Representante de empresa de radares confirma assédio de corruptos

O representante de uma das empresas que operam radares de trânsito em Minas, Eliseu Kopp e Cia Ltda, confirmou em aud...

24/03/2011 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Representante de empresa de radares confirma assédio de corruptos

O representante de uma das empresas que operam radares de trânsito em Minas, Eliseu Kopp e Cia Ltda, confirmou em audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, nesta quinta-feira (24/3/11), que é comum o assédio de empresários concorrentes e autoridades corruptas, no País, para criar cartéis e ampliar artificialmente os valores de contratos no setor. Sem apontar nenhum caso específico em Minas, o representante Nelson Momo afirmou que essa prática é comum no setor.

A reunião foi realizada pela Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da ALMG, a requerimento de seu presidente, deputado Délio Malheiros (PV), a fim de investigar eventuais irregularidades na operação de radares de trânsito na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A audiência foi motivada por denúncias de corrupção no Rio Grande do Sul e outros estados, envolvendo direcionamento de licitações, superfaturamento e pagamento de propinas para contratação de radares.

Não foi apontado, durante a reunião, nenhuma suspeita do tipo em Minas, mas o representante da Kopp disse que a empresa já foi assediada por outras empresas para fraudar uma concorrência do Departamento Nacional Infraestrutura de Transportes (Dnit), por meio da formação de cartel. "Fomos assediados. O orçamento inicial era de R$ 1,5 bilhão, mas foi reduzido para R$ 804 milhões graças à nossa e outras empresas que não aceitaram participar de acordos", afirmou Nelson Momo.

Segundo Momo, as pressões às vezes partem de outras empresas, às vezes de agentes públicos que esperam a oferta de "vantagens". Foi o que aconteceu, segundo ele, no Rio Grande do Sul, em caso denunciado pela imprensa. "Disseram que o prefeito ia tentar a reeleição. A matéria não mostrou a resposta do nosso funcionário porque não interessou", relatou o representante da Kopp. O deputado Délio Malheiros disse que um funcionário de empresa denunciada chegou a apontar Minas como "feudo" de empresas sob suspeita.

Elogios - Apesar das revelações, o processo licitatório praticado em Minas Gerais foi elogiado durante a reunião, que não identificou nenhum tipo de fraude. O presidente da ONG SOS Multas Abusivas, José Aparecido Ribeiro, que também é especialista em trânsito, afirmou que o modelo de licitação praticado pela BHTrans, órgão que regula o trânsito na Capital, é utilizado em consultorias fora do Estado, pelo seu alto grau de confiabilidade.

Para alguns deputados, a reunião confirmou a idoneidade da BHTrans e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG). "Nenhuma irregularidade pode ser colocada sobre as costas desses senhores", afirmou Gustavo Valadares (DEM), referindo-se aos representantes dos dois órgãos públicos.

Se as licitações mineiras não foram criticadas, o mesmo não aconteceu com a instalação e operação de alguns radares específicos, consideradas irregulares por deputados e mesmo o promotor público, Cristiano Gomes.

O presidente da comissão, Délio Malheiros, afirmou que não se pretende condenar os radares, mas cobrar que autoridades cumpram a lei. Ele criticou sobretudo a instalação de radares em locais poucos visíveis, atrás de árvores, como já foi identificado pelos deputados nas Avenidas Raja Gabaglia e Barão Homem de Melo, na Capital.

Radar do DER-MG em Sabará multou até R$ 5 mil por pessoa

Um radar instalado pelo DER-MG no quilômetro 6 da MG-262, no bairro Nações Unidas, em Sabará, transformou-se no grande alvo de críticas durante audiência pública realizada nesta quinta-feira. O promotor Cristiano Gomes afirmou que esse radar não cumpre os requisitos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que determinam uma "ampla visibilidade" dos equipamentos.

Esse equipamento também foi muito criticado pelo vereador Ricardo Antunes, de Sabará, e pelo presidente da ONG SOS Multas Abusivas, José Aparecido Ribeiro. "Aquilo ali é pegadinha. É para fabricar dinheiro sim", afirmou Ribeiro.

O dirigente da ONG criticou a velocidade de 40 quilômetros por hora fixada para o trecho, pelo DER, que ele considera muito baixa. O diretor-geral do DER, José Élcio Monteze, disse que o órgão suspendeu temporariamente as multas aplicadas pelo aparelho de Sabará quando surgiram as primeiras queixas. Após um processo administrativo, os resultados foram encaminhados ao Ministério Público que, segundo Monteze, teria se mostrado satisfeito com as informações. Por esse motivo, ele mostrou estranhamento com as críticas do promotor Cristiano Gomes.

