Liberação de crédito fundiário é dificultada pela burocracia

A burocracia no processo de liberação de recursos para as famílias de agricultores que participam do Programa Naciona...

19/04/2011 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Liberação de crédito fundiário é dificultada pela burocracia

A burocracia no processo de liberação de recursos para as famílias de agricultores que participam do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), no âmbito do Estado, foi um dos principais problemas apontados por dezenas de trabalhadores rurais durante a reunião da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta terça-feira (19/4/11), para discutir a questão. O PNFC é um programa do Governo Federal de financiamento de imóvel rural e da infraestrutura necessária para a produção no campo.

Na avaliação do subsecretário de agricultura familiar, Edmar Gadelha, embora o PNCF tenha uma grande importância por ser um programa complementar à reforma agrária, existem, no seu desenvolvimento, alguns empecilhos que atrapalham e retardam a liberação dos recursos aos agricultores. Ele citou alguns problemas, como, por exemplo, a grande variação no preço das terras, o que dificulta a fixação do valor do financiamento de cada família, e a precariedade no funcionamento de ações integradas, como o financiamento para a compra de sementes ou para a construção das residências dos trabalhadores.

Além disso, ele criticou a burocracia existente no processo de análise das propostas de financiamento encaminhadas pelos agricultores à Unidade Técnica Estadual (UTE), órgão responsável pela execução do PNFC no Estado. Segundo ele, a proposta tem que passar pela avaliação de diversas instâncias, o que atrasa o processo. "São questões que podem ser simplificadas, para que o programa possa se fortalecer", comenta.

Problemas com a documentação também atrasam o processo

O secretário de Estado de Regularização Fundiária, Manoel Costa, concordou que existe uma demora nas análises e estudos técnicos feitos por órgãos responsáveis, como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF), bem como de instituições bancárias envolvidas, mas afirmou também que, muitas vezes, a lentidão se dá pela envio de documentações incompletas no momento de entrega das propostas, o que impede que elas sejam processadas e concluídas.

Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Vilson Luiz da Silva, há uma falta de interesse público em dar os encaminhamentos às reivindicações dos trabalhadores rurais. Ele mostrou indignação ao exemplificar que, enquanto são gastos milhões em investimentos na área esportiva, em face da Copa do Mundo de 2014, não há dinheiro suficiente para ser aplicado em políticas públicas na área rural. "Quando o governo quer, ele faz as coisas andarem", comenta.

Dados - O secretário de Reordenamento Agrário dos Ministério do Desenvolvimento Agrário, Adhemar Lopes de Almeida, fez uma abordagem sobre atuação do Programa Nacional de Crédito Fundiário no Estado. Segundo ele, o programa, criado em 2003, divide-se em duas linhas de financiamento, sendo elas o combate à pobreza rural (CPR) e a consolidação da agricultura rural (CAF). Ele afirmou que no ano de 2010 foram analisadas 508 propostas, das quais 143 foram aprovadas (28%), e que de um total de 1511 famílias, 223 foram assentadas pelo programa (14,7%). Almeida disse também que, atualmente, o Estado conta com 5.200 famílias cadastradas no programa de crédito, das quais 1.749 já apresentaram propostas de financiamento. Segundo o secretário, ao todo já foram atendidas 2.100 famílias pelo PNCF em âmbito estadual, o que resultou em um investimento de R$ 43 milhões em mais de 30 mil hectares utilizados para assentamento dos agricultores.

Lentidão - Adhemar Lopes de Almeida enfatizou a complexidade do processo de financiamento do PNCF ao abordar a lentidão na tramitação de um proposta. Segundo ele, o prazo médio de espera no Estado, em 2010, era de 21 meses, sendo reduzido este ano para 17 meses.

De acordo com o diretor de Organização Fundiária Rural do Iter, Antônio Carlos Quaresma, é possível criar critérios que deem maior celeridade ao processo, de forma que sejam estabelecidas estratégias e metas mais ousadas do que as adotadas em Minas Gerais, seguindo o exemplo de alguns estados como Piauí e Rio Grande do Sul.

Quaresma apontou ainda algumas sugestões para facilitar o processo de financiamento, como, por exemplo, o aprimoramento no preenchimento das propostas, através da capacitação das instituições da rede de apoio, além da redução de tempo na confecção de laudos do IEF e Emater.

Queixas - Os trabalhadores rurais reclamaram das dificuldades encontradas para que o processo de financiamento seja concluído. O diretor regional da Fetaemg da Zona da Mata, Vanderley Antônio Chilese, afirmou que a demora na tramitação das propostas faz com que, muitas vezes, os documentos apresentados pelos agricultores tenham seus vencimento expirados. Já a diretora do Sindicato de Trabalhadores Rurais do Norte de Minas e Porteirinha, Maria de Lourdes, disse que não entende o porquê de tanta burocracia. "Tem a terra para vender e o interessado em comprar, mas o processo não é concluído" comenta.

Para o deputado Rogério Correia (PT), autor do requerimento que resultou na reunião, o Programa Nacional de Crédito Fundiário é um exemplo, embora tenha seus problemas e precise ser ampliado. Ele defendeu ainda o aumento do corpo técnico no Iter, IEF e Emater e demais órgãos envolvidos, de maneira que o programa possa funcionar de forma mais rápida e eficiente.

Na opinião do deputado Antônio Carlos Arantes (PSC), a melhor forma de reforma agrária é através do crédito. Ele ainda enfatizou a responsabilidade do Legislativo para que os problemas relatados não fiquem apenas no âmbito do discurso.

Requerimentos - Ao fim da reunião, foram aprovados cinco requerimentos dos deputados Rogério Correia, Antônio Carlos Arantes e Fabiano Tolentino (PRTB). Três deles, encaminhados ao secretário de Estado Extraordinário de Regulação Fundiária, solicitam o envio de relatório contendo o andamento das ações do PNCF, a cada 120 dias, à Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da ALMG; a desburocratização dos trâmites relacionados à concessão de crédito fundiário, por meio da transferência da elaboração de laudos do IEF e Emater para a Unidade Técnica do Estado (UTE) do Programa Nacional de Credito Fundiário; a ampliação das equipes técnicas do ITER e UTE que são responsável pelo PNCF.

Outro requerimento aprovado solicita que o corregedor geral de Justiça do Estado esclareça aos cartórios estaduais que o artigo 1° da Lei 14.313, de 2002, que isenta beneficiários de terras ao pagamento de emolumentos, também diz respeito aos assentados beneficiados pelo PNFC. O último requerimento aprovado pede ao secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento a alteração do decreto 41.557, de 2001, que cria o Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável, de modo a fazer com que o subsecretário de agricultura familiar seja o presidente da referida instituição.

Também foram designados os relatores de dois Projetos de Lei que serão analisado pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial. O (PL) 100/11 terá como relator o deputado Fabiano Tolentino (PRTB) e o (PL) 518/11 será relatado pelo deputado Rômulo Viegas (PSDB).

Presenças - Deputados Antônio Carlos Arantes (PSC); Fabiano Tolentino (PRTB); e Rogério Correia (PT). Também estiveram presentes o diretor geral do Iter, Ivonei Abade Brito; o representante do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável, Jorge da Costa Vicente; o gerente regional de governo da Caixa Econômica Federal, Marx Fernandes dos Santos; o representante do Banco do Nordeste, Ananias Pereira de Souza; a representante do Banco do Brasil, Henriette Lilian Gonçalves; e o coordenador técnico Estadual da Emater, Márcio Studoto de Mello.

 

 

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