Para assistentes sociais, desafio do Suas é chegar até os mais pobres

Prestes a completar seis anos, o Sistema Único de Assistência Social (Suas) já conseguiu ótimos índices de desempenho...

23/02/2011 - 00:03
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Para assistentes sociais, desafio do Suas é chegar até os mais pobres

Prestes a completar seis anos, o Sistema Único de Assistência Social (Suas) já conseguiu ótimos índices de desempenho, mas precisa incluir a população mais pobre em seu atendimento. A avaliação é da diretora do Departamento de Gestão do Suas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Simone Albuquerque. Ela foi uma das palestrantes desta quarta-feira (23/2/11) do painel sobre assistência social do Fórum Democrático para o Desenvolvimento de Minas Gerais. O evento, que termina nesta quinta-feira (24), vem sendo realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais desde o dia 15.

Apesar de reconhecer os avanços do sistema, Simone Albuquerque disse que ainda há grandes desafios a serem superados. Ela citou como exemplos o acolhimento da população mais pobre e a proteção às crianças expostas a risco por causa da pobreza. Outro desafio é a necessidade de discutir a proteção às famílias diante da disseminação do uso de drogas, proteção que deve ter foco na inclusão produtiva e social, de acordo com a representante do MDS.

Para tanto, o Suas precisa aprimorar sua gestão, qualificar profissionais e discutir o financiamento dos serviços oferecidos, na avaliação de Simone Albuquerque. Além disso, para a representante do MDS, o sistema precisa trabalhar pela democratização dos conselhos sociais; implantar um sistema de vigilância, para acompanhamento da oferta de serviços; vincular as entidades assistenciais ao Suas; e melhorar os Centros de Referência de Assistência Social (Cras).

A diretora do MDS afirmou que não há como se falar em assistência social sem falar de Minas Gerais, Estado referência na área, em sua opinião. Ela disse que o Suas já é uma realidade no Estado, oferecendo proteção à família, aos idosos, às crianças e aos adolescentes. Ela citou a presença de mais de mil Cras em todos os municípios mineiros, com oferta de vários serviços básicos de assistência.

Simone Albuquerque disse que a ALMG pode ajudar no debate debruçando-se sobre a legislação específica do Suas, principalmente em relação aos fundos de assistência, e trabalhar pela implantação de concursos públicos. Para ela, o Parlamento estadual também deve incluir o Tribunal de Contas na discussão sobre a política de assistência social, com o objetivo de garantir aos gestores municipais a tranquilidade no uso dos recursos dessa área.

Sistema de Assistência Social precisa ser aperfeiçoado

A gerente de Informação, Monitoramento e Avaliação da Secretaria Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte, Carla Andréa Ribeiro, fez um diagnóstico do Suas no âmbito estadual, apontando ainda os desafios a serem enfrentados pelos gestores.

Ela definiu cinco agendas, que incluem ações a serem trabalhadas pelo Estado e pelos municípios: ampliação do grau de institucionalização do Suas; melhoria das condições e relações de trabalho; aperfeiçoamento dos mecanismos de financiamento; aprimoramento do modelo assistencial; e melhoria do controle social do Suas, por meio da gestão compartilhada.

No que diz respeito à institucionalização do Suas, Carla Ribeiro apresentou dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), realizada pelo IBGE, mostrando que em 2005, menos de 50% dos municípios mineiros tinham um órgão gestor exclusivo para o sistema. Em 2008, entre 50% e 80% dos municípios já tinham esse órgão, de acordo com a Munic.

A gerente informou também que 97% dos municípios do Brasil já possuem o Fundo Municipal de Assistência Social, outro instrumento importante para a efetivação do Suas. Ela lamentou que ainda não foi aprovado pelo Congresso o Projeto de Lei 3.077/08, que regulamenta o sistema, e que em muitas cidades de Minas também não foi aprovada lei municipal sobre o tema.

Sobre a questão trabalhista, Carla Ribeiro, novamente fazendo referência à Munic, disse que apenas 37% dos trabalhadores do Suas têm vínculo trabalhista estatutário, ou seja, são servidores públicos concursados. Para ela, a fragilidade da maioria dos vínculos trabalhistas piora a qualidade dos serviços prestados. Por isso, Carla defende que se reduza a precarização do trabalho no Suas e que o custeio do sistema preveja a remuneração de seus funcionários. Outras medidas seriam definir os profissionais que compõem as equipes de trabalho e ainda a capacitação desses profissionais.

Cofinanciamento - Segundo Carla Ribeiro, até dezembro de 2010, Minas era o Estado do Sudeste com a menor participação no cofinanciamento do Suas nos municípios: só 21% das cidades mineiras recebiam verbas do Estado para essa finalidade. Ela explicou que atualmente o Piso Mineiro de Assistência Social está em R$ 1,80 por cada família cadastrada, sendo que 100 municípios já recebem esses valores.

A meta, segunda ela, é que até 2015, todos os 853 municípios mineiros sejam contemplados pelo piso, que será reajustado para R$ 2,20 por família. Com 1.907.544 famílias cadastradas atualmente, o gasto mensal é de R$ 3,433 milhões. Com o reajuste para R$ 2,20, em 2015 o gasto mensal chegaria a R$ 4,196 milhões. Dessa forma, conclui Carla, o desafio é reservar um percentual do Orçamento do Estado para a assistência social.

Quanto ao modelo assistencial do Suas, a gerente da PBH diagnostica o sistema como "muito complexo operacionalmente no atendimento às famílias". Parte do problema se deve, na visão dela, a várias lacunas de conhecimento e de marco regulatório no modelo do Suas. Ela acredita que a solução estaria no fomento e na organização da base de conhecimentos para produzir soluções metodológicas quanto à oferta do Suas, envolvendo as instituições de ensino no problema.

