Desigualdade não é causa da violência, para ex-capitão do Bope

Quais são as causas da violência urbana? Foi sobre esta questão que se debruçou o ex-capitão do Batalhão de Operações...

17/02/2011 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Desigualdade não é causa da violência, para ex-capitão do Bope

Quais são as causas da violência urbana? Foi sobre esta questão que se debruçou o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (Bope), Rodrigo Pimentel, em sua palestra acerca do tema "Defesa Social", no Fórum Democrático para o Desenvolvimento de Minas Gerais, nesta quinta-feira (17/2/11), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Pimentel, autor do livro Elite da Tropa, que inspirou o filme Tropa de Elite, defendeu que a criminalidade não está relacionada diretamente à miséria, mas à ineficiência da polícia. "Se a lógica da desigualdade social fosse a única que produzisse violência, a Zona Sul do Rio de Janeiro seria a região mais violenta da cidade, e não é", argumentou.

Outro exemplo que corrobora essa tese vem do Piauí. Segundo Rodrigo Pimentel, o estado é o que apresentou a redução mais expressiva da miséria nos últimos anos, mas é também aquele que registra o maior aumento nos índices de criminalidade. "Esta é a prova de que não existe relação entre desigualdade social, pobreza e aumento da violência", afirmou.

Pimentel sustenta que, muitas vezes, o que leva os jovens que vivem em favelas para o crime não é a miséria em si, mas uma inversão de valores, em que fala mais alto o desejo de possuir bens materiais e status. "Quando são perguntados por que entraram para essa vida, esses jovens respondem que queriam ter um iPod, um tênis Nike. Ninguém responde que estava passando fome", explicou.

Para mudar essa realidade, Pimentel defende medidas simples e locais. Ele citou o exemplo de Nova Iguaçu (RJ), onde o número de homicídios foi reduzido em 12% após a criação de um programa de alfabetização de presos em uma cadeia. De acordo com Pimentel, a iniciativa, que acabou com as fugas e motins de presos na unidade, teve custo baixíssimo, uma vez que a prefeitura doou livros e cedeu professores.

Outra iniciativa bem-sucedida é o projeto Lona Cultural, que leva a comunidades carentes da periferia do Rio de Janeiro shows de ídolos da MPB com ingressos vendidos por preço simbólico. A simples iluminação e a maior circulação de pessoas em locais ermos leva à redução das ocorrências policiais nessas comunidades, segundo Rodrigo Pimentel.

Outro exemplo positivo vem de São Paulo, onde, de acordo com o especialista, as prefeituras se engajaram em políticas de segurança pública há pelo menos 20 anos, com resultados expressivos já alcançados em cidades como Diadema e Praia Grande. "São Paulo é o estado que tem obtido os melhores resultados na redução da violência", afirmou.

UPP é exemplo de política bem-sucedida

No caso do Rio de Janeiro, uma das iniciativas de combate à violência com resultados mais concretos é a instalação das unidades de polícia pacificadora (UPPs) em favelas dominadas pelo tráfico de drogas. Rodrigo Pimentel citou como exemplo a Cidade de Deus, que tem 65 mil habitantes e registrava 14 homicídios por mês. Desde a instalação de uma UPP nessa favela, há 16 meses, nenhum jovem foi assassinado.

De acordo com Pimentel, a pacificação propicia o início de um círculo virtuoso nas comunidades. Com essas unidades, a polícia prende traficantes e reduz o número de homicídios, o que estimula a abertura de empresas e a geração de empregos nas favelas, segundo o expositor. Nas favelas pacificadas, o índice de furto de energia é de 1%, contra a média de 27% do Estado do Rio de Janeiro.

A estratégia de pacificação partiu de uma constatação simples: de que não adiantava realizar incursões policiais para apreender armas e drogas. Segundo Pimentel, as apreensões de drogas não eram suficientes para inibir o consumo, e a apreensão de armas se demonstrava inútil, uma vez que elas continuavam entrando no País de forma ilegal. "Com as UPPs, as autoridades entenderam que os bandidos brigavam por território", explicou.

Os bons resultados alcançados com a política das UPPs podem ser ameaçados pela corrupção da polícia, na opinião de Rodrigo Pimentel. Ele alertou para o risco de se entregar as favelas pacificadas para milícias comandadas por policiais, assim como mostrado no filme Tropa de Elite 2. "O inimigo do Rio de Janeiro não está mais na favela, está dentro do aparato policial", defendeu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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