Apesar de avanços, mulher enfrenta desafios na participação política

Nos últimos cem anos, as mulheres brasileiras conquistaram o mercado de trabalho, o direito ao voto e chegaram à univ...

15/03/2011 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Apesar de avanços, mulher enfrenta desafios na participação política

Nos últimos cem anos, as mulheres brasileiras conquistaram o mercado de trabalho, o direito ao voto e chegaram à universidade. Pela primeira vez na história, o cargo mais importante do País é ocupado por uma mulher: Dilma Roussef, eleita presidente da República em 2010. Apesar desses avanços, ainda há muitos desafios para assegurar a igualdade de gênero. Essas conquistas e dificuldades foram debatidas nesta terça-feira (15/3/11) a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, durante Reunião Especial de Plenário que marcou a comemoração do Dia Internacional da Mulher.

A secretária de Estado da Casa Civil e de Relações Institucionais, Maria Coeli Simões Pires, citou números que evidenciam a desigualdade de gênero quando se trata do exercício do poder político. Embora somem 51,7% do eleitorado brasileiro, as mulheres representam apenas 10% do número de parlamentares do Congresso Nacional. Na Argentina, esse índice de participação é de 39%, e na Costa Rica, de 38%, segundo a secretária.

Na ALMG, as cinco deputadas representam 5,2% do conjunto de parlamentares. No Congresso Nacional, a representação de Minas Gerais se resume a uma única deputada federal: Jô Moraes (PCdoB). As 51 prefeitas eleitas no Estado representam 6% do total de chefes de Executivos municipais, abaixo do índice nacional, de 9,1%. Minas também fica abaixo da média nacional de representação feminina nas câmaras municipais. Apenas 10,5% dos vereadores mineiros são do sexo feminino, abaixo da média brasileira de 12%. "Em Minas Gerais, a política tem débito maior com a mulher", comentou Maria Coeli.

Segundo a pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem-UFMG), Marlise Matos, o índice brasileiro de participação de mulheres na política é semelhante ao dos países árabes, onde apenas 8,4% dos integrantes das câmaras altas dos Parlamentos são do sexo feminino. Na América Latina, o País perde apenas para o Panamá, onde 8,5% dos assentos da Câmara dos Deputados são ocupados por mulheres. Os maiores índices de participação feminina na política, de acordo com o levantamento feito pelo Nepem, são encontrados nos países escandinavos, que registram índices da ordem de 41%.

Os obstáculos para a maior representação feminina na política são vários, na opinião de Marlise Matos. Uma dificuldade apontada pela pesquisadora é cultural: as mulheres são educadas para cuidar, e os homens, para prover. "Nossa sociedade é estruturada em função dessa relação de poder. Muitas mulheres não têm tempo disponível para fazer uma campanha política porque precisam cuidar da família e dos filhos", explicou.

Uma evidência desse problema é o fato de que a maioria das mulheres que ocupam cargos eletivos têm mais de 40 anos, e portanto, já criaram seus filhos. "Não adianta fazermos uma reforma política se não mexermos na divisão sexual do trabalho", comentou a pesquisadora. Uma alternativa apontada por ela é a adoção de políticas públicas que estimulem a divisão do trabalho doméstico entre homens e mulheres, como já fizeram os países nórdicos.

Outro problema, na opinião de Marlise Matos, está no sistema político-partidário. Ela citou pesquisa realizada pelo Nepem com 112 candidatos e líderes políticos em 2007 que identificou que, para muitos presidentes de partidos, as candidaturas femininas são inviáveis. "Muitos disseram que as mulheres não têm ambição política, o que não é verdade", afirmou a pesquisadora. Para reverter essa situação, ela defende a sensibilização e preparação das mulheres para exercer suas candidaturas com protagonismo.

A deputada Rosângela Reis (PV) acrescentou outro obstáculo: a falta de recursos para financiar as campanhas eleitorais das mulheres. "Boa parte das candidatas entram nas campanhas por pura formalidade, para preencherem a cota do partido (que é de 30%). Sem dinheiro e sem autoestima, essas mulheres são meras coadjuvantes da cena política brasileira", afirmou. Para solucionar esse problema, ela propõe a adoção do financiamento público de campanha, de modo a igualar as condições de disputa entre os candidatos.

Dificuldades no mercado de trabalho

As disparidades não se resumem à esfera da representação política. As mulheres também enfrentam situações de inferioridade no mercado de trabalho, segundo a presidente do Conselho Estadual da Mulher, Carmem Rocha Dias. Ela citou dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) 2010 que apontam a desigualdade na remuneração. Em Minas Gerais, os salários iniciais pagos aos homens são em média de R$ 784,00, contra R$ 653,00 pagos a mulheres que desempenham funções semelhantes.

"As mulheres ainda se sujeitam a salários menores porque têm que conciliar a jornada de trabalho com os afazeres domésticos. Elas acabam optando pela jornada de trabalho parcial, o que reduz o seu poder de barganha no mercado de trabalho", explicou a conselheira. Ainda de acordo com Carmem Rocha Dias, a necessidade de cuidar dos filhos levou ao surgimento de uma cultura empresarial que prioriza o homem em detrimento da mulher no Brasil.

A deputada Luzia Ferreira (PPS) acrescentou que a média de tempo gasto pelas mulheres nos afazeres domésticos é de 22 horas por semana, contra 9,5 horas semanais gastas pelos homens. "Apesar de constituírem quase metade da população economicamente ativa, as mulheres continuam a arcar com os cuidados familiares, que não são valorizados pela sociedade e acabam se tornando um trabalho invisível", comentou.

Violência, educação e saúde também são desafios

A deputada Ana Maria Resende (PSDB) abordou em seu discurso a violência contra a mulher. Para a parlamentar, a cultura patriarcal brasileira contribui para que as mulheres sejam vítimas da violência doméstica, independente de raça, classe social, idade, religião ou nível cultural. "Muitos homens se acham no direito de descarregar em suas companheiras a raiva, a tensão, a frustração ou seus traumas", afirmou. Para mudar essa situação, ela conclamou todas as mulheres a denunciarem as situações de agressão por parte de maridos ou companheiros.

Para a deputada Maria Tereza Lara (PT), as mulheres alcançaram inegável progresso na área da educação. Se nos anos 50 elas eram educadas apenas para ler receitas e orações, hoje elas são maioria em diversas carreiras profissionais de nível superior, como o magistério, lembrou a parlamentar. Ela destacou o compromisso assumido pela presidente Dilma Roussef de melhorar a qualidade da educação e de erradicar a pobreza extrema. "Essa política de eliminação da miséria deve estar focada nas mulheres", comentou.

A deputada Liza Prado (PSB) lembrou a dificuldade de acesso das mulheres aos serviços públicos de saúde. "Vivemos mais que os homens, mas também adoecemos com mais frequência", afirmou. Ela destacou que é preciso mobilizar as mulheres para que elas compareçam com mais frequência aos postos de saúde para realizar exames de prevenção do câncer. Outra demanda citada pela parlamentar é o atendimento especializado para vítimas de violência sexual.

Para o 1o-vice-presidente da ALMG, deputado José Henrique (PMDB), há muita resistência à participação das mulheres na política, mas a eleição da presidente Dilma Roussef aponta novos rumos para a afirmação feminina. "A ação das mulheres fará do Brasil um país mais ético, mais solidário e mais integrado", comentou.

 

 

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