Apesar de irregular, empresa segue operando radares em Juiz de Fora

Irregularidades na instalação de radares em Juiz de Fora foram apontadas na reunião que a Comissão de Defesa do Consu...

11/05/2011 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Apesar de irregular, empresa segue operando radares em Juiz de Fora

Irregularidades na instalação de radares em Juiz de Fora foram apontadas na reunião que a Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais realizou nesse município da Zona da Mata, nesta quarta-feira (11/5/11).

Apesar das denúncias envolvendo a empresa responsável pelos radares - a Engebrás - ela continua prestando o serviço de radar na cidade. Além disso, a modalidade do contrato em vigor continua sendo por produtividade, ou seja, a empresa recebe mais em função das multas aplicadas. Outro problema seria a falta de visibilidade da grande maioria dos radares instalados.

Foi o vereador de Juiz de Fora Isauro Calais quem apresentou as principais denúncias, constatando que "está tudo errado na cidade com relação aos radares". Mesmo reconhecendo que não foi a atual administração local que celebrou o contrato, ele avaliou que o atual prefeito tem obrigação de cancelar o documento. "É inconcebível uma empresa declaradamente corrupta continuar operando em Juiz de Fora", indignou-se.

Sobre a modalidade de contrato, Calais julgou-a totalmente irregular, ao estimular a indústria da multa e não a educação dos motoristas. O vereador citou ainda que o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), por meio de resoluções, prevê que a sinalização deverá ter ampla visibilidade, o que não ocorre em Juiz de Fora, na sua opinião. Ele citou, inclusive, vários pontos da cidade onde essa determinação não é cumprida. Segundo Calais, 70% dos radares da cidade estão atrás de árvores e em curvas, com o objetivo único de lesar o motorista. Para ele, a prefeitura deveria retirá-los imediatamente.

Os vereadores Júlio Gasparette, 1º vice-presidente da Câmara, e José Manuel concordaram que a maioria dos radares na cidade fica escondida. Os dois avaliam que a melhor opção seria colocar lombadas eletrônicas, que ficam mais visíveis, em vez dos "pardais".

Secretário de Trânsito dá sua versão

O secretário de Transportes e Trânsito de Juiz de Fora, Márcio Gomes Bastos, disse que há 13 pontos de fiscalização, com 10 radares operando em sistema de rodízio. Ele afirmou que os radares foram instalados em março de 2003. A licitação ocorreu antes, em julho de 2001, na modalidade técnica e preço, da qual saiu vencedora a empresa Engebrás. O contrato, com vigência de 20/5/03 até 20/5/09, previa o pagamento por multa aplicada, recebendo a empresa o valor de R$ 28,17 por cada multa.

Márcio Bastos explicou que em 2006 novo processo licitatório iniciado pela prefeitura foi suspenso pelo Tribunal de Contas. Só em 2009, o TCE liberou o novo processo licitatório, condicionando que o edital deveria ser enviado ao órgão para análise. Em 12/6/10, foi publicado o edital e o TCE suspendeu o certame para análise. Em 13/4/11, o município recebeu parecer do Tribunal com orientações para alterações no edital. O TCE exigiu que fossem retiradas restrições do edital a empresas que não tivessem pago a anuidade do Crea e a entrada de consórcios no certame. O Tribunal também condenou a instalação do centro de processamento e imagens da fiscalização na empresa Engebrás.

Sobre esses pontos, o presidente da comissão, deputado Délio Malheiros (PV) acrescentou que também o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas entendeu que a empresa estava sendo responsável pelo processamento, análise e vistoria de imagens do trânsito. E a instalação do centro de processamento de imagens na empresa caracterizaria delegação de poder, sendo que a Prefeitura de Juiz de Fora é reincidente nesse último item. Sobre as exigências quanto ao Crea e consórcios, o MP de Contas considerou que elas tornavam o edital direcionado .

Segundo Márcio Bastos, a continuidade dos radares só foi viabilizada por meio de contratos emergenciais com validade de 180 dias, em vigor até outubro deste ano. O contrato tem valor estimado de R$232 milhões, prevendo ainda a forma de pagamento de R$ 29,85 por multa recebida. Ele ressalva que, no edital que está sendo apreciado pelo TCE, a forma de remuneração não será por multa, mas por equipamento instalado.

Quanto à visibilidade dos radares, ele disse que quem dá visibilidade ao equipamento é a sinalização, vertical e também horizontal. "A sinalização vertical fica sempre de 100 a 300 metros do equipamento, como prevê a resolução do Contran. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não nos obriga, mas colocamos também sinalização horizontal para alertar os motoristas e atender o objetivo principal que é o de educar o motorista", destacou.

Deputada exige cancelamento imediato do contrato

A deputada Liza Prado (PSB), vice-presidente da comissão, alertou para a gravidade dos fatos apontados na reunião. "Acho muito grave que a Prefeitura, sabendo que o contrato é por produtividade, que existe delegação do poder de polícia, não cancele esse documento. Um contrato, quando é prejudicial ao erário, pode inclusive ser rompido", disse ela, defendendo o cancelamento imediato do contrato. A parlamentar aconselhou os motoristas que se sentirem lesados a recorrerem das multas. "Se há uma lei municipal e outra federal prevendo visibilidade da sinalização e isso não é cumprido, a pessoa multada pode recorrer questionando as multas", defendeu.

O deputado Carlos Henrique (PRB) sugeriu que a comissão fizesse uma visita, juntamente com vereadores, Ministério Público e Prefeitura, aos pontos de radares considerados irregulares. Ele citou outras audiências da comissão para investigar o problema em outros municípios e disse que a preocupação é acabar, não com os radares, mas com as irregularidades, que visam punir, e não educar o contribuinte.

O deputado Bruno Siqueira (PMDB) lembrou que, em 2003, quando foi iniciado o contrato dos radares, era prefeito Tarcísio Delgado, de seu partido, a quem ele saiu em defesa. "Não acredito que tenha havido má fé, e sim, algum erro", afirmou. Ele reforçou lei de sua autoria, quando era vereador na cidade, prevendo sinalização horizontal e vertical à distancia entre 50 e 100 metros dos radares. Pediu ainda boa vontade da prefeitura para que atenda às solicitações da Câmara. "Em vários pontos de radares, pode-se fazer a mudança para um local um pouco melhor, cumprindo a legislação municipal", considerou.

Ao final da reunião, foram aprovados dois requerimentos da comissão solicitando providências. No primeiro, os parlamentares pedem que a prefeitura local encaminhe o contrato para instalação dos radares e a cópia do laudo prévio necessário à instalação, bem como outros documentos que entender necessários à apuração dos fatos. O segundo requerimento é para que a Câmara Municipal envie à comissão cópia do laudo técnico sobre a instalação de radares, documento que está sendo produzido pelo Legislativo local.

Presenças - Deputado Délio Malheiros (PV), presidente; Liza Prado (PSB), vice; Carlos Henrique (PRB) e Bruno Siqueira (PMDB). Também estiveram presentes os vereadores de Juiz de Fora Antônio Martins ("Tico-Tico") e José Manuel, e também a subsecretária operacional de Transportes e Trânsito, Roberta Ruhena Vieira; o promotor de Justiça, Paulo César Ramalho; e o diretor-geral do Instituto de Metrologia e Qualidade do Estado de Minas Gerais (Inmetro MG), Tadeu José de Mendonça.

 

 

 

 

 

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