Democratização - Finalmente, na agenda que trata do controle social do Suas, Carla Ribeiro propõe a democratização do processo decisório e a disseminação de informações sobre o sistema; e ainda o fortalecimento das forças políticas envolvidas no seu processo de institucionalização. Ela ressalta entre essas forças os trabalhadores do Suas, usuários, entidades, gestores e as câmaras municipais.

Conselheiro reconhece avanço, mas admite desafios

O presidente do Conselho Estadual de Assistência Social (Ceas), Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho, reconheceu que houve significativo avanço nos investimentos em assistência social em Minas Gerais. Segundo ele, o orçamento do Ceas subiu de R$ 18 milhões, em 2006, para R$ 40 milhões, previstos para este ano.

Ainda assim, admitiu que existem ainda muitos desafios a serem vencidos. Como exemplo, citou a necessidade de concurso público e de valorização dos trabalhadores do setor, de capacitação da rede socioassistencial dos municípios e de vinculação de receitas dos orçamentos estadual e municipais para a política pública de assistência social. "Quando os municípios estão em dificuldades financeiras, a primeira coisa que cortam são os recursos para assistência social", lamentou.

Para Geraldo Oliveira, os deputados estaduais podem colaborar para a melhoria do setor priorizando algumas ações: a realização de audiências públicas descentralizadas; a divulgação, em suas bases políticas, da importância da assistência social; e gestões junto ao Executivo para assegurar a vinculação das receitas do tesouro estadual, entre outras.

Assembleia parceira do Estado

Na abertura do painel, a subsecretária de Estado de Assistência Social, Maria Albanita Roberta de Lima, afirmou que a ALMG deve continuar atuando como parceira do Estado, não só na interlocução com os movimentos sociais, mas principalmente na mobilização de prefeituras e câmaras municipais. Ela disse que a assistência social ainda tem desafios estruturais a serem superados, como a mudança de cultura entre os legisladores municipais. Para ela, é preciso superar a visão de assistência social como assistencialismo, principalmente com a definição de recursos para a área nos orçamentos municipais.

Dirigindo os trabalhos desse painel, o deputado André Quintão (PT) destacou a atuação da ALMG na área. Ele lembrou a importância do Poder Legislativo nas discussões do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), que resultou na criação dos projetos estruturadores "Inclusão de Famílias Vulnerabilizadas" e "Implantação do Suas", dentro da área de resultados "Redução da Pobreza e Inclusão Produtiva". Ele citou ainda a legalização do Suas em Minas, com a sanção, em janeiro deste ano, da Lei 19.444, resultante de projeto de sua autoria.

Maus tratos a idosos e falta de acessibilidade para portadores de deficiência

Denúncias sobre maus tratos e violação dos direitos dos idosos em instituições de longa permanência; problemas de acessibilidade para portadores de deficiência em espaços e órgãos públicos; dificuldades no atendimento à população de rua e aos usuários de crack; carência de verbas para aplicação nas políticas públicas de assistência social e necessidade de abertura urgente de concursos públicos para a área. Essas foram algumas das preocupações manifestadas durante a fase de debates do painel sobre assistência social do Fórum Democrático para o Desenvolvimento de Minas Gerais, nesta quarta-feira (23).

Militante da causa dos cadeirantes, Liliane Arouca listou uma série de espaços públicos, como a Praça Sete, a Rodoviária e a Praça da Estação, onde o cadeirante não dispõe de banheiro próprio em tempo integral. Segundo afirmou, esses locais só oferecem condições de acessibilidade no horário comercial. Ela denunciou também que alguns órgãos públicos da Capital não favorecem o acesso e a mobilidade dos portadores de deficiência. É o caso, por exemplo, da Delegacia da Mulher, na Avenida Barbacena, onde, segundo disse, o elevador não funciona há mais de um ano. Ela também chamou a atenção para o passeio público da Promotoria de Justiça, que não oferece condições de acessibilidade aos cadeirantes. E pediu providências para todos os casos.

Outra debatedora, Maria Mercedes focou suas críticas nas instituições de atendimento aos idosos, denunciando que algumas submetem os idosos "à situação próxima à de privação da liberdade". Segundo ela, vários artigos do Estatuto do Idoso têm sido frequentemente violados nessas instituições.

Propostas - Alguns participantes defenderam também a realização de campanha de conscientização da população sobre o papel e as atribuições dos CRAS e dos Centros de Referência Especial de Assistência Social (Creas). Também foi reivindicada a capacitação dos trabalhadores dos postos de saúde para o atendimento de casos particulares, como o de vítimas de estupro, além do desenvolvimento de parcerias entre órgãos públicos para o atendimento de pacientes portadores da doença falciforme, causada por uma modificação no DNA do sangue. Outras propostas apresentadas foram a criação de um fundo de amparo aos cônjuges de portadores de deficiência, e a presença mais efetiva de profissionais de assistência social nas escolas públicas do Estado.

Um dos inscritos nos debates, o assistente social Leonardo Davi Reis aproveitou o espaço para convocar os colegas presentes a participarem das eleições para o Conselho Regional de Serviço Social, nos dias 23, 24 e 25 de março, e para o Conselho Federal da categoria.

Assistente social por formação, o deputado André Quintão lembrou também que no início da legislatura encaminhou ao presidente da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), um requerimento reivindicando a realização de um Fórum Técnico sobre a Superação da Pobreza em Minas Gerais. Segundo ele, a proposta é bastante oportuna no momento em que o Governo Federal se empenha no combate à pobreza em todo o País.

 

 

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