Denúncias contra transporte em Neves mobilizam
usuários
Mais de 300 pessoas participaram, nesta terça-feira
(10/5/11), de audiência pública da Comissão de Transporte,
Comunicação e Obras Públicas da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais, que apurou denúncias contra a empresa Transimão Transportes,
que atua especialmente no município de Ribeirão das Neves, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte.
Com ânimos acirrados, usuários das linhas
exploradas pela concessionária reclamaram da precariedade dos
ônibus, da escassez de veículos e da má qualidade do serviço, e
exigiram um posicionamento do Departamento de Estradas de Rodagem
(DER-MG). O vice-presidente da comissão e autor do requerimento da
reunião, deputado Celinho do Sinttrocel (PCdoB), recebeu um dossiê
com as denúncias e um abaixo-assinado com cerca de 40 mil
assinaturas, de acordo com a assessoria do gabinete.
O diretor de Fiscalização do DER, João Affonso
Baeta Costa Machado, afirmou que, a partir de segunda-feira, vai
percorrer todo o itinerário a cargo da Transimão, fotografar e
registrar para tomar as providências necessárias. Também se
comprometeu a exigir de todas as empresas mineiras o cumprimento dos
contratos e intermediar junto à Secretaria de Estado de Transportes
(Setop) a melhoria do sistema público de coletivos. Ele explicou que
o DER é responsável apenas pela fiscalização dos trabalhos das
empresas. João Baeta convocou a empresa a comparecer na próxima
segunda-feira no órgão, para explicar sobre as denúncias
apresentadas.
Representantes de associações de moradores de
bairros atendidos pelas linhas, convidados da reunião, citaram
algumas das principais denúncias como ônibus que trafegam sem
freios, vidros, bancos e até com o eixo traseiro solto.
O presidente da Associação dos Moradores do Bairro
Florença, Paulo Roberto Tibúrcio, disse que há veículos com mais de
20 anos de uso trafegando, contrariando a limitação de 15 anos
imposto pelo contrato de concessão. "Tem ônibus que roda vazando
combustível", alertou. Segundo ele, tem veículo remendado com
esparadrapo, com porta que não fecha e alguns deles são empurrados
pelos próprios usuários para finalizar a viagem.
A presidente da Associação dos Moradores do Vale
das Acácias, Helena Eustáquia da Paixão Silva, completou que muitas
viagens são interrompidas porque os ônibus quebram no meio do
caminho, obrigando os usuários a completarem o trajeto a pé.
Outra reclamação é em relação ao desrespeito aos
quadros de horários estipulados. Uma das moradoras disse que já
ficou por 4 horas aguardando um ônibus. Os usuários lamentaram,
sobretudo, sobre os pontos de ônibus situados na Rua Oiapoque, no
Centro de Belo Horizonte, que, segundo eles, não têm abrigo e ficam
superlotados.
Presidentes de sindicatos de trabalhadores no
transporte rodoviário de Belo Horizonte, Ribeirão das Neves e
Contagem lamentaram as condições de trabalho oferecidas pela
empresa. O presidente da Associação dos Trabalhadores em Transporte
Coletivo Urbano de Belo Horizonte e Região Metropolitana
(Asttracurb), Jáderis Araújo de Oliveira, contou que recentemente o
volante saiu na mão de um motorista, colocando em risco todos que
eram transportados no veículo. Disse, também, que os funcionários
chegam a trabalhar entre 12 e 14 horas e não recebem pelas horas
extras. O representante da capital, Júlio Barbosa Neto estranhou que
a BHTrans limite em 10 anos a idade dos ônibus que trafegam em Belo
Horizonte, onde a qualidade do asfalto é muito melhor que na cidade
vizinha.
Denúncias há 20 anos
O deputado Celinho do Sinttrocel lembrou que há
mais de 20 anos os moradores de Neves vêm pedindo melhorias no
serviço da Transimão e que o problema está provocando um clima
negativo entre trabalhadores, usuários e funcionários da empresa que
acabam se colocando uns contra os outros. Alguns moradores ouvidos
na audiência reclamaram de maus tratos de motoristas contra idosos e
descaso com usuários que são deixados para trás nos pontos de
ônibus.
O deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT) lamentou
os desentendimentos entre usuários e motoristas que deveriam estar
do mesmo lado, exigindo a melhoria do serviço. Para ele, o
transporte público é caótico em todo o Estado e sugeriu que o
governo de Minas siga o exemplo de outros países e implante a
política da "tolerância zero" contra as empresas inadequadas. "Temos
que cobrar do DER uma posição, falta fiscalização. Ônibus velho não
pode rodar", provocou. Celinho do Sinttrocel completou que se o
Brasil vai sediar a Copa e a Olimpíada precisa melhorar esse
serviço.
Em defesa da empresa, o diretor Operacional da
Transimão, Custódio Leonardo Bastos, reclamou das más condições das
vias, que têm muitos buracos, o que interfere no desempenho dos
veículos. "Tem lugar que o ônibus nem consegue virar",
justificou.
João Baeta, do DER, disse que fez um levantamento
sobre a empresa e apurou que 28% das denúncias apresentadas em todo
o Estado, no período de 1º de janeiro a 6 de maio, foram contra a
Transimão.
A principal reclamação foi sobre o quadro de
horário. Segundo ele, a frota da empresa conta com 121 ônibus com
idade média de 4,79 anos; 235 com 5,22 anos; 1 de 4 anos e outro
adquirido em 2010. Na comparação com outras concessionárias, os
ônibus mais desgastados são realmente da empresa, mas ressalvou que
em função das péssimas condições das vias que trafega, os veículos
apresentam um desgaste três vezes maior do que aqueles que operam
sobre asfaltos com melhores condições.
O vereador de Ribeirão das Neves, Fábio Caballero
(PV), acusou a prefeitura de responsável pelas más condições das
vias das cidades. Segundo ele, há bairros com ruas ainda sem
pavimentação.
O deputado Celinho do Sinttrocel, que presidiu os
trabalhos da audiência pública, afirmou que na próxima reunião da
comissão serão apresentados e votados requerimentos exigindo
providências dos órgãos responsáveis pelo transporte intermunicipal
de Minas. Ele também sugere a criação de uma comissão de
parlamentares para acompanhar o desdobramento dos compromissos
assumidos pelos presentes e a solução dos problemas.
Presenças - Deputados
Celinho do Sinttrocel (PCdoB), vice-presidente; Alencar da Silveira
Jr. (PDT), Gustavo Valadares (DEM) e Luiz Carlos Miranda
(PDT).
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