Comissão vai buscar apoio para indenização a filhos de hansenianos

A comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais vai pedir que os 53 deputados federais e trê...

24/05/2011 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Comissão vai buscar apoio para indenização a filhos de hansenianos

A comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais vai pedir que os 53 deputados federais e três senadores mineiros apoiem as indenizações para os filhos de hansenianos e se pronunciem publicamente no Congresso Nacional para dar visibilidade ao assunto. Requerimento do presidente da comissão, deputado Durval Ângelo, e da deputada Maria Tereza Lara, ambos do PT, foi aprovado em audiência pública solicitada por eles, na manhã desta terça-feira (24/5/11), para discutir o direito a pagamento de pensões a filhos de pais com a doença. O encontro, realizado no auditório da ALMG, contou com a participação de mais de cem pessoas.

Os deputados também vão elaborar abaixo-assinado com o apoio de parlamentares da ALMG para enviar à presidente da República, Dilma Rousseff, e à ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário Nunes. No Brasil, até 1967, os hansenianos eram confinados, e seus filhos, levados para instituições, onde ficavam privados não só do convívio dos pais, mas do convívio social. Esses "órfãos", que continuaram sendo discriminados após o fim da segregação, pleiteiam o direito a receber pensão do Governo Federal, nos mesmo moldes da que foi concedida a seus pais pelo Lei Federal 11.520, de 2007.

O coordenador nacional do Movimento pela Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio Moreira de Souza, informou que cerca de sete mil filhos separados dos pais estão no cadastro para pleitear a indenização a ser concedida pelo Governo Federal. Além disso, ele afirmou que o Ministério da Casa Civil e a Secretaria Nacional de Direitos Humanos vão formar um grupo de trabalho para estudar o direito ao pagamento, e que o movimento vai se mobilizar para sensibilizar o poder público e cobrar seus direitos.

Artur de Souza mencionou que o recurso simboliza reparos às violações sofridas por pessoas com hanseníase e citou o Japão como o primeiro país a garantir o direito a essa população. Ele explicou que a segregação era cientificamente justificada até 1940, mas, depois disso, comprovou-se que não havia necessidade de manter os hansenianos ou seus filhos isolados. "Até 1990, a Lei Eleitoral estabelecia que o título de pessoas com hanseníase deveria ser esterilizado", exemplificou.

Filhos relatam casos de sofrimento e privação

A líder comunitária em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte) Maria Luíza da Silva contou que foi levada para um orfanato e sofreu agressões físicas e psicológicas por ser filha de mãe com hanseníase. "A diretora arrancava os dedos das bonecas que ganhávamos no Natal e dizia que elas eram nossas mães, que não tinham mãos por causa da doença", narrou.

A também líder comunitária em Ubá (Zona da Mata) Ivone de Oliveira Rocha se emocionou ao lembrar das histórias de sofrimentos pelas quais passou e afirmou que, embora necessário, "dinheiro nenhum paga a violência que enfrentamos durante a vida".

Durante a fase de debates, cerca de dez participantes da audiência pública compartilharam suas experiências em orfanatos e educandários, que incluem castigos físicos, abusos sexuais e humilhações. Valmir Donizete Vaz criticou a discriminação sofrida pelo grupo e afirmou não ter oportunidades fora da colônia onde vive e trabalha até hoje. Já Donizete Rodrigues contou que foi estuprado dentro do orfanato e que coordenadores batiam nas crianças e as obrigavam a se ajoelhar em tampas de garrafa quando cometiam "faltas" . "Não tínhamos liberdade de ser criança", definiu.

Representantes reforçam necessidade de organização

O presidente da Fundação Perseu Abramo, Nilmário Miranda, lembrou que a indenização seria uma forma de o Estado brasileiro "pedir perdão pelas violações e reconhecer a injustiça cometida" e resgatar a memória e a história das pessoas. Para o vereador da Câmara Municipal de Betim, Cordovil Neves de Souza, que é filho de pais com hanseníase, o movimento busca aliados para contribuir com o trabalho do grupo, combater o preconceito e evitar a segregação entre as pessoas.

O deputado Durval Ângelo destacou que a audiência é uma das maneiras de demonstrar a luta dos hansenianos, mas chamou a atenção para o fortalecimento da organização do grupo para novas conquistas. A deputada Maria Tereza Lara ressaltou que "houve relatos de muito sofrimento, mas também de superação e transformação".

Além de pedir apoio aos parlamentares mineiros no Congresso Nacional, a comissão aprovou outros dois requerimentos de Durval Ângelo e Maria Tereza Lara. Eles solicitam o envio das notas taquigráficas da reunião à presidente Dilma e à ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, para que elas tenham conhecimento da discussão e peçam agilidade no estudo da indenização; e a formulação de manifestação de aplauso ao Morhan pelo trabalho realizado.

Comissão também aprova pedidos para caso da Imbel e despejo de policiais

A comissão também aprovou requerimentos relacionados a audiências públicas anteriores. Uma delas discutiu as demissões na Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) de Itajubá, na última segunda-feira (23). A comissão vai fazer visita à unidade, em conjunto com a Comissão de Turismo, Indústria e Cooperativismo, e vai convidar senadores e deputados federais mineiros.

Além disso, os parlamentares vão enviar ao deputado federal Odair Cunha (PT/MG) pedido para agendar reunião com o Tribunal de Contas da União (TCU) para tratar das demissões dos trabalhadores não concursados da Imbel. Ele também deverá receber as notas taquigráficas da audiência, para que crie uma frente de defesa da Imbel com deputados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, onde há fábricas da empresa. Os requerimentos são do deputado Durval Ângelo.

Outros pedidos se referem a debate sobre ameaça de despejo de policiais militares de moradias funcionais em Belo Horizonte. Será agendada uma visita ao secretário de Estado de Defesa Social para discutir a situação do conjunto no bairro Betânia (região Oeste), na Capital, e enviado ofício à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, com pedido de prorrogação do prazo para os militares permanecerem nas residências. Além disso, será enviado ofício ao coronel PM Jader Mendes Lourenço com pedido de levantamento do número de famílias que moram no conjunto. Os requerimentos são dos deputados Durval e Sargento Rodrigues (PDT).

Serão encaminhadas, ainda, as notas taquigráficas da audiência sobre o despejo de militares ao coordenador do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual, Rodrigo Filgueira de Oliveira, a pedido do presidente da comissão.

Detran - A comissão vai ouvir servidores do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG) em audiência pública para discutir supostas violações de direitos na instituição. O requerimento é do deputado Durval Ângelo.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); e deputada Maria Tereza Lara (PT).

 

 

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