Greve dos médicos residentes deve acabar nesta
semana
A possibilidade do fim da greve dos médicos
residentes no Brasil ainda nesta semana foi sinalizada por
representantes da categoria que participaram nesta quarta-feira
(15/9/10) de audiência pública da Comissão de Saúde da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais.
Segundo eles, deverá ser feita uma proposta de 22%
de reajuste no valor da bolsa, o que deve ser aceito pelos
grevistas. Entretanto, os residentes destacaram que o movimento vai
continuar, pois o objetivo não é apenas o reajuste, mas a
valorização da categoria. Nesse sentido, foi apresentado
requerimento para realização na ALMG de um fórum para discutir as
condições de trabalho e de formação dos médicos residentes. A
audiência foi requerida pelo presidente da comissão, deputado Carlos
Mosconi (PSDB).
O 1º secretário da Associação Mineira de Médicos
Residentes (Amimer), Victor Fernando Soares Lima, afirmou que nos
próximos dias deverá ser formalizada pelo governo federal uma
proposta de 22% de reajuste. Ele afirmou que, em Minas Gerais, já
existe a indicação de que a categoria aceitará, mas com ressalvas.
"Não podemos nos contentar apenas com esse reajuste, é preciso
trabalhar pela revisão da lei que regulamenta a residência médica no
Brasil, pela valorização do profissional", considerou.
O vice-presidente da Amimer, Lorenzo de Morais
Tomé, explicou que o movimento não é uma luta apenas por salário,
mas pela implantação de uma política voltada para a garantia de
melhores condições para a formação e o trabalho desses
profissionais. Ele lembrou que hoje existem 22 mil médicos
residentes no Brasil e 2.700 em Minas, sendo que a residência cumpre
no país o papel de formação dos médicos em especialistas para que se
tornem cardiologistas, ortopedistas, pediatras, entre outros.
Lorenzo Tomé solicitou o apoio da ALMG para a
realização de um fórum estadual sobre a residência médica, para
discutir a formação do médico especialista em Minas Gerais e também
para a implantação de um grupo de trabalho nacional que discutirá as
questões ligadas à categoria. Segundo ele, os residentes estão em
greve em Minas há 29 dias. No início do movimento, a categoria
reivindicou inicialmente reajuste de 38,7% na bolsa-auxílio, que
hoje é de R$ 1.916,45, além de auxílio-moradia, auxílio-alimentação
e extensão da licença-maternidade para seis meses.
Recomposição - Ele
explicou que o valor da bolsa recebida pelos residentes não é
reajustada há quatro anos. "Não estamos pedindo reajuste, mas
recomposição salarial". Lorenzo Tomé ainda destacou que os outros
direitos reivindicados já foram conquistados por outras categorias
profissionais. Ele ainda afirmou que em muitos hospitais não é
cumprida a jornada máxima de 60 horas estabelecida pela legislação.
Fhemig apoia movimento dos residentes
O vice-presidente da Fundação Hospitalar do Estado
de Minas Gerais (Fhemig), Christiano Canêdo, afirmou que o governo
do Estado apoia o movimento dos residentes. Ele explicou que a
Fhemig além de prestar a assistência médica pelo SUS em Minas
Gerais, cumpre a função de ensino, através, especialmente, das
residências médicas. Segundo ele, no caso da Fhemig, as bolsas dos
residentes são todas pagas pela instituição, que não recebe
contribuição do governo federal, sendo que neste ano mais de R$ 9
milhões foram destinados para o pagamento desses profissionais.
Christiano Canêdo afirmou que o movimento dos
residentes trouxe no cenário nacional o importante debate sobre a
valorização do profissional e a melhoria da residência médica no
Brasil. ´É preciso ampliar as vagas para residentes, mas essa
ampliação só pode acontecer com um aumento dos recursos destinados
ao pagamento das bolsas", explicou. Segundo ele, graças ao movimento
dos residentes, os Ministérios da Educação e da Saúde estão
procurando soluções para modificar a forma de financiamento das
bolsas, propiciando também um aumento no número de vagas.
Por fim, ele defendeu também a ampliação da
interiorização da residência médica em Minas. Segundo ele, a Fhemig
já está abrindo novas vagas em residência médica no interior do
Estado. "Mas é preciso ampliar ainda mais essas vagas no interior",
afirmou. De acordo com Christiano Canêdo, para o próximo ano, já
está previsto um aumento dos recursos no orçamento estadual para o
pagamento das bolsas dos residentes, que deverá passar dos R$ 10
milhões.
Deputados querem realização de fórum sobre
condições dos residentes
Durante a reunião, foi apresentado um requerimento
pelos deputados presentes, com o objetivo de realizar um fórum na
ALMG para debater as condições de trabalho e ensino dos médicos
residentes.
O deputado Doutor Rinaldo Valério (PSL) afirmou que
o fórum será um espaço importante para discutir as condições dos
residentes em Minas Gerais e para fortalecer o movimento
nacionalmente.
O deputado Neider Moreira (PPS) defendeu a criação
de uma política pública voltada para o médico residente e para a
importância do seu trabalho na saúde pública brasileira. Ele
ressaltou que a discussão não é só salarial, mas está ligada a
condições para a formação do profissional. "Se pararmos com a
residência médica, todos os hospitais públicos do país param junto",
destacou.
Já o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) lembrou a
gravidade da situação dos residentes hoje no Brasil, que funcionam
como uma mão-de-obra barata e que, em muitos casos, substituem o
profissional já qualificado. "Essa situação é inaceitável. Não
podemos admitir que quem é contratado para aprender substitua o
profissional que deve ensinar".
Adelmo Carneiro Leão defendeu ainda a
regulamentação da Emenda Constitucional n° 29, que define os
investimentos na área da saúde pública, o que pode contribuir para
melhorar as condições dos residentes.
O deputado Doutor Ronaldo (PDT) também falou sobre
a atual desvalorização dos profissionais da área, em especial dos
residentes, e apoiou as reivindicações dos grevistas.
Presenças - Deputados
Adelmo Carneiro Leão (PT), Doutor Rinaldo Valério (PSL), Doutor
Ronaldo (PDT) e Neider Moreira (PPS). Além dos convidados citados
também participou da reunião o vice-presidente da Associação dos
Médicos Residentes do Hospital das Clínicas, Fernando Meira de
Faria.
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