Bandeira do Sul: deputados cobram providências sobre
tragédia
Providências do Governo do Estado e da Cemig em
relação à tragédia ocorrida em Bandeira do Sul (Sul de Minas), foram
exigidas na audiência pública da Comissão de Assuntos Municipais e
Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Os parlamentares da comissão presentes à reunião,
nesta sexta-feira (18/3/11), aprovaram requerimentos solicitando
ações urgentes de órgãos dos governos estadual e federal. Convidada
para participar da reunião, a Cemig não enviou representantes, mas
um ofício informando que, antes da conclusão da perícia, a empresa
não vai se pronunciar.
Todas os requerimentos aprovados, de autoria dos
deputados Pompílio Canavez (PT), vice-presidente da comissão, e
Carlin Moura (PCdoB) e da deputada Lisa Prado (PSB), pretendem
buscar soluções e evitar que novos acidentes como o de 27 de
fevereiro voltem a ocorrer. Nessa data, 16 jovens morreram
eletrocutados e outras 50 pessoas ficaram feridas em função do
acidente na rede elétrica de Bandeira do Sul. Também esteve presente
à reunião o deputado Carlos Mosconi (PSDB).
Os requerimentos solicitam que seja enviado ofício
ao Ministério Público Estadual, dando ciência de relatório da Cemig
entregue à comissão pelo representante do Sindicato dos
Eletricitários do Estado (Sindieletro), Leonardo Timóteo. O
relatório informa que, no momento do acidente, havia equipamentos de
segurança indisponíveis na rede, o que teria atrasado o desligamento
da rede em 20 segundos, provocando as mortes. No requerimento, os
parlamentares pedem a instalação de procedimentos investigatório e
judicial cabíveis.
Outro requerimento faz apelo ao governador Antonio
Anastasia para que envie um projeto de lei à ALMG propondo
indenização pecuniária às famílias das vítimas do acidente. Outro
apelo ao governador, e também ao presidente da Cemig, Djalma Morais,
é para que seja trocada imediatamente a rede elétrica em Bandeira do
Sul. Os parlamentares solicitam também que seja reaberto o
escritório da Cemig em Bandeira do Sul e que sejam trocadas as
equipes de manutenção da empresa, substituindo a mão-de-obra
terceirizada por outra concursada e qualificada.
Dois laudos técnicos sobre o acidente foram
requeridos. Um deverá ser elaborado por instituição de ensino
superior, localizada fora de Minas Gerais (para garantir maior
isenção). E o último laudo pericial deve ser elaborado pela Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), definindo as reais condições
da rede elétrica do município.
Sindieletro defende manutenção preventiva
O coordenador do Sindieletro, Jairo Nogueira Filho,
disse que "o acidente em Bandeira do Sul, o maior desastre do
sistema elétrico brasileiro, foi uma 'tragédia anunciada'". Ele
disse que não teria coragem de trabalhar em Bandeira do Sul, devido
às péssimas condições rede elétrica. "Se uma rede cai por causa de
uma serpentina, é porque a situação realmente está vergonhosa",
reforçou. Para mudar esse quadro, Jairo defendeu a manutenção
preventiva da rede e a troca de equipamentos antigos por outros mais
modernos. E destacou que, para concretizar essa última medida,
bastaria um investimento de apenas R$ 600 mil.
Na opinião do sindicalista, a Cemig tem virado as
costas para a população do Estado, preocupando-se apenas com os
dividendos de seus acionistas. "De 2003 para cá, foram distribuídos
R$ 7,5 bilhões aos acionistas. Se fosse uma audiência convocada por
eles, teríamos vários representantes da Cemig aqui hoje; mas como é
a população de Bandeira e de Minas, não tem ninguém da empresa",
lamentou.
Na avaliação de Jairo Nogueira, desde 1997, o setor
elétrico mineiro vem sendo sucateado. Ele apresentou dados para
comprovar sua tese. Em 2011, já morreram quatro trabalhadores na
empresa. Os acidentes envolvendo a rede da Cemig causam uma média de
35 mortes por ano. Ainda de acordo com ele, por mês, são registradas
3.400 ocorrências de fios partidos no Estado. Isso sem falar na
terceirização dos serviços: se antes um funcionário efetivo era
preparado por vários meses para o trabalho, atualmente, segundo
Jairo, o treinamento aos terceirizados é de apenas 15 dias.
Jairo Nogueira comentou ainda que o Sindieletro tem
pedido constantemente reuniões com a diretoria da Cemig e com o
Governo, mas nunca os representantes do sindicato são recebidos.
