Polícia rebate críticas a investigação de crimes sexuais em
Contagem
Representantes da Polícia Civil rebateram, nesta
terça-feira (31/8/10), em reunião da Comissão de Segurança Pública
da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, críticas ao trabalho da
corporação na investigação de crimes contra mulheres em Contagem
(Região Metropolitana de Belo Horizonte).
A polêmica gira em torno da prisão de Thiago Sidney
da Silva, acusado de um estupro e outras duas tentativas de estupro
no bairro Industrial. Ele chegou a ser levado à delegacia após ser
pego em uma blitz de trânsito, mas foi liberado por falta de provas.
Ele fugiu para Divinópolis (Centro-Oeste do Estado) e acabou preso
cinco dias depois, quando a polícia conseguiu um mandado de
prisão.
O crime de estupro foi cometido no dia 3 de junho,
e as duas tentativas ocorreram nos dias 12 e 18 de agosto. Os crimes
ocorreram à noite, de maneira semelhante: o autor abordava as
vítimas em seu carro e usava de força física para submetê-las. Uma
das vítimas relatou ter sido obrigada a aspirar uma substância que a
deixou desacordada.
Um mês após o primeiro crime, ainda não havia sido
feito um retrato falado do criminoso, segundo Geraldo Nelson Santos.
Ele é primo de Edna Cordeiro, uma das mulheres assassinadas por
Marcos Trigueiro, que ficou conhecido como o "maníaco do
Industrial", e acompanhou as investigações do caso a pedido dos
familiares.
Os vizinhos do bairro começaram a vigiar os carros
iguais aos do suspeito do crime, um Gol prata. De acordo com Geraldo
Santos, uma vítima menor de idade reagiu à tentativa de estupro e
conseguiu escapar. Os pais da menina, ao ligar para o telefone 190,
ouviram dos atendentes que a Polícia Militar não podia fazer nada,
segundo Geraldo Santos.
Blitz - No dia 23 de agosto, Thiago Sidney da
Silva foi preso após parar em uma blitz de trânsito com a carteira
de habilitação vencida. Ele foi identificado pelas vítimas no
próprio local e levado ao 1o DP de Contagem. Mas o
delegado de plantão o liberou porque ele não tinha antecedentes
criminais, não havia flagrante e o reconhecimento das vítimas foi
informal. "Se o delegado o prendesse sem provas, poderia incorrer em
abuso de autoridade", justificou a chefe do 2o DP de Contagem, Vânia Godói.
Na última sexta-feira (27), finalmente foi expedido
o mandado de prisão e o suspeito foi preso no dia seguinte, em
Divinópolis, sem oferecer resistência. Segundo a delegada Maria da
Conceição Sampaio, da Delegacia de Mulheres de Contagem, falta ouvir
o suspeito para saber se ele autoriza a coleta de material genético
para exame de DNA. A delegada, que preside o inquérito, também
aguarda laudo sobre substância química e sobre material genético
encontrados no carro do suspeito. Ele está preso no Ceresp de
Contagem e pode ser condenado a até 12 anos de prisão.
Familiares relatam drama
Parentes das vítimas de Thiago Sidney da Silva
falaram sobre o drama das mulheres atacadas. A primeira vítima, uma
estudante de Enfermagem de 20 anos de idade, não consegue mais sair
de casa, segundo seu irmão, Erimar Eustáquio de Souza. Apesar de
tudo, Erimar disse não ter ódio do suspeito do crime. "Pensei nos
pais dele e pedi a Deus que justiça seja feita com o maior rigor
possível", contou.
Os deputados presentes à reunião manifestaram
solidariedade com os familiares das vítimas e destacaram a
importância do trabalho da polícia. O deputado Carlin Moura (PCdoB)
criticou o déficit de policiais civis e a qualidade do atendimento
pelo telefone 190. "O serviço de atendimento telefônico da Polícia
Militar foi terceirizado, é operado por pessoas despreparadas",
acusou.
Para o presidente da comissão, deputado João Leite
(PSDB), que solicitou a reunião, a Polícia Civil é heroica, por,
segundo ele, ter assumido a responsabilidade pela investigação de
crimes como tráfico de drogas e roubo de cargas, de responsabilidade
da Polícia Federal. A vice-presidente da comissão, deputada Maria
Tereza Lara (PT), co-autora do requerimento da reunião, defendeu a
realização de curso de treinamento para os atendentes do 190.
Requerimento com essa finalidade deve ser votado na
próxima reunião da comissão. Também deve ser votado requerimento
para a elaboração de cartilha de orientação sobre a violência contra
as mulheres. A publicação deve ter informações sobre cuidados
básicos de segurança, endereços de delegacias especializadas e
também sobre a importância das denúncias de violência
doméstica.
Presenças - Deputado João
Leite (PSDB), presidente; deputada Maria Tereza Lara (PT), vice; e
deputados Tenente Lúcio (PDT), Sargento Rodrigues (PDT), Carlin
Moura (PCdoB) e Adelmo Carneiro Leão (PT). Também participaram da
reunião o delegado regional de Contagem, Leonardo Dias; o inspetor
de polícia Valter Ferreira Passos; Lésia Aparecida Souza e Roseli
Isabel Ernesto, parentes das supostas vítimas de Thiago Sidney da
Silva.
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