Diante das divergências, o deputado Carlos Henrique (PRB) propôs visitas conjuntas de deputados, representantes do Ministério Público e dos órgãos de trânsito aos locais onde existem aparelhos em situação polêmica.

O deputado Paulo Lamac (PT) propôs que as visitas comecem pelo equipamento de Sabará. Gustavo Valadares defendeu o DER: "Se o MP fez perícia no equipamento, o DER também fez. Porque a perícia do MP é mais legítima que a do DER?", questionou.

O deputado Duílio de Castro (PMN) disse que é difícil entender como um estudo que se destina a avaliar os melhores locais para colocação dos radares tenha indicado pontos sem visibilidade, atrás de árvores.

Acidentes - As deputadas Liza Prado (PSB) e Luzia Ferreira (PPS) defenderam a necessidade de instalação dos radares, mas alertaram que é preciso evitar abusos. O deputado Célio Moreira (PSDB) afirmou que a Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas também investigará o assunto. O deputado João Vítor Xavier (PRP) defendeu a BHTrans e o DER-MG, dizendo que não se pode apontar o Estado como feudo de empresas corruptas sem apresentar qualquer prova.

Sobre essa questão, o diretor-presidente da BHTrans, Ramon Victor Cesar, disse que, se existisse uma indústria da multa em Belo Horizonte, ela teria uma receita declinante, já que o valor arrecadado com multas na cidade vem caindo. "Em 2010, essa receita caiu R$ 10 milhões em relação a 2009", afirmou. Após um período de contratos emergenciais, a BHTrans está hoje em uma fase de instalação e aferição de aparelhos instalados em 50 pontos selecionados pelo órgão.

Deputados propõe visitas conjuntas a radares instalados

No fim da reunião, foram aprovados requerimentos, entre os quais o de autoria do deputado Carlos Henrique, solicitando visita conjunta das Comissões de Defesa do Consumidor e de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembleia, juntamente com representantes do Ministério Público, DER e BHTrans, aos locais em que os radares foram instalados, para verificar a adequação dos equipamentos às necessidades locais e à legislação. O deputado João Vítor Xavier, requereu que a Câmara Municipal de Belo Horizonte seja convidada a acompanhar essas visitas.

Outros requerimentos aprovados:

- Dos deputados Délio Malheiros, Liza Prado e Duílio de Castro, solicitando à BHTrans a cópia dos estudos técnicos e dos contratos para a instalação de radares, assinados durante os anos de 2010 e 2011;

- Dos deputados João Vitor Xavier, Paulo Lamac e Luzia Ferreira, que solicita às prefeituras de Sete Lagoas e Uberlândia informações sobre os índices de acidentes de trânsito, bem como sobre as multas aplicadas no ano de 2010, discriminando também o total de vítimas;

- Do deputado Délio Malheiros, solicitando ao DER o envio de cópias dos estudos técnicos de viabilidade e dos contratos assinados para a instalação de radares em Minas Gerais;

- Da deputada Luzia Ferreira, encaminhando ao DER pedido de revisão do limite máximo de velocidade na rodovia que liga Belo Horizonte a Sabará, na altura do quilômetro 6;

- Do deputado Duílio de Castro, solicitando à BHTrans um relatório com o número total de multas aplicadas em 2010, destacando os casos de excesso de velocidade; outro pedindo a realização de Debate Público no Plenário na Assembleia, com o objetivo de debater as possíveis irregularidades na aplicação de multas e na instalação de radares; e mais um requerimento ao presidente da Assembleia para contratação de empresa para fazer estudo técnico independente sobre a instalação dos radares em Belo Horizonte.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente da comissão; Carlos Henrique (PRB), Duílio de Castro (PMN), Sávio Souza Cruz (PMDB), João Vítor Xavier (PRP), Gustavo Valadares (DEM), Célio Moreira (PSDB), Duarte Bechir (PMN), Paulo Lamac (PT), Tiago Ulisses (PV); deputadas Liza Prado (PSB), vice-presidente da comissão; e Luzia Ferreira (PPS). Além dos convidados citados no texto, participaram o diretor de Trânsito do município de Nova Lima, Alexandre Altair; e o diretor de Transporte e Trânsito da Transbetim, Artur de Abreu.

 

 

 

 

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