"Temos propostas e soluções para esses problemas. Só que a Cemig tem
que mudar seu foco, prestando bons serviços à população do Estado, e
não aos acionistas", concluiu.
O vice-prefeito de Bandeira do Sul, João Batista
Fonseca, questionou a versão divulgada pela imprensa de que a
tragédia teria sido causada pela serpentina metálica. Na avaliação
dele, algumas perguntas não foram respondidas. "Por que o cabo
arrebentou?, questionou, argumentando que testes feitos em várias
universidades mostraram que serpentina, arame ou outros materiais em
contato com a rede, se derretem, mas não arrebentam a fiação. "Não
podemos conceber, então, que a serpentina tenha derrubado três fios
de alta tensão!" concluiu.
A tese do vice-prefeito foi corroborada pelo
diretor-geral do Instituto de Pesos e Medidas de Minas Gerais
(Ipem-MG), Tadeu José de Mendonça. Ele afirmou que, em pesquisas
feitas em várias regiões do mundo, entre elas, Estados Unidos e
Europa, não foi encontrado nenhum registro de que a serpentina tenha
provocado acidente como o verificado em Bandeira do Sul.
Deputados se solidarizam com famílias
Todos os parlamentares presentes e demais
autoridades lamentaram a tragédia e se solidarizaram com as famílias
das vítimas. Logo no início da reunião, foi feito um minuto de
silêncio em memória dos mortos em Bandeira do Sul. O deputado
Pompílio Canavez também lamentou a ausência da Cemig na reunião. "A
população queria a Cemig aqui para dar sua versão, uma explicação
técnico sobre o acontecido".
Pompílio, que visitou a cidade na semana passada,
disse que as pessoas estão com a sensação de constante ameaça de
morte, com medo até de tomar banho. Ele registrou também que, no dia
da visita, viu um cabo elétrico se soltando da rede e pegando
fogo.
Citando frase na camisa de representantes do
Sindieletro, o deputado Carlin Moura destacou que era preciso "fazer
o luto pelos mortos, mas sem esquecer da luta pelos vivos". Para
ele, a culpa pela tragédia não foi da serpentina, e sim da
negligência. "Há negligência explícita quando se tem uma rede
elétrica de padrão rural, de 40 anos, atendendo a uma cidade. E não
é qualquer empresa. E a Cemig, uma das maiores do mundo",
indignou-se. Para Carlin, a empresa, em nome de redução de custos,
terceiriza sua mão-de-obra, fecha postos de atendimento e reduz a
quantidade de manutenções preventivas.
A deputada Liza Prado disse também ter achado
absurda a versão de que o acidente teria sido causado pela
serpentina. "Mas, como sou leiga no assunto, apresentei requerimento
para que fosse retirado esse produto do mercado", declarou. Depois
de ver a rede elétrica local, ela disse ter estranhado as várias
emendas na fiação e a própria espessura dos fios. "Será que isso é
normal?", questionou.
Cautela - O deputado
Carlos Mosconi disse que era como se o acidente tivesse ocorrido com
pessoa da sua própria casa. Ele registrou o esforço do sistema de
saúde da cidade vizinha de Poços de Caldas para atender os feridos.
"Ocorreram três paradas cardíacas e felizmente, todos foram
ressuscitados", afirmou. Na visão de Mosconi, o assunto é de extrema
gravidade e precisa ser analisado com cuidado. "A questão vai muito
além da culpa; a dimensão aqui é a da dor, que vai persistir pelo
resto da vida", declarou ele, acrescentando que, assim que a perícia
for concluída, vai cobrar soluções de quem for de direito.
Também se solidarizaram com os familiares dos
mortos o deputado federal Geraldo Tadeu (PPS-MG), o prefeito de
Poços de Caldas, Paulo Cesar Silva; o gerente de Fiscalização da
Regional Sul - Crea-MG, Victor Torres Brito; a vice-presidente da
Câmara Municipal de Bandeira do Sul, Elis Regina Cândido de Melo; e
a secretária de Governo de Botelhos, Jaqueline Alexandre.
Mães de alguns jovens mortos no acidente também
falaram na audiência, entre elas, Condina Lourdes Costa e Cleuza
Garcia. Emocionadas, lamentaram a tragédia que lhes arrancou seus
filhos. Também com parentes mortos, Alaíde Ramos e Aparecido
Teixeira, exigiram providências para resolver os problemas da rede
elétrica local.
Presenças - Deputados
Pompílio Canavez (PT), vice-presidente; Carlin Moura (PCdoB) e
Carlos Mosconi (PSDB), e deputada Liza Prado (PSB).
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