Revitalização do mercado do Cruzeiro ainda preocupa
população
O destino do Mercado Distrital do Cruzeiro, em Belo
Horizonte, ainda divide opiniões e preocupa moradores do bairro e
feirantes, mesmo após a decisão da Prefeitura de suspender o
processo de revitalização. O assunto foi discutido pela Comissão de
Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de
Minas Gerais, nesta terça-feira (17/5/11), a requerimento do
deputado Délio Malheiros (PV). Para ele, discutir a revitalização do
mercado, independente do projeto que for adotado, é essencial, uma
vez que o espaço é patrimônio de todos os belorizontinos e não
apenas dos moradores dos bairros do seu entorno.
A única proposta de recuperação do mercado
apresentada à Prefeitura é da Santec Empreendimentos e prevê a
demolição do mercado e a construção de um centro de compras, dois
hotéis, além de estacionamento para 2 mil vagas. No entanto, a
proposta tem gerado muita polêmica, e o Instituto dos Arquitetos do
Brasil (IAB) apresentou pedido preventivo de tombamento integral do
mercado.
O secretário municipal adjunto de Desenvolvimento
Econômico da Prefeitura de Belo Horizonte, Rafhael Guimarães
Andrade, afirmou que a única proposta apresentada no Procedimento de
Manifestação de Interesse (PMI) poderia resolver alguns problemas da
região identificados pela PBH. Segundo o representante do Executivo
municipal, esses problemas seriam a redução das atividades
econômicas do mercado; a subutilização do Parque Amilcar Vianna,
localizado próximo ao mercado; e o problema do tráfego da região,
agravado pela Universidade Fumec. O posicionamento da prefeitura, de
acordo com documento lido por ele, é de que os hotéis ajudariam a
preparar a cidade para a Copa do Mundo de 2014 e a fazer de Belo
Horizonte a nova capital do turismo de negócios.
Rafhael Andrade ainda procurou desmentir o que
seriam, na visão da prefeitura, informações falsas sobre o projeto,
como a de que o terreno do mercado valeria R$ 300 milhões e que
estaria sendo doado para a iniciativa privada; que o mercado seria
fechado; e que o parque Amilcar Vianna seria prejudicado.
Proposta apresentada à Prefeitura prevê construção
de centro gastronômico
O diretor da Santec Empreedimentos, Júlio César
Santos, provocou os que criticam a proposta apresentada pela
empresa, dizendo que o PMI foi aberto a participação de todos. Ele
enfatizou que a Santec elaborou o projeto observando a legislação e
que procurou ouvir todos os setores interessados na revitalização do
mercado e percebeu que a maior preocupação era atrair novos
frequentadores para o espaço. Ele informou que a proposta da Santec
é manter o mercado na mesma posição que está hoje, sendo ampliado
dos cerca de 4,5 mil m² de hoje para 6 mil m². Também consta na
proposta a construção de um mezanino para funcionamento de um centro
gastronômico.
Abandono dos mercados -
Para a presidente da Associação dos Cidadãos do Bairro Cruzeiro,
Patrícia Caristo, o mercado deveria ser reformado e não demolido.
Ela argumentou que há anos a prefeitura vem mantendo uma política de
desmantelamento dos mercados da cidade. Um exemplo disso, segundo
ela contou, seria a falta de licitação para ocupação das lojas que
estão fechadas. Patrícia Caristo também criticou a criação de vagas
de estacionamento como solução para o caos no trânsito. "As vagas
são um convite. Se você oferece duas mil vagas, outras duas mil
pessoas vão procurar espaço", afirmou.
A representante dos moradores disse que foram
recolhidas 8 mil assinaturas contra a demolição do mercad. Segundo
ela, a preocupação é com a elitização do espaço. Segundo Patrícia
Caristo, a Copa do Mundo tem sido usada para justificar
empreendimentos que não interessam à cidade. Ela ressaltou que
existe uma pressa dos empreendedores em aprovar o projeto até 31 de
julho para não perderem os benefícios que a lei municipal concede
para a construção de hotéis, visando a Copa de 2014. Ela ainda
criticou a falta de diálogo da prefeitura com os interessados na
revitalização do mercado.
População não está segura com suspensão do processo
pela prefeitura
A população também não está segura com a decisão da
prefeitura de suspender o processo de escolha do projeto de
revitalização do Mercado Distrital do Cruzeiro, segundo afirmou a
presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Cláudia
Pereira Pires. A explicação para isso, segundo ela avaliou, é porque
falta a Prefeitura travar um diálogo amplo com a população para
lançar as novas bases para um projeto participativo, que atenda os
interesses do morador do bairro Cruzeiro e da população de Belo
Horizonte. "O projeto apresentado até o momento, sob os pontos de
vista ambiental, cultural, histórico, afetivo, de memória e de
paisagem urbana é completamente inaceitável", concluiu.
O arquiteto João Diniz apresentou a revitalização
do mercado de Barcelona como referência possível para o mercado do
Cruzeiro, apontando coincidências como a localização de ambos em
áreas de grande adensamento urbano e o fato de serem prédios
históricos, por exemplo. Para ele, uma das grandes diferenças entre
o projeto de Barcelona e o que se quer implantar em Belo Horizonte é
de escala. "O projeto de Barcelona é focado na história, e não em
situações e interesses pontuais e momentâneos", comparou. Ela também
avalia que é necessário aproveitar a oportunidade para discutir um
projeto para o uso do espaço urbano, com a participação da
sociedade.
O representante dos comerciantes na reunião, Wayne
Stochiero Vasconcelos Caetano, disse que o projeto precisa ser
revisto para colocar o mercado como elemento principal da
revitalização. A deputada Luzia Ferreira (PPS) também salientou a
importância da construção de um projeto com a ajuda da população.
Ela disse que acompanha as discussões sobre o mercado há cerca de
cinco anos, ainda na Câmara Municipal. A parlamentar lembrou emenda
incluída em projeto de lei para garantir que qualquer intervenção
mantenha a função do mercado.
Presenças - Deputados Délio
Malheiros (PV), presidente; Duilio Castro (PMN); Adelmo Carneiro
Leão (PT); e a deputada Luzia Ferreira (PPS).
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