Lars Grael recomenda integração entre esporte e políticas
públicas
Apesar da progressiva valorização do esporte no
Brasil, falta ao País a clareza sobre o financiamento do segmento e
a definição do papel de cada setor: poder público, empresarial e
clubes. Com esta avaliação, o medalhista olímpico Lars Grael e
membro da Comissão Nacional de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro
participou, nesta quinta-feira (24/2/11), do Fórum Democrático para
o Desenvolvimento de Minas Gerais, realizado pela Assembleia
Legislativa de Minas Gerais. Esporte e Juventude é o último dos dez
temas do fórum, debatidos desde o dia 15.
Além dele participaram como palestrantes o
representante do Conselho Nacional de Juventude, Josbertini Virgínio
Clementino; o diretor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e
Terapia Ocupacional da UFMG, Emerson Silami; e gerente de Lazer e
Esportes da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais,
Antônio Muzzi. Na mesa presidida pelo deputado Marques Abreu, eleito
nesta data para presidir a Comissão de Esportes da Assembleia, o
secretário de Estado de Esportes e da Juventude, Braulio Braz,
discorreu sobre os programas desenvolvidos em Minas pela SEEJ.
Reconhecendo que o esporte ganhou nova dimensão no
País, ao longo das ultimas décadas, Lars Grael salientou, que o
Brasil precisa investir mais no esporte de base. "Hoje vemos muito
investimento no esporte de rendimento, mas é preciso preparar a
base, com o esporte nas escolas, para a formação de atletas do
futuro". Lembrando que a vocação do País é abrir-se para o mundo, na
forma do turismo, Grael afirmou que a realização de eventos
esportivos é o principal caminho.
Ao apresentar suas sugestões, Lars Grael disse que
deve haver integração das políticas públicas em todas as esferas de
governo, com as demais políticas de inclusão social. "É preciso que
o esporte esteja lado a lado com as políticas de saúde, ambientais,
educacionais e de turismo", afirmou. E recomendou também que a
integração se estenda às ações da iniciativa privada. Para ele, a
parceria é fundamental na valorização do esporte, apontando o
exemplo dado pelo secretário Braulio Braz, na parceria com a Cemig,
no programa "Campos de Luz", que leva iluminação a campos
comunitários, para a realização de atividades noturnas.
Por sua vez, o secretário de Esportes descreveu
todos os programas desenvolvidos pelo governo mineiro, entre eles:
os Jogos do Interior de Minas (Jimi), o Minas Olímpica Nova Geração,
Saúde na Praça; o Segundo Tempo, entre outros, quase sempre em
parceria com os municípios e a União. Ex-jogador do Clube Atlético
Mineiro, o deputado Marques Abreu disse que a inclusão do tema
"Esporte e Juventude" no fórum é significativo, diante do contexto
de preparação para eventos esportivos de grande repercussão que irão
acontecer no Brasil nos próximos anos, como a Copa do Mundo, em 2014
e as Olimpíadas de 2016.
Juventude deve ser priorizada no desenvolvimento
do Estado
"A juventude deve ser priorizada no desenvolvimento
do Estado", disse Josbertini Virgínio Clementino, do Conselho
Nacional da Juventude, respondendo à pergunta sobre o que deverá
constar na agenda da Assembleia nos próximos anos. Para ele, falar
sobre o tema juventude já se reveste de uma dificuldade inicial por
se tratar de um tema novo, que acaba se tornando invisível frente a
outros considerados mais prioritários.
No Brasil, segundo Josbertini, somente em 2005, com
a sanção da Lei 11.129, o Governo Federal passou a dar importância a
esse segmento, definindo inclusive a faixa etária incluída na
definição do jovem: 15 a 24 anos. Não por acaso, também em 2005, foi
criada a Secretaria Nacional da Juventude, vinculada à Presidência
da República, com a consequente instalação do Conselho Nacional da
Juventude.
Já em 2008, por iniciativa da Presidência, foi
realizada a I Conferência Nacional de Políticas Públicas para a
Juventude, embrião para a aprovação, em 2010, da Proposta de Emenda
à Constituição 42/08, a chamada PEC da Juventude. A proposta insere
o termo juventude no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais
da Constituição Federal, elevando as políticas para a juventude a
políticas de Estado.
A relevância que o tema ganhou hoje no País, de
acordo com Josbertini Clementino, deve-se a vários fatores, entre
eles, a importância populacional do segmento. "Nunca tivemos e nunca
mais teremos tantos jovens na população brasileira como agora",
afirmou. Além disso, a ausência histórica do Estado em assistir essa
população contribuiu para a precariedade da condição juvenil,
segundo ele. E por último, para construir o desenvolvimento é
preciso preparar essa geração de jovens que, em breve, assumirá os
destinos do País.
Apesar da importância que essa faixa etária assume
no Brasil, o quadro atual das condições dos jovens não é animador.
Segundo o IBGE, 40% vivem em famílias sem rendimento ou até com meio
salário mínimo; a cada dois desempregados, um é jovem, sendo que
somente 35% têm carteira assinada; o desemprego atinge mais
intensamente jovens negros e mulheres; dois terços da população
carcerária do País é de jovens. Para completar, de cada 10 jovens
brasileiros, sete acreditam que vão ter piores condições de viver e
trabalhar que seus pais.
Na avaliação de conselheiro nacional da Juventude,
Josbertini Clementino, os próximos passos para que os jovens
consigam ampliar políticas públicas em seu favor seriam a aprovação
do Plano Nacional de Juventude e do Estatuto da Juventude, que já
tramitam na Câmara dos Deputados. Em Minas Gerais, continua
Josbertini, os desafios maiores são aprovar a PEC e o Plano Estadual
e ainda o Estatuto da Juventude, em sua versão estadual
Professor destaca poder transformador do
esporte
A importância do esporte como instrumento de
promoção da saúde e de inclusão social de jovens carentes foi o tema
da palestra do diretor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e
Terapia Ocupacional da UFMG, Emerson Silami.
Para ilustrar o poder transformador do esporte, ele
citou o projeto Kicking for Peace, desenvolvido pelo mineiro
José Flávio Andrade Cabral, na África do Sul. Por meio desse
projeto, crianças carentes têm acesso às praças de esporte da
Universidade da Cidade do Cabo. A iniciativa, que atende centenas de
crianças, foi premiada pela Organização das Nações Unidas, que a
escolheu entre 400 projetos de 100 países.
Silami se disse otimista com o andamento de
diversas ações e projetos voltados para o desenvolvimento do esporte
em Minas Gerais.
Para fomentar o esporte olímpico, a UFMG inaugura
em abril uma moderna pista de atletismo, construída num terreno nas
proximidades do Mineirão. "Não vamos resolver todos os problemas do
esporte de uma só vez. Precisamos ter paciência para resolvê-los
pouco a pouco. Mas acredito que as coisas estão sendo feitas. Todos
nós temos que arregaçar as mangas e trabalhar", afirmou.
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