tema importante que remete a questões atuais como o
respeito à diversidade.
A deputada Liza Prado (PSB) e o deputado Pompílio
Canavez (PT) também apoiaram a iniciativa, a qual possibilita o
conhecimento da identidade e da história de muitos municípios
mineiros que receberam os judeus perseguidos pela inquisição.
Eles também ressaltaram o fato de o trabalho atuar
no combate ao preconceito e no respeito à adversidade. Já o deputado
João Leite (PSDB) lembrou das perseguições sofridas pelos judeus aos
longo da história. "É uma oportunidade de ter acesso e conhecer uma
parte da nossa história até então desconhecida", comentou o
deputado.
O projeto - Durante a
audiência, o coordenador do projeto, Carlos Magno Guimarães,
explicou em que consiste a pesquisa, que, na sua avaliação, é um
trabalho de grande relevância para o patrimônio histórico mineiro.
Ele afirmou que o projeto consiste no levantamento de dados e
informações através da análise da documentação produzida no processo
inquisitório, bem como daquela gerada pelo Estado colonial
português.
O professor também explicou que essas informações
são cruzadas, através da criação de um banco de dados, de maneira a
identificar, geograficamente, os locais em que os judeus perseguidos
se estabeleceram em Minas Gerais. " A partir dessa identificação
queremos fazer um trabalho de campo com pesquisas arqueológicas",
comentou o pesquisador.
Guimarães também considerou que a análise dos
documentos e informações levantadas remete a uma trágica realidade,
pautada pela intolerância e perseguição ao povo judeu. Ele
ressaltou, por exemplo, o fato de que muitas pessoas, que
denunciavam as famílias judaicas escondidas, agiam motivadas pela
ascensão, e pela possibilidade de receberem certos benefícios,
através do confisco de bens e propriedades que era feito.
O pesquisador também lembrou que hoje já se sabe
que os chamados cristãos novos, denominação dada aos judeus que
foram obrigados a se converter na época da inquisição, estiveram
presentes em quase todas as atividades que resultaram no
desenvolvimento do Estado, entre elas a agricultura, mineração e
atividade mercantil.
Para Guimarães, o projeto possibilitará o
conhecimento da origem de muitos costumes judaicos, além da
descoberta de possíveis sítios arqueológicos, entre os quais
estariam incluídas as cidades de Sabará, Paracatu e Ouro Preto. O
deputado João Leite lembrou que a recuperação desses prováveis
sítios arqueológicos são fundamentais para o resgate da história
oral e da cultura judaica.
O presidente do Instituto Histórico Israelita de
Minas Gerais, Jacques Ernest Levy destacou o trabalho da entidade na
preservação da cultura e da presença judaica no Estado. Segundo ele,
o Instituto foi fundado em 1984 e hoje conta com uma biblioteca com
mais de 7 mil títulos, 250 periódicos, uma revista, além de vídeos,
documentos, exposições e palestras que retratam as tradições do povo
judeu.
Para o presidente da Federação Israelita, Marcos
Brafman, o instituto histórico mostra que muitas temáticas que são
recuperadas pelo projeto, entre as quais a defesa pela tolerância, a
igualdade e a liberdade, são extremamente atuais .
Ao fim da reunião, a deputada Liza Prado teve um
requerimento provado, em que solicita ao Instituto Histórico
Israelita o envio das informações levantadas pelo projeto sobre a
história judaica, de maneira a divulgá-las junto aos arquivos
públicos estaduais.
Outros requerimentos -
Também foram aprovados outros dois requerimentos. O primeiro, dos
deputados Almir Paraca e Pompílio Canavez e da deputada Liza Prado
solicita a realização de audiência pública das Comissões de Assuntos
Municipais e Regionalização, Saúde e Segurança Pública, para
discutir os problemas causados pelo uso de entorpecentes como o
crack e o oxi. O segundo, da deputada Liza Prado, é para que sejam
enviadas aos deputados dessas comissões as notas taquigráficas de
todas as reuniões da Assembleia sobre as questões das drogas nos
cenários Estadual e Federal.
Presenças - Deputados
Almir Paraca (PT), presidente; Pompílio Canavez (PT), João Leite
(PSDB), Sebastião Costa (PPS), e deputada Liza Prado (PSB). Também
compareceram à audiência o diretor e a vice-presidente do Instituto
Histórico Israelita Mineiro, Leon Menache e Maria Antonieta Cohen, e
Hélcio Emiliano Moreira, da Igreja Batista do Barro Preto